
O entusiasmo da indústria japonesa de videojogos pelos jogos blockchain e NFT está a desvanecer-se rapidamente. Nos últimos meses, vários títulos de peso anunciaram o encerramento dos servidores, incluindo Tokyo Beast da gumi, KAI Sangokushi Taisen publicado pela Sega e Captain Tsubasa: Rivals. A tendência que parecia promissora há poucos anos revela agora as suas fissuras mais profundas.
A Sega, uma das editoras que apostou neste modelo, já admitiu publicamente ter perdido o interesse em jogos blockchain desde 2023. A empresa decidiu arquivar todos os projetos desenvolvidos internamente nesta área, um sinal claro de que até os grandes players reconhecem os problemas estruturais deste segmento.
A complexidade é um dos principais obstáculos. Desenvolver e operar jogos baseados em blockchain exige conhecimentos técnicos muito específicos que as equipas tradicionais de desenvolvimento não dominam necessariamente. Os custos operacionais únicos deste tipo de projetos tornam extremamente difícil alcançar receitas estáveis, segundo uma análise da Sumaholife.
Do lado dos jogadores, a barreira de entrada também é elevada. Começar a jogar não é tão simples como descarregar uma aplicação. É necessário abrir conta numa exchange de criptomoedas e criar uma carteira digital, conceitos completamente alheios ao jogador casual. Este requisito limita drasticamente o público potencial, criando um nicho extremamente reduzido.
O problema agrava-se quando se analisa o modelo económico subjacente. Os jogos play-to-earn recompensam o tempo de jogo com tokens nativos ou itens NFT que podem ser trocados por dinheiro real. Parece atrativo à primeira vista, mas há um pormenor crucial: os ganhos dos jogadores existentes dependem do dinheiro que entra através de novos jogadores.
“Acaba por funcionar como um esquema Ponzi”, observa a Sumaholife. Quando o crescimento da base de jogadores estagna, o preço dos tokens cai e toda a economia interna colapsa. Os jogadores veteranos apercebem-se de que os seus rendimentos diminuem e também acabam por abandonar o jogo, acelerando o declínio.
A volatilidade do mercado de criptomoedas adiciona outra camada de instabilidade a um modelo já frágil. Flutuações bruscas podem destruir economias de jogo da noite para o dia, deixando tanto criadores como jogadores em maus lençóis.
É curioso notar que, no Japão, estes jogos receberam uma cobertura mediática relativamente generosa por parte dos meios especializados em videojogos. Contrasta fortemente com o tratamento dado pela imprensa ocidental, onde a distinção entre jogos tradicionais e “coisas de blockchain” sempre foi muito mais vincada, com um ceticismo claramente maior em relação a estes projetos.
Grandes editoras como a Square Enix e a Konami também tinham mergulhado nesta onda há alguns anos. Resta saber se seguirão o caminho da Sega ou tentarão encontrar formas de tornar este modelo viável. Por agora, os sinais apontam para uma tendência em declínio acentuado.









