Criado por George Lucas e levado para o grande ecrã pela realização de Steven Spielberg, Indiana Jones tornou-se, desde o lançamento de Os Salteadores da Arca Perdida em 1981, num verdadeiro ícone da cultura pop até aos dias de hoje. Combinando o encanto dos filmes clássicos de aventura com um herói carismático e imperfeito, a série rapidamente ganhou um estatuto lendário, não só pelo ritmo cinematográfico, mas também pela forma como combina arqueologia, misticismo e ação com o humor.

Indiana Jones and the Great Circle está disponível para a Xbox Series, Xbox Game Pass e PC (Steam e Microsoft Store) e PlayStation 5.

Ao longo dos anos, a personagem protagonizada por Harrison Ford marcou o imaginário de milhões, sendo explorada também noutras vertentes, incluindo televisão, literatura e videojogos, ainda que raramente com o mesmo impacto dos filmes. A promessa de Indiana Jones and the Great Circle, desenvolvido pela MachineGames e publicado pela Bethesda, era precisamente essa: criar uma experiência jogável que respeitasse o legado dos filmes originais e trouxesse de volta o espírito das aventuras dirigidas por Spielberg, e felizmente, conseguiram cumprir com esse objetivo.

A narrativa é, desde os primeiros momentos, um dos grandes trunfos desta produção. Situando-se cronologicamente entre os filmes, Os Salteadores da Arca Perdida e A Última Cruzada, a história apresenta-nos um Indiana Jones experiente, ainda no auge da sua idade com aquele espírito irreverente tão característico. O enredo anda em torno da misteriosa teoria do “Grande Círculo”, um conceito antigo que sugere a existência de uma ligação geométrica entre vários locais sagrados e figuras ancestrais espalhados pelo mundo. Este conceito serve de base para uma aventura de grande escala, com uma forte componente exploratória, que nos leva a viajar por inúmeros ambientes emblemáticos, como o Vaticano, o Egipto e os Himalaias.

O início do jogo que nos remonta aos filmes.

O argumento impressiona pela sua solidez e coerência com o espírito dos filmes. Os diálogos são realmente envolventes, as personagens são carismáticas, e há um equilíbrio notável entre o humor, mistério arqueológico e a exploração. É particularmente recompensador acompanhar a forma como cada pista ou artefacto leva a uma nova descoberta, com segredos antigos a serem revelados em templos escondidos, ruínas esquecidas e cidades repletas de enigmas. Em vários momentos, senti que estava verdadeiramente a viver uma aventura de Indiana Jones, numa história original, que respeita o legado da saga ao mesmo tempo que expande o seu universo.

Também os aliados de Indy, bem como o principal antagonista, adicionam à narrativa momentos marcantes ao longo da jornada. No entanto, Indiana Jones é evidentemente o centro das atenções. Apesar de não ser interpretado por Harrison Ford, o protagonista foi recriado com um rigor impressionante. Os seus maneirismos, expressões faciais, postura corporal e até aquele tom sarcástico tão característico estão perfeitamente representados. A representação do personagem é tão convincente que, por vezes, é fácil esquecer que não estamos a ver o próprio Ford em acção.

Durante a aventura a emoção da exploração está muito presente. Temos de resolver puzzles, colecionar itens, artefatos, e ainda analisar as anotações no diário de Indy.

Parte deste realismo deve-se também ao talento de Troy Baker, um dos mais reconhecidos actores de voz da indústria dos videojogos, conhecido por emprestar a sua voz a Joel em The Last of Us, Sam Drake na série Uncharted e Higgs em Death Stranding. A sua interpretação aqui é excelente, captando com precisão o tom, a cadência e a personalidade de Indiana. O seu desempenho vocal não só presta homenagem ao legado deixado por Harrison Ford, como contribui decisivamente para que o jogador sinta que está, de facto, na pele do lendário arqueólogo.

Para descobrirem mais pormenores sobre a narrativa e a jogabilidade, convido-vos a ler a análise realizada no PC pelo meu colega, aqui.

O deserto de Gizé no Egipto.

Quanto ao grafismo, Indiana Jones and the Great Circle deixou-me dividido. Jogado na PlayStation 5, o jogo apresenta um trabalho sólido, ainda que com altos e baixos. Começando pelo melhor, a direção artística está impressionante: os cenários são variados, detalhados e apresentam uma forte identidade visual. Cada lugar visitado tem uma atmosfera distinta, como por exemplo florestas e desertos com vestígios de outrora, ruínas e templos sombrios iluminados por tochas e estruturas do regime nazi. É um título que, apesar de não deslumbrar tecnicamente ao nível dos grandes exclusivos da PlayStation, compensa com o seu estilo visual cativante que nos aproxima do universo clássico dos filmes.

Contudo, o que realmente deixa a desejar são as suas animações que normalmente parecem um pouco rígidas, especialmente na movimentação. Também as expressões faciais de algumas personagens secundárias ficam aquém, sendo muitas vezes incapazes de transmitir com clareza o tom emocional em diálogos ou em cutscenes. Existem ainda ambientes menos polidos, com texturas genéricas ou interiores visivelmente menos detalhados, que contrastam com a boa qualidade dos cenários principais. Ainda assim, o desempenho técnico é estável e fiável. O jogo corre de forma suave na consola, mantendo os 60 FPS de forma consistente, e beneficia de tempos de carregamento praticamente inexistentes, graças ao SSD da PlayStation 5.

Aquilo que não poderia faltar, naturalmente, é a forma como Indiana Jones and the Great Circle tira partido das qualidades do comando DualSense. O feedback háptico é usado de forma subtil, mas eficaz, reforçando a imersão tanto nas sequências de exploração como nas de acção. É possível sentir variações distintas de vibração ao caminhar sobre diferentes superfícies, ao accionar mecanismos ou ao manusear o chicote de Indy, que transmite uma leve resistência nos gatilhos adaptativos, dando uma sensação táctil mais envolvente.

As armas também beneficiam de um trabalho cuidado neste campo, com cada tipo a apresentar um comportamento próprio nos gatilhos. Por exemplo, as espingardas produzem um efeito de recuo mais forte e repentino, enquanto as metralhadoras oferecem um recuo mais leve, mas constante, acompanhando a cadência dos disparos. É um particularidade que, embora não revolucione a jogabilidade, acrescenta uma camada adicional de imersão que valoriza a experiência na PlayStation 5.

Os puzzles do jogo são acessíveis, embora alguns puxem pelo nosso raciocínio.

A banda sonora de Indiana Jones and the Great Circle é uma homenagem evidente ao legado musical de John Williams, o compositor das obras cinematográficas Jurassic Park, Star Wars, Indiana Jones, entre outros. Embora não seja composta directamente por ele, os temas orquestrais reproduzem na íntegra o espírito dos filmes, alternando entre músicas épicas e momentos mais contidos de tensão ou descoberta. Para nos sentirmos em casa, a MachineGames inclui também o tema principal de Indiana Jones a surgir em alturas-chave, pontuando momentos de heroísmo ou de viragem narrativa com grande impacto. O resultado é uma sonoridade familiar, somando assim mais uns pontos extra à sua qualidade em geral.

A banda sonora do jogo foi composta por Gordy Haab, um compositor norte-americano conhecido por trabalhar em vários jogos da Lucasfilm e da EA.

Indiana Jones and the Great Circle é uma surpresa realmente muito agradável e um verdadeiro tributo ao legado cinematográfico de Indiana Jones. Apesar de não ser tecnicamente impecável e de apresentar algumas limitações visuais na PlayStation 5, compensa com uma direcção artística inspirada, uma narrativa entusiasmante e um protagonista icónico recriado com um notável conhecimento e detalhe. A combinação entre exploração, mistério e as sequências de ação bem ritmadas torna a experiência especialmente gratificante, tornando-se um dos meus jogos de aventura preferidos da atualidade.

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