Vencedor da edição portuguesa da Playstation Talents 2020, Evil Below é um indie de sobrevivência survival horror, disponível para PC, PS5 e PS4. Desenvolvido pelo Fire Raven Studios, estúdio português de desenvolvimento de videojogos, fundado em setembro de 2020 por Fábio Barbosa e José Ortega.

É sempre espetacular ver uma criação portuguesa a ganhar prémios e a ser lançada como título jogável ao público, sendo que incita o desenvolvimento de mais videojogos a nível nacional e consequentemente ao desenvolvimento desse mercado no nosso país. Portanto, minto se disser que não peguei no jogo já com um grande sorriso na cara.

Evil Below conta-nos a história de uma mãe e de um filho que têm um acidente de viação causando com que a mãe, neste caso a personagem principal do jogo, entre numa espécie de limbo, onde a sua missão é a de resgatar o seu filho perdido.

O mundo em que se passa o jogo é basicamente constituído por 7 níveis diferentes, em que todos estão interligados através de passagens secretas e mecanismos escondidos.

O jogo não entrega para onde é o caminho, nem qual a rota que tens de tomar, tornando-se assim num mundo aberto mas limitado, dado que o mapa não é assim tão extenso. Não há um minimapa no canto da tela, nem uma bússola para te indicar direções, toda a tua jornada no jogo vai ter que ser feita a partir de um treino mental progressivo e da memória dos caminhos e atalhos já percorridos.

É interessante também salientar que para salvar o teu progresso no jogo, vais ter que encontrar uns altares que estão espalhados pelo mapa, portanto é bom ficar sempre de olho bem aberto, pois uma morte pode significar retroceder até ao último altar encontrado, tenha sido ele qual for.

O jogo dá-nos um objetivo principal, que não vou referir para não dar spoilers, e deixa o jogador à deriva nesse mundo, onde através de puzzles, combate, atalhos e bastante backtracking (voltar a sítios já visitados devido à abertura de novas passagens e mecanismos que nos vão permitir avançar no jogo), vamos progredindo e avançando na história. Portanto, há muitas possibilidades de caminhos a tomar e nenhuma gameplay vai ser igual.

Evil Below introduz também uma mecânica interessante que potencia o uso do microfone na resolução de puzzles e abertura de passagens, algo que me deixou bastante animado. Infelizmente senti que é algo que passa um pouco ao lado devido ao facto de o microfone só ser sensível ao som em si, não a palavras ou expressões, qualquer tipo de som ou ruído permite avançar nestes puzzles. Esta mecânica também pode ser desativada no menu, sendo que o jogo assume automaticamente a existência de som e permite avançar.

A nível gráfico e de arte posso dizer que o jogo é bonito, não é nada comparável a gráficos de nova geração mas sendo um estúdio recente e um jogo indie, que também é lançado para a geração passada, acho que cumpre os requisitos, os cenários são agradáveis, mas muitas vezes deram-me a sensação de estarem vazios, além de instigar ao meu vício de estar constantemente a partir caixas para ver se tem algum loot dentro. Na minha opinião, o principal objetivo é fazer-nos sentir parte daquele mundo, o que pela minha experiência, foi conseguido.

O mundo é imersivo e bastante alegórico criando uma certa imagem semelhante ao purgatório, a zona entre o paraíso e o inferno, onde existe zonas mais calmas e seguras enquanto outras são mais escuras, onde vagam monstros e criaturas infernais.

Falando nas criaturas, que são o principal inimigo em Evil Below, o seu design agradou-me muito, há muita diversidade de criaturas, umas mais pequenas e rápidas, outras mais lentas mas com capacidade de te matarem com um ataque. Os tipos de criaturas vão além de esqueletos, demónios, cavaleiros e outras coisas difíceis de descrever em palavras, mas sem sombra de dúvidas que te vão deixar aterrorizado em vários momentos do jogo, não só devido à sua aparência como à sua letalidade.

Uma coisa boa é que de facto te podes defender destas criaturas, ao contrário de outros jogos do mesmo género. Vais encontrando uma grande diversidade de armas ao longo do caminho, tanto armas de corpo a corpo como armas de fogo e de longo alcance.

O combate tem um sistema de stamina e parry, onde tens de ter a noção do momento exato para contra atacar o inimigo. Não é aconselhável correr como um doido para cima das criaturas de machado na mão, dado que a qualquer momento podem aparecer mais 2 ou 3, ficando o jogador completamente cercado e morrendo facilmente em poucos ataques. Podes também assumir uma abordagem mais furtiva onde passas pelos inimigos sem os alarmares e sem a necessidade de lutar.

Na minha experiência com o jogo, o combate acabou por se tornar algo um pouco cansativo e chato, a inteligência artificial dos inimigos não ajudava, pois muitas vezes estes ficavam presos em portas e escadas. Por vezes também senti um excesso de inimigos, principalmente nas zonas iniciais, o que tornava o jogo frustrante dado que tentavas lutar com um inimigo e de repente tinhas mais 3 ou 4 à tua volta e acabavas por morrer, portanto muitas vezes acabava por apenas fugir, o que acho que era uma das ideias dos desenvolvedores… Flashbacks dos meus amados jogos Soulsborne.

Existem alguns NPC’s no jogo que te vão dando dicas e ajudando em algumas partes do gameplay, como tutoriais e mecânicas de combate. A maioria tem um design interessante e que se encaixa naquele mundo macabro em que estamos inseridos.

Mas se houve um ponto a melhorar neste jogo foi o áudio e a sonoplastia no geral, a banda sonora, as vozes e efeitos especiais são fracos. Por exemplo, as falas dos personagens que encontramos ao longo do caminho parecem resultar de uma captação interna da equipa com um microfone banal ao invés de ser realizada e bem trabalhada num estúdio. Tudo isto faz com que a imersão seja um pouco perdida nestes momentos, dado que ao meu ver, o som é crucial no conteúdo audiovisual, estando a par do conteúdo gráfico e gameplay.

Fico triste em não ter opção de aúdio em Português, dado ser proveniente de um estúdio nacional, mas percebo que em termos globais talvez não compense o investimento.

A nível de performance, joguei Evil Below na PS4, o jogo rodou sem problemas e não senti nenhum tipo de quebras ou “soluços” na gameplay. Não há muitas opções de acessibilidade nem a nível gráfico, mas é normal para um jogo indie.

Evil Below é um bom jogo de estreia para um estúdio nacional recém-formado, possui muitos pontos positivos como a ambientação e história, mas ainda muito a melhorar a nível técnico, o que virá com a experiência e com o investimento feito no desenvolvimento de jogos futuros.

Para concluir, só queria dar os meus parabéns ao trabalho e esforço desta equipa de desenvolvimento e que continuem a evoluir para dar as cartadas necessárias rumo ao sucesso.

Prós:

  • História interessante;
  • Ambientação imersiva;
  • Diversidade de gameplay e estratégias;
  • Design de criaturas interessante;
  • Bom jogo para amantes de Soulsborne.

Contras:

  • Poucas opções gráficas e de acessibilidade;
  • Sem áudio em Português;
  • Má qualidade sonora;
  • Combate e puzzles, por vezes maçadores e repetitivos.

Review por Pedro Ferreira.

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