Quando BLEACH foi serializado na Shonen Jump em 1999 rapidamente se tornou num dos “Três Grandes”, ao lado de One Piece e Naruto. No entanto, BLEACH ficou fora do estrelato por muito tempo, por o anime terminar em 2012, quando a série já estava quase a alcançar o mangá original de Tite Kubo. Este também pode ser um dos motivos pelos quais o último jogo exclusivo para consolas, BLEACH: Soul Resurrección, foi lançado para a PlayStation 3 em 2011. Porém, por incrível que pareça, este foi um musou e apesar de existirem 7 jogos de luta para a PlayStation Portable, um arena fighter para a PlayStation 2 e outro jogo para Nintendo Wii nunca senti que a série tivesse um jogo digno da sua dimensão e destaque.
Embora Ichigo e todas as suas inúmeras formas tenham depois surgido em jogos, tais como Jump Force, ou Jump Ultimate SuperStars, o verdadeiro ressuscitar de BLEACH aconteceu em 2022 com a adaptação animada do arco final, Thousand-Year Blood War. Para aproveitar o sucesso renovado da série, a Bandai Namco Entertainment e a Tamsoft lançaram o jogo BLEACH Rebirth of Souls.
Este apenas apresenta três modos no menu principal, história, combates offline (treino, versus e missões) e batalhas online. Além disso, existe um tutorial, uma loja de itens e uma secção de extras, onde é possível assistir a sequências do jogo, ouvir a banda sonora, consultar o glossário e muito mais. Este foi o meu primeiro senão com o jogo porque existem apenas três modos de jogo e para uma série como BLEACH julgo serem bem poucos. Contudo, o modo história é bem elaborado, conta com cutscenes com o motor de jogo sem os tradicionais slideshows e reúne os momentos mais importantes dos arcos canónicos do inicio até ao episódio 309 do anime e é dividido em duas partes. História principal que cobre os acontecimentos desde o início de BLEACH até à batalha de Ichigo contra Aizen na Cidade Falsa de Karakura e A História secreta onde descobrimos com mais detalhe momentos que apenas foram referidos na série.
A estrutura do modo história segue o modelo clássico, ou seja, cada arco possui episódios compostos por cutscenes e avança através da conquista de batalhas. Cumprir objetivos específicos garante melhores recompensas, mas, fora isso, julgo que não existem incentivos para revisitar o modo história, a não ser para refrescar a memória antes dos jogadores assistirem o anime Thousand-Year Old War, porque este jogo é um mecanismo muito bom para revisitar ou até conhecer a história base de BLEACH. Além do modo de história, o outro modo single player que se destaca é o modo de Missões, que consiste numa série de batalhas progressivamente mais difíceis.
Claro que o grande aliciante do jogo reside nos combates e o sistema do jogo permite apenas “ações decisivas com um movimento especial” o que garante que cada combate termine de uma maneira épica, bem característica do material original. Por exemplo, se estivermos a jogar com o Byakuya, o ideal é finalizar a luta com o seu bankai, o icónico, e mortal, Senbonzakura Kageyoshi.
A dinâmica de batalha segue o padrão de um jogo de luta. No entanto, existe uma grande diferença, na verdade duas, as Souls e as Soul Destruction. O jogo introduz o conceito de Souls, ou o conceito de vidas como Yoroichi disse ao Ichigo no tutorial do jogo, e a vitória não acontece apenas ao esgotar a vitalidade do adversário, é preciso destruir todas as suas Souls disponíveis. Quando a barra de vitalidade do oponente atinge um nível crítico, surge a oportunidade de executar um golpe especial chamado “Kon-Kiwaza”, que reduz o número de Souls restantes.
À semelhança da série Dissidia Final Fantasy, a mecânica básica de batalha envolve desgastar gradualmente a resistência do inimigo com ataques normais e técnicas especiais, para finalizá-lo com um golpe poderoso. Isto significa que as lutas raramente terminam de forma anticlimática. O jogo garante que a vitória seja sempre acompanhada de uma finalização impactante para proporcionar uma experiência catártica com elementos dramáticos, tais como a destruição de objetos no cenário para tornar as batalhas ainda mais cinematográficas.
A barra longa em baixo do ícone da personagem representa a resistência (Reiatsu “pressão espiritual”). Se a barra do jogador estiver cheia e a do seu adversário estiver vermelha, significa que este está em clara desvantagem. Quando uma personagem permanece em estado crítico e consegue derrubar o oponente surge um incrível efeito visual que permite que o jogador recorra a uma Técnica de Destruição de Almas e destrua uma reserva do seu Konpaku, isto se apertar o botão R2.
Por exemplo, uma das técnicas de Rukia Kuchiki, “Primeira Dança: Gesshiro”, congela o adversário num imenso pilar de gelo. Cada personagem possui várias técnicas de destruição de almas, e algumas podem reduzir drasticamente a vitalidade do seu adversário para tornar as lutas sempre dinâmicas.
Para mudar o rumo da batalha, os jogadores também podem recorrer a um “medidor de moral de luta”, que se preenche com ataques realizados e recebidos. Quando atinge o máximo, a personagem pode invocar o seu bankai ou Resurrección para receber movimentos renovados e habilidades devastadoras, tais como trocar o número de Souls destruídas por técnicas de destruição de almas. Em termos simples: se o jogador estiver em apuros, pode utilizar o seu bankai para reverter a situação. Para personagens sem bankai ou Resurrección, o jogo oferece formas alternativas de despertar o seu potencial. No caso de Yoruichi, por exemplo, acede ao Shunkan, onde a sua velocidade aumenta dramaticamente.
Já Ichigo, o protagonista, incorpora sua a forma Hollow de uma forma impressionante. Durante a “Ação Reversa”, que consome um medidor especial, aumenta o seu número de Souls e recorre a novas técnicas de destruição de almas, além disso, a sua voz também fica hollowficada. Mas não é só no jovem com cabelos laranja que assistimos a estes detalhes, o mesmo acontece com o restante elenco de personagens. Yoruichi, quando luta com o Shunpo as suas vestes mudam, se adquiriram a “Ultimate Edition” do jogo podem lutar com a mentora de Ichigo com o seu visual ainda mais ousado de Thousand-Year Old War, e Ichimaru Gin utiliza a sua Zanpakuto, Shinyari, famosa pela sua capacidade de se estender em combate que também permanece com um tamanho absurdo.
Um dos casos mais interessantes é o de Byakuya Kuchiki, a sua Zanpakuto, Senbonzakura, não possui uma zona de ataque pré-estabelecida, um detalhe incrivelmente fiel ao mangá original, mas quando é libertada o nobre Shinigami domina o combate à distância, mas só se o adversário se aproximar já que Byakuya fica vulnerável a curtas distâncias. Para compensar, pode alternar entre sua a forma Shikai e o uso da espada em curta distância a qualquer momento neste estado.
O “despertar” das personagens também varia. Ulquiorra, por exemplo, possui dois estágios de Resurrección, que incluem a sua segunda forma exclusiva nos Espada. Nesta forma, o seu combate a média e longas distâncias torna-se ainda mais mortal, especialmente com sua a técnica “Cero Oscurus” que envia um Cero ao seu adversário que cobre grande parte do ecrã, um deleite para os zoners.
Outras personagens também possuem mecânicas próprias como por exemplo, Hitsugaya que possui um medidor especial chamado “Tensou Jourin” e Rukia pode utilizar diversas técnicas de Kido. A variedade de estilos de luta é tão notável, vasta e única que o difícil é não encontrar uma personagem que se enquadre no perfil do jogador quer seja pela estética ou modos operandi, no meu caso as minhas personagens de eleição foram Hitsugaya e Yoruichi, simplesmente porque Hyourinmaru é o meu bankai favorito e Yoruichi enquadra-se num estilo de luta rápido e bastante técnico.
A individualidade das personagens é um dos pontos mais marcantes de BLEACH, e este jogo fielmente reproduz este elemento. Atualmente o jogo base conta com 31 personagens jogáveis com mais algumas a chegar através da Season Pass. Infelizmente as personagens de Thousand-Year Old War não se encontram no jogo e apenas algumas personagens podem recorrer ao seu aspecto visual se fizeram a pré-reserva ou aderiram à Season Pass, mas desconfio que esta última possa retificar este problema.
O sistema de batalha combina ataques normais, esquivas, defesa, técnicas especiais e um esquema estratégico de pedra-papel-tesoura para criar um sistema de jogo incrivelmente semelhante ao espírito e conceitos base de BLEACH. Os controlos são acessíveis e são baseados em botões simples com simples comandos direcionais para permitir que até iniciantes realizem ataques poderosos. Para jogadores experientes, também existe um modo avançado para oferecer uma maior profundidade e controlo em combos e técnicas especiais. O jogo também conta com sistema de personalização, mas é extremamente básico porque apenas permite equipar talismãs e cristais de alma para modificar alguns atributos nas personagens.
BLEACH é uma série que também se destacou pela sua moda e uma sonoplastia “funky” anos 70, e BLEACH Rebirth of Souls felizmente também resgata as mesmas temáticas audiovisuais. Elementos, tais como letras animadas no ecrã durante os combates, efeitos gráficos estilizados, e um ecrã de seleção de personagens impactante são elementos que fazem jus a esta afirmação. Acreditem que inicialmente, encarei este jogo com algum ceticismo, mas fui surpreendido pela sua autenticidade e qualidade técnica. Também posso afirmar que todos os problemas no seu lançamento foram corrigidos e o jogo foi desfrutado na nossa build sem inconvenientes com taxas de FPS desbloqueadas e com as suas diminutas opções gráficas ao máximo a 4K. Para os mais preocupados o jogo tem suporte a textos em português do brasil e áudio com os seiyuu da série anime.
BLEACH Rebirth of Souls é uma lufada de ar fresco num mar de tantos outros jogos baseados em licenças de anime. A maioria tende a priorizar o fanservice e deixar de lado a profundidade da gameplay. Felizmente com BLEACH Rebirth of SOULS esse não foi o caso, porque não só introduziu o tradicional fanservice comum em jogos deste género como também criou uma identidade muito própria ao produzir um sistema jogo incrivelmente simbiótico com o produto original. À semelhança de Dragon Ball Sparking ZERO! que é essencialmente um simulador de Dragon Ball Z. BLEACH Rebirth of Souls pode também ser comparado a um simulador de BLEACH e orgulhosamente sentir-se como um número um a brilhar com vigor no espectro dos arena fighters.