A Nihon Falcom Corporation e a NIS America continuam a atualizar a série The Legend of Heroes no ocidente com lançamentos que ficaram apenas no mercado japonês uma década atrás. Após uma breve introdução à cidade de Crossbell e à SSS com The Legend of Heroes: Trails from Zero, a sua continuação The Legend of Heroes: Trails to Azure fecha este arco com um dos melhores jogos de toda a série. Nunca é demais referir que vão existir spoilers para o jogo anterior nesta análise.

Novamente seguimos as aventuras do detetive Llyod Bannings e da SSS na cidade de Crossbell. Após os eventos de The Legend of Heroes: Trails from Zero, a SSS conquistou a aclamação da justiça e do povo. No entanto, as tensões políticas e sociais que foram abaladas pelo incidente causado pelo D∴G Cult continuam a causar muita desconfiança nos habitantes da cidade e nos países vizinhos. Para colocar Crossbell novamente na estrada da prosperidade e da confiança, Dieter Crois o presidente do Banco IBC assume também o cargo da presidência da cidade. A sua tarefa principal consiste em desenvolver relações com o Império de Erebonia e a República de Calvard, isto porque para grande espanto de todos, Crois proclama a independência da sua cidade. Infelizmente esta tarefa está longe de ser fácil, isto porque um grupo de Yeagers conhecidos como a Red Constelation e os Enforcers da Ouroboros prometem voltar a mergulhar a cidade no caos. Quem pode salvar Crossbell!? A SSS, os seus novos recrutas, e os jogadores, obviamente.

A SSS foi dissolvida para que cada membro desenvolva as suas capacidades
A SSS foi dissolvida para que cada membro desenvolva as suas capacidades

A história de The Legend of Heroes: Trails to Azure para muitos é o Magnum Opus da série. O jogo abre imediatamente com a narração dos assuntos pendentes da aventura anterior. A SSS é temporariamente dissolvida para que os seus membros desenvolvam ainda mais as suas capacidades. Lloyd Bannings, o protagonista, forma uma aliança com os Bracers, a Primeira Divisão da polícia, e a Guardian Force para capturar Hartmann e Ernest Reis, uma dupla de vilões do anterior jogo. A sua busca leva-os à Altair Lodge, o sítio onde Guy Bannings salvou Tio quando o D∴G Cult conduzia experiências para manipular a genética de crianças. Esta é a narrativa inicial do jogo, e mesmo após os pontos soltos serem ligados, tudo parece estar bem, mas claro não é o caso.

Isto porque estes momentos são introduzidos num cenário incrivelmente tenso que atinge camadas sociais e políticas muito mais intensas do que qualquer outro jogo até à data na série. Preparem-se para um vendaval de emoções numa viagem que poucos jogos conseguem. A história, as reviravoltas e as revelações surgem umas atrás das outras sem que consigamos sequer recuperar do que presenciámos no nosso ecrã. Evidentemente que tudo tem um sabor muito diferente se jogámos o jogo anterior e temos um conhecimento básico da estrutura e do lore de Zemuria. Este efeito é devido em grande parte a The Legend of Heroes: Trails from Zero porque este essencialmente serviu para preparar o palco para um espetáculo muito maior. Tudo o que conhecíamos do anterior jogo é vastamente expandido, e ao pegar nos acontecimentos e conhecimentos que já nos foram servidos, a sua continuação foi apresentada num plano muito mais dramático, abrangente, intenso e robusto. A história é muito mais fluida e menos desconexa, mesmo que continue a ter como molde as investigações e os serviços da SSS. De tempos a tempos também dedica o seu tempo a desenvolver personagens, hierarquias, e o seu requintado mundo através de tarefas secundárias ou até em minijogos que neste capítulo surgem em maior número.

Os textos cómicos em cada arca do tesouro são exclusivos no ocidente. Na sua versão original apenas dizem “Vazio”

Sentimos também um sentimento de regresso e continuidade quer nos ambientes como na própria história. Este ponto pode ter um desenvolvimento muito mais patente se herdarmos os dados salvos da conclusão do jogo anterior. Não só os níveis das nossas personagens serão ligeiramente maiores de início, como podemos começar a aventura com 20.000 mira e equipamentos de pesca, as crossarts de The Legend of Heroes: Trails from Zero vão poder ser usadas nas batalhas, certos NPCs também terão interações diferentes, e a personagem com a qual desenvolvemos a maior afinidade do jogo anterior vai participar em acontecimentos exclusivos nesta grande aventura. Será que vamos continuar o romance com Elie MacDowell, a amizade com Tio Plato, ou o bromance com Randy Orlando? Se desejarmos também podemos conquistar o coração da sempre séria, Noel Seeker ou da assassina Rixia Mao, que são duas das quatro novas personagens jogáveis.

A aventura vai ter um sabor bem diferente se herdarmos a conclusão da anterior

Convém salientar que os acontecimentos de The Legend of Heroes: Trails to Azure decorrem em simultâneo com os de The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel II, ou seja, durante a guerra civil de Erebonia. Muitos destes pareciam um pouco desconexos ou fora de sítio, tais como a invasão de Rean na Geofront ou o Phantasmal Blaze Plan em Erebonia. Felizmente com The Legend of Heroes: Trails to Azure finalmente temos as peças que faltavam no puzzle e o resultado é uma maior coesão narrativa na série como um todo.

Realmente é incrível pensar que tantos elementos-chave da série quase não seriam revelados no ocidente, afinal este é o capítulo que introduz e desenvolve três antagonistas extremamente importantes na série, Shirley Orlando, Campanella, e Arianhod – que proporciona uma das batalhas mais emocionantes do jogo e da série. Também só a simples aparição do padre Kevin é o suficiente para que qualquer um que dedicou o seu tempo a descobrir e a jogar esta série ao longo de décadas exploda de entusiasmo assim que este surge em cena. Estes são testemunhos onde uma narrativa é propositadamente lenta para preparar o terreno para algo muito maior e o jogador se sinta investido quer a nível emocional quer no desenvolvimento do seu mundo e das personagens.

Visualmente The Legend of Heroes: Trails to Azure é praticamente indiscernível quando comparado ao episodio anterior, isto porque os assets gráficos são essencialmente os mesmos. Apenas a “UI” recebeu ligeiras modificações para se destacar e oferecer uma experiência ligeiramente mais moderna. Contudo, os efeitos de água e shaders que foram introduzidos numa das atualizações da aventura anterior já estão presentes nesta. As opções gráficas são também quase as mesmas. Vamos poder desfrutar de visuais em resoluções até 4K a 144 fotogramas por segundo, habilitar V-Sync, Filtros Anisotrópicos (4 até 16x), acionar Character Glow, sombras dinâmicas e o já citado Water Shader. A única novidade visual são os filtros de Anti-Aliasing que nesta aventura podemos escolher de 8x até MSAA.

O mesmo podemos dizer das suas mecânicas. A grande novidade é a “Burst” uma barra que surge em alguns momentos da história que quando está cheia nos permite utilizar “Arts” e “Crafts” em rápida sucessão. Outra novidade são os “Master Quarts” esferas que são colocadas no dispositivo Enigma II e que permitem utilizar diversas “Arts” pré-estabelecidas. Quem conhece a série seguinte, ou seja, The Legends of Heroes: Trails of Cold Steel sabe que este elemento é uma versão desatualizada do dispositivo Arcus. Como The Legend of Heroes: Trails to Azure é uma continuação, a Nihon Falcom Corporation poderia simplesmente ter utilizado as faixas musicais do jogo anterior neste. Embora o tenha feito em parte, ou seja, na esquadra de polícia, a cidade de Crossbell e temas de personagens, também aproveitou a situação para introduzir novas faixas que exploraram o hype e as emoções humanas num sem fim de momentos. Afinal falamos de uma empresa conhecida por compor algumas das melhores faixas musicais para um RPG. Destacamos o trio de faixas “Unfathomed Force”, “Seize the Truth!”, “The Blue Arbitrator”. O jogo apenas suporta áudio em japonês e textos no mesmo idioma e em inglês.

Do ponto de vista técnico The Legend of Heroes: Trails to Azure é indiscernível

Felizmente ninguém vai ficar de fora. Como estamos a falar de um jogo que recebeu lançamento originalmente em 2011 na PlayStation Portable e no PC, qualquer configuração pode desfrutar da continuação das aventuras da SSS. Por isso senti que este era o candidato perfeito para ser analisado na portátil da Valve, a Steam Deck. Sem surpresa e à semelhança The Legend of Heroes: Trails from Zero o jogo foi executado sem inconvenientes entre 5 a 6 horas de bateria entre sessões com todos elementos gráficos ao máximo a 60 fotogramas por segundo numa resolução 1280×800. Novamente o jogo conta com as otimizações de Durante e da PH3.

The Legend of Heroes: Trails to Azure é um dos melhores RPG que já joguei, e acreditem que felizmente já tive a oportunidade de desfrutar muitos nesta vida. Os momentos, a história, as intrigas, as reviravoltas e as resoluções foram de uma magnitude incomum mesmo quando comparadas com os melhores títulos desta série. Este é último episódio de The Legend of Heroes em 2D antes da série transitar para 3D com The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel, e a Nihon Falcom Corporation demonstrou toda a fórmula e mestria que desenvolveu quase por uma década. A barreira pode ser lenta para ser atravessada, mas se dedicarem o vosso tempo para a ultrapassar do outro lado podem crer que vos espera uma aventura verdadeiramente, inesquecível.

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