A Kadokawa, uma das maiores editoras japonesas e proprietária de vários estúdios de animação reconhecidos mundialmente, está a preparar uma revolução na indústria do anime. Em declarações recentes, os responsáveis da empresa revelaram planos ambiciosos para aumentar drasticamente os orçamentos de produção, com o objetivo último de melhorar significativamente as condições de trabalho dos animadores.
Go Kikuchi, diretor-geral dos estúdios da Kadokawa, e o produtor Junichiro Tamura partilharam numa entrevista ao Otaku Soken a sua visão para o futuro da animação japonesa. O plano passa por expandir agressivamente para o mercado internacional, seguindo o exemplo bem-sucedido de outras indústrias de entretenimento asiáticas.
“Porque é que existe uma diferença tão grande nos custos unitários entre uma produção da Disney americana e uma produção de animação japonesa? É porque o mercado-alvo da Disney é o mundo inteiro”, explicou Kikuchi, estabelecendo a comparação que serve de base à estratégia da empresa.
A Kadokawa já começou a implementar esta visão através da criação de filiais no estrangeiro, focadas na distribuição e localização de conteúdos. O objetivo é replicar o sucesso de produtos culturais como as séries coreanas, que conquistaram audiências globais precisamente devido aos seus orçamentos elevados e qualidade de produção superior.
Mercados Emergentes no Radar
Os executivos da Kadokawa identificaram especificamente o Brasil, México e Índia como “minas de ouro” para a expansão do anime. Estes mercados emergentes representam oportunidades significativas de crescimento, especialmente considerando o crescente interesse mundial pela cultura pop japonesa.
A estratégia não se limita apenas à expansão geográfica. Kikuchi enfatizou que o aumento das receitas deve traduzir-se em melhorias concretas para os trabalhadores da indústria. “Se conseguirmos redefinir como os recursos são distribuídos entre as empresas de produção e o pessoal, pode haver um futuro em que todos os funcionários dos estúdios de produção possam andar de Mercedes Benz“, declarou.
Esta declaração, embora possa soar exagerada, reflete uma realidade preocupante na indústria da animação japonesa. Muitos animadores enfrentam condições de trabalho precárias, com salários baixos e horários excessivos, apesar do sucesso internacional crescente do anime.
Desafios da Indústria Atual
O problema não é apenas financeiro, mas também estrutural. A indústria não possui animadores especializados suficientes para trabalhar em produções de qualidade cinematográfica, e muitos dos profissionais ativos já experienciaram situações de excesso de trabalho e salários inadequados.
Kikuchi reconhece que, embora os custos de produção já estejam a aumentar na indústria, “os fundos ainda não estão a ser distribuídos adequadamente“. Esta redistribuição mais justa dos lucros é vista como fundamental para atrair e reter talento, especialmente face à concorrência internacional crescente.
A visão da Kadokawa representa uma mudança de paradigma significativa numa indústria tradicionalmente conservadora. Se bem-sucedida, esta estratégia poderá não apenas elevar os padrões de qualidade do anime japonês, mas também estabelecer um novo modelo sustentável que beneficie todos os intervenientes na cadeia de produção.
Com o mercado global do anime avaliado em milhares de milhões de euros e em crescimento constante, a aposta da Kadokawa em orçamentos maiores e melhores condições de trabalho poderá definir o futuro da animação japonesa nas próximas décadas.
