Gradualmente The Last of Us tornou-se numa das series de jogos onde a mudança de media foi das mais suaves. Grande parte deste fenómeno deveu-se ao facto dos jogos invocarem uma cinematografia pouco comum, o que fez como que outros média também se interessassem pelo sua história e mundo.
A série da HBO foi um verdadeiro testemunho desta afirmação e o seu sucesso foi de tal forma imenso que a própria Sony Interactive Entertainment decidiu fazer coincidir o lançamento da versão de The Last of Us Parte II Remastered para PC com a estreia da segunda temporada numa tentativa de movimentar mais vendas. Veremos se a produção também aprendeu com os seus erros do passado e desta vez consegue lançar uma versão para o PC digna de ser comparada a uma série de TV, porque a Sony e a HBO sabem que vai ser difícil separar uma da outra.
Passaram-se quatro anos desde os eventos de The Last of Us Parte I, e Ellie, agora com 19 anos, tornou-se numa caçadora de infetados a tempo inteiro para lutar ao lado de Joel e da restante comunidade. Por ter crescido num ambiente hostil e de constante sobrevivência, a jovem precisou de amadurecer rapidamente em diversos aspectos. Após presenciar um acontecimento devastador, parte numa demanda pessoal envolta num mar de emoções intensas à procura de respostas e do que mais valoriza na vida enquanto enfrenta facções inimigas, adversários formidáveis e o seu próprio destino.
Desde o início até ao fim que o jogo alterna entre a perspectiva de Ellie e de outra personagem. Embora The Last of Us Parte II tenha sido lançado na PlayStation 4 em maio de 2020, optei por não revelar esta personagem nesta análise, pois o público de PC pode ainda não a conhecer e julgo que vai ser um dos pontos centrais na segunda temporada da adaptação da HBO.
A história aprofunda ainda mais o vínculo entre Ellie e Joel, sendo narrada principalmente através de flashbacks e interações passadas entre ambos. Devido a este elemento, posso afirmar com certeza que, sob a brutalidade gráfica, esconde-se um jogo com um impacto emocional enorme, aliás arrisco dizer que até é maior que o do seu antecessor.
Diferente do primeiro jogo, cuja narrativa era estruturada pelas estações do ano, The Last of Us: Parte II Remastered apresenta uma progressão fluida ao longo de dias específicos enquanto acompanhamos Ellie na sua viagem por diversas localidades dos Estados Unidos em busca de respostas e redenção. Mesmo aqueles que não jogaram o jogo anterior ou não acompanharam a primeira temporada da série live-action não se vão sentir perdidos, pois o jogo oferece diversos pontos de entrada para novatos, além de momentos cruciais que relembram a aventura anterior.
Escusado será dizer que para quem acompanhou a viagem original, a experiência vai carregar um peso emocional ainda mais intenso, não apenas na história como nos acontecimentos desta, que são reforçados pelo impressionante realismo das expressões faciais das personagens. Apesar de ter sido originalmente lançado para a geração passada, o jogo continua visualmente impressionante. As expressões faciais incrivelmente detalhadas conferem uma camada extra de humanidade às personagens e garantem que a experiência não pareça datada, pelo contrário, a narrativa e os visuais continuam excecionais mesmo passada quase meia década, o único senão neste ponto são algumas texturas já um pouco datadas onde um antialiasing mais intenso marca presença.
Contudo, o detalhe e as personagens demonstram emoções com uma naturalidade deveras surpreendente que faz com este efeito passe quase despercebido. Seja através de pequenos gestos ou ações mais expressivas. Um leve passar de língua pelos lábios antes de um confronto mortal, um olhar sarcástico acompanhado de um riso irónico ou até mesmo um simples suspiro de frustração ou alívio, enfim, cada detalhe contribui para uma imersão profunda que reforça a humanidade, ou falta desta, em todos os momentos do jogo. Durante as cenas mais sombrias, quando Ellie elimina um inimigo, o seu semblante transmite medo, frustração, irritação e até tristeza o que confere ao jogador uma complexidade emocional praticamente sem igual, um efeito raramente visto em produtos desta indústria.
A brutalidade visceral do primeiro jogo continua intacta. Isto porque quando Ellie confronta os seus inimigos não olha a meios para os eliminar, recorrendo muitas vezes a formas bem cruéis e impiedosas. No entanto, este mundo pós-apocalíptico não se resume apenas à violência extrema. Diferente dos cenários áridos frequentemente retratados em outras obras do género, a natureza vibrante é quem mais prospera.
Os ambientes abandonados contam histórias próprias. Apartamentos, lojas e casas onde outrora uma família viveu foram envoltos em silêncio pela vegetação densa, florestas exuberantes e rios imponentes antes do colapso da civilização eram centros comerciais ruidosos repletos de multidões. O contraste entre a tragédia e a beleza natural cria uma atmosfera única, que enriquece a experiência do jogador e faz refletir sobre o seu papel num ciclo interminável de destruição e renascimento.
A Naughty Dog implementou avanços notáveis na física do jogo para tornar os movimentos de Ellie mais realistas em diferentes terrenos. Caminhar sobre a neve, atravessar rios ou proteger-se da chuva são experiências que transmitem uma sensação autêntica de peso e presença no mundo do jogo. Estes detalhes técnicos elevaram The Last of Us: Parte II Remastered para um novo patamar que consequentemente estabeleceu um padrão que foi seguido por outros jogos dentro e fora do género.
A cinematografia do jogo foi cuidadosamente trabalhada pela Naughty Dog. Desde as vastas sequências até aos tutoriais, tudo foi integrado de forma natural para garantir que o jogador continue imerso numa versão alternativa da série da HBO. Em vez de interromper a ação com quadros e paragens, as batalhas com bolas de neve, a atualização de parâmetros e equipamentos, os quebra-cabeças com caixas fortes, ou desafios de tiro ao alvo foram apresentados de uma maneira fluida e completamente integrada na narrativa sem produzir quebras de ritmo na ação e no jogo. O som, por sua vez, desempenha um papel essencial quer na narrativa quanto na jogabilidade. Com um nível de linearidade menor em relação ao jogo anterior, o áudio intensifica momentos de tensão e auxilia o jogador na tomada de decisões mais estratégicas.
Os mapas, embora não sejam totalmente abertos, são vastos e repletos de perigos. Ellie conta apenas com sua astúcia, e nestas ocasiões o som é o aliado essencial na sua viagem. A proximidade dos inimigos é percebida pela intensidade sonora, um recurso implementado de forma primorosa mesmo após quase cinco anos desde o lançamento original.
A inteligência artificial dos inimigos em The Last of Us: Parte II é avançada e pouco comum. Cada adversário tem um nome próprio, comunica com os outros e executa táticas de equipa. Ao avistarem Ellie, silenciosamente partilham a sua localização para organizar investidas, por vezes até pedem para que alguns membros fiquem de guarda.
Além disso, quando um inimigo é abatido, os seus aliados reagem de maneira realista, gritam o seu nome, lamentam a perda e, em alguns casos, perdem a racionalidade e atacam sem medir as consequências e o perigo. Este detalhe adiciona novas camadas emocionais à experiência que levam o jogador a refletir sobre as suas próprias ações.
Diante de grandes grupos de inimigos, a furtividade torna-se essencial para a sobrevivência. A possibilidade de melhorar habilidades, modificar armas e utilizar o ambiente em edifícios abandonados, os rios lamacentos e campos tomados pela vegetação oferecem diversas opções estratégicas. O som, mais uma vez, desempenha um papel crucial e aumenta a tensão, especialmente quando o jogador é descoberto. A respiração acelerada de Ellie e os efeitos sonoros dinâmicos tornam cada confronto uma experiência visceral intensa e única.
A versão remastered do clássico da PlayStation 4 também conta com um novo modo de jogo intitulado “No Return” que além de Ellie e da outra personagem também coloca nas nossas mãos diversos membros da comunidade e dos Pirilampos em campos contra todo o tipo de inimigos numa experiência Roguelike, e o brutalissimo “modo de dificuldade realista” onde tal como na Parte I um simples erro significa o fim da viagem porque não existem checkpoints ou segundas chances.
Claro que levar todo este requinte visual e técnico de uma plataforma para outra ainda mais exigente não é uma tarefa fácil e é também necessário obter um equilíbrio entre o desempenho e a otimização. Felizmente a transição da PlayStation 5 para o PC (Steam) não tem os problemas de desempenho e inconsistências técnicas que infelizmente assombraram a primeira parte desta duologia, pelo que podem ficar descansados porque a Nixxes Software e a Iron Galaxy entregaram uma boa port.
Tal como as anteriores versões das consolas PlayStation 4 e PlayStation 5 para o PC (Steam) o jogo conta com dezenas de localizações totais de áudio, texto, acessibilidade, e opções gráficas que foram dispostas em vários presets para atender literalmente a todos os públicos, desde os dispositivos portáteis, tais como a Steam Deck e a ROG Ally Z1 Extreme, a builds equipadas com o mais recente hardware.
Não foi só The Last of US Parte II que recebeu uma remasterização isto porque a vossa já conhecida build conta agora com o poder de uma NVIDIA MSI GeForce RTX 5090 GAMING TRIO e de todas as tecnologias adjuvantes que incluem a DLSS 4 (modo transformador) e a Multi Frame Generation. Por isso com uma base de FPS bem forte, o jogo não teve absolutamente nenhuns problemas a alcançar os 200 FPS com esta tecnologia ativada num monitor MSI MPG 321URX QD-OLED.
Também pude constatar que com a tecnologia NVIDIA Reflex não tive problemas de latência ou outros problemas com respostas tardias, mesmo em confrontos mais complicados e frenéticos nunca senti inconsistências e faltas de resposta. O único registo que encontrei nestas novas tecnologias foi com alguns rastos e pequenos artefactos na UI que precisei estar mesmo atento para os identificar. Embora tenha a completa noção que a Multi Frame Generation, tal como o programa Lossless, não é uma forma de gerar frames brutos, pelo menos consegue suavizá-los ao ponto de emular quase a mesma experiência, por isso é uma tecnologia, que embora controversa, é bem-vinda.
The Last of Us Parte II Remastered promete ser o complemento essencial para a segunda temporada da adaptação live-action da HBO para os utilizadores do PC. Mesmo após cinco anos desde o seu lançamento original continuamos a sentir os seus estilhaços na indústria e nos diversos media de onde retirou elementos e inspirou histórias. Em suma, The Last of Us Parte II Remastered é essencialmente uma experiência incrível enquanto se joga e inesquecível quando se termina.