Depois dos remasters de We Love Katamari Reroll e Tales of Symphonia, a Bandai Namco Entertainment regressa com o lançamento de uma das intemporais séries clássicas da GameCube, Baten Kaitos. Este RPG japonês desenvolvido no passado pela equipa da Monolith Soft em colaboração com a Tri-Crescendo chega à Nintendo Switch num formato HD, apresentando as obras Baten Kaitos: Eternal Wings and the Lost Ocean (2003) e a prequela Baten Kaitos Origins (2006).

Faz mil anos que a Guerra dos Deuses aconteceu em Baten Kaitos, levando à devastação do seu mundo por um antigo deus da destruição, Malpercio, selado por seres espirituais com o poder de uma tecnologia chamada Magna. O que restou da humanidade foi capaz de procurar uma nova vida nos céus, longe daquela terra envenenada. Baten Kaitos acontece precisamente neste novo cenário folclórico regido por magia e tecnologia, formado por um arquipélago flutuante sobre um vasto oceano onde habita a atual civilização, capaz de projetar asas mágicas nas suas costas, as Wings of the Heart.

Baten Kaitos: Eternal Wings and the Lost Ocean – Kalas e Xelha

Durante Baten Kaitos: Eternal Wings and the Lost Ocean, vivenciamos a história de Kalas, o protagonista desta jornada que jura vingança contra um homem do Império que assassinou a sua família. Pelo caminho, ao juntar-se a novos parceiros como a jovem Xelhas, Gibari e Lyude, Kalas descobre que o império, governador das cinco nações, pretende capturar as End Magnus com o objetivo de despertar o poder destrutivo de Malpercio.

Já em Baten Kaitos Origins, somos transportados para 20 anos antes dos acontecimentos do primeiro jogo. Nesta jornada, seguimos a história de Sagi, um soldado de elite das forças especiais do Império Alfard que se vê incriminado por um crime que não cometeu, acabando por se tornar num fugitivo com o propósito de provar a sua inocência.

Baten Kaitos I & II HD Remaster apresenta vozes em japonês, mas exclui as vozes em inglês.

Apesar da franquia ter ficado esquecida durante um longo tempo, ficou marcada pela construção do seu mundo, história e pelo seu elenco distinto e cativante. Ambos os jogos ao longo da campanha conseguem explorar com tato os seus personagens e as razões que os unem pelo seu mundo. Fora alguns momentos um pouco cliché, vai gradualmente ficando mais interessante testemunhar a expansão da narrativa, o florescimento da amizade entre os personagens, o aprofundar da mitologia e política em ambos os Baten Kaitos, as razões de Kalas ter uma asa mecânica ou até as origens de Sagi e a sua ligação com o mundo dos sonhos. Da mesma forma, os antagonistas também têm uma prestação bastante notável com os seus planos e ambições a ocupar parte das inesperadas reviravoltas que acontecem ao longo da história.

Baten Kaitos Origins – Sagi antes da sua vida mudar por completo

O que é igualmente especial é a ligação entre o jogador com os spiriters Kalas e Sagi. Em Baten Kaitos I & II HD Remaster, para além de controlarmos os movimentos e ações dos personagens, também assumimos o papel de um espírito guardião, o conselheiro e ouvinte dos dois heróis. Mesmo que as nossas escolhas tragam só vantagens para as batalhas, aprecio esta decisão dos estúdios ao colocar o jogador no campo narrativo como um personagem em si. Desta maneira, com o progresso da narrativa, sentimos que aos poucos vamos desenvolvendo vínculos com as personagens e com os acontecimentos deste mundo.

Aproveito para falar do sistema Magnus, uma importante tecnologia do universo deste título que absorve a essência dos elementos físicos que fazem parte do cenário para dentro de cartas, que para além de estarem ligadas às resoluções das missões secundárias, é a partir delas que conseguimos enfrentar os inimigos. Durante os embates, teremos à disposição um baralho de cartas que se distinguem por tipo de ataque, defesa, elementares e de itens (cura, curar status, provocar status etc). Cada carta é invocada de acordo com as habilidades dos personagem, tendo como exemplo Kalas que manipula principalmente espadas e adagas, enquanto Xelha tem uma maior afinidade com magia elementar (fogo, água, escuridão, luz…)

Contudo, existem disparidades em ambos os jogos quando estamos em combate. Começamos por Baten Kaitos: Eternal Wings and the Lost Ocean, onde cada personagem tem o seu próprio deck, cartas únicas e habilidades especiais, com conceitos desafiantes que nos levam a adaptar regularmente o nosso deck conforme as necessidades e a escolher com prudência a combinação certa de cartas para aumentar o dano caso consigamos entender como funciona o sistema de combos straights e pairs.

Por outro lado, Baten Kaitos Origins, deixa de lado algumas destas regras, simplificando a fórmula do seu antecessor. Em vez de termos um deck para cada personagem, existe apenas um deck partilhado em batalha. Acreditem ou não, esta mudança acrescenta um lado mais estratégico e dinâmico aos combates. Uma vez que temos três personagens em campo e cada um com as suas próprias cartas, precisamos de observar rapidamente as cartas que nos saem aleatoriamente a cada turno antes que o tempo se esgote. As novidades aqui ainda englobam as mecânicas EX Combos que conforme as cartas magnus combinadas produzem um combo especial e os Relay Attacks que desencadeiam um ataque feroz em grupo.

Baten Kaitos é uma expressão de origem árabe que significa “O ventre do monstro marinho”.

Baten Kaitos pode considerar-se um RPG por turnos da velha guarda que estava à frente do seu tempo. O seu sistema de combate intrincado faz parte do ADN criativo do estúdio da Monolith Soft, sempre com parte da sua gratificação a passar pela aprendizagem e domínio do mesmo. À vista disto, esperem partidas intensas, principalmente contra os chefes, onde cada derrota vai fazer com que modifiquem o deck vezes sem conta e a conhecer assim melhor os oponentes.

As novidades em Baten Kaitos I & II HD Remaster passam essencialmente pela integração das “Quality of life” na sua estrutura. No menu de pausa, os jogadores vão encontrar alternativas que conseguem suavizar a jogabilidade, como a possibilidade de anular encontros aleatórios, aumentar a velocidade do combate ou eliminar os oponentes com um único ataque. Para além disto, foi adicionado o auto-save, a possibilidade de ativar os combates automáticos e um botão para saltar as cutscenes que não estavam presentes nas versões originais da GameCube. No entanto, escolhas como aumentar a velocidade do combate nem sempre têm o melhor efeito, tornando as partidas um tanto mais perigosas e um pouco confusas, considerando que o tempo que temos para combinar as cartas acaba rapidamente.

Baten Kaitos I & II HD Remaster fascina desde início por causa da sua componente visual e direção artística. A transição para o HD acaba por enaltecer os seus ambientes oníricos e coloridos que já encantavam no passado, apresentando não só melhorias na qualidade gráfica como ainda na interface dos seus menus. É com certeza um jogo que continua a destacar-se dentro do seu género, sobretudo quando temos um mundo criativo como este acompanhado da banda sonora do compositor Motoi Sakuraba (Star Ocean, Tales of, Valkyrie Profile e entre outros).

A jornada de Kalas em Eternal Wings and the Lost Ocean e de Sagi em Origins recebe uma nova luz com as melhorias gráficas implementadas neste remaster. Independentemente disso, a narrativa e as temáticas visuais abordadas neste mundo são mais que suficientes para captar a nossa atenção até ao fim. Acredito que para alguns jogadores o sistema de combate poderá não atrair devido à sua complexidade desafiante. A Bandai Namco Entertainment prova com o lançamento de Baten Kaitos I & II Remaster que existem ainda tesouros que se podem trazer do passado para a atualidade.

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