A música anime conquistou definitivamente a geração mais jovem. Dados revelados pelo Spotify à BBC mostram que quase 70% do consumo mundial de música anime é feito por ouvintes com menos de 29 anos, confirmando o poder desta indústria junto das audiências mais novas.
Os números impressionam: desde 2021, as reproduções de música anime no Spotify dispararam 395% a nível global, com os utilizadores a criarem mais de 7,2 milhões de playlists dedicadas ao género. Este crescimento exponencial reflete não apenas a popularidade crescente do anime, mas também como as bandas sonoras se tornaram numa porta de entrada para a música japonesa no mercado internacional.
O fenómeno não se limita às plataformas de streaming. Temas de abertura e encerramento de anime, especialmente aqueles com refrões marcantes ou coreografias pensadas para se tornarem virais, acumulam regularmente milhões de visualizações nas redes sociais. Um exemplo perfeito é “Idol” dos YOASOBI, que integrou recentemente a lista das 500 músicas mais ouvidas de sempre no Apple Music e se tornou apenas a quinta canção na história moderna a liderar consecutivamente o ranking de royalties da JASRAC, a maior organização de gestão de direitos de autor do Japão.
Este sucesso não passou despercebido à indústria. Manabu Otsuka, CEO do estúdio MAPPA (responsável por sucessos como Jujutsu Kaisen, Chainsaw Man e Attack on Titan: The Final Season), revelou recentemente a formação da nova editora MAPPA RECORDS. A estratégia passa por adaptar os animes à música encomendada, incluindo revisões de storyboards e adição de cenas específicas.
“A música será considerada desde a fase de planeamento do anime, bem como espetáculos ao vivo que utilizem a propriedade intelectual“, explicou Otsuka, mostrando como a indústria está a repensar a integração entre música e animação.
Para o Japão, tradicionalmente focado no mercado doméstico, a música anime representa uma das principais vias de expansão global da sua indústria musical. Contudo, nem todos veem esta tendência com otimismo total. Takuya Chigira, manager da popular cantora Ado, alertou anteriormente este ano para os potenciais riscos desta estratégia de internacionalização.
Apesar das reservas, o crescimento parece imparável. O fácil acesso ao anime através de serviços de subscrição, combinado com a capacidade única do género para ressoar com audiências jovens, continua a abrir portas para que fãs internacionais descubram e se apaixonem pela música japonesa.
Com estúdios como o MAPPA (Jujutsu Kaisen, The God of High School, Dororo, Dorohedoro) a apostarem fortemente na sinergia entre música e animação, e com artistas como os YOASOBI a provarem que é possível conquistar simultaneamente o mercado doméstico e internacional, a música anime parece destinada a manter-se como uma força dominante no panorama musical global dos próximos anos.