Para contextualizar rapidamente para quem ainda não conhece, Atelier Resleriana: The Red Alchemist and White Guardian é essencialmente um spin-off offline do jogo original para dispositivos Android e iOS, Atelier Resleriana: Forgotten Alchemy & the Polar Night Liberator. O jogo original era um gacha que infelizmente teve os servidores encerrados em todo o mundo porque não foi muito bem recebido. Embora, Atelier Resleriana: The Red Alchemist and White Guardian, seja ambientado no mesmo universo, é um jogo completo sem qualquer elemento de gacha. Julgo que esta clarificação foi importante porque eu próprio pensei que este jogo era só para smartphones e não uma experiência de jogo mais clássica digna de singrar entre os mais 20 jogos desta longa série que nos acompanha por cerca de três décadas.

Em Atelier Resleriana: The Red Alchemist and White Guardian, os jogadores vão embarcar numa nova aventura misteriosa e envolvente com novas personagens. Rias Eidreise, uma jovem aventureira talentosa em alquimia, e Slade Clauslyter, um rapaz capaz de abrir passagens dimensionais para realidades alternativas através do Geist Core, um misterioso artefacto deixado pelo seu falecido pai. Os dois protagonistas unem forças para descobrir o mistério do desaparecimento dos seus habitantes enquanto restauram a cidade de Hallfein. Durante as suas aventuras, irão encontrar várias personagens para os ajudar nesta missão, que incluem caras bem conhecidas da série Atelier, tais como Sophie Neuenmuller. Embora não possua um “Allstars” no título, o jogo pode ser considerado um desta linha porque reúne protagonistas de outros jogos da série, e Ryza da trilogia Secret também surge com a sua jovial aparência do primeiro jogo.

Tal como em Tales of Xillia, o jogador pode decidir qual personagem deseja controlar, também à semelhança do clássico da Bandai Namco Entertainment, as diferenças são muito subliminares e apenas revelam pontos de vista diferentes de cada personagem em diversas partes da história. A narrativa transporta os jogadores para o continente de Latana, onde podem explorar, recolher ingredientes para alquimia e descobrir todos os segredos, seja de dia ou de noite, faça chuva ou faça sol. Os jogadores também poderão explorar masmorras de múltiplos níveis intituladas de “Dimensional Paths”, cuja estrutura muda aleatoriamente a cada visita para permitir recolher diferentes ingredientes e enfrentar novos inimigos consoante o nível de dificuldade escolhido, uma clara alusão às suas “origens” gacha. A exploração é baseada nos jogos clássicos, em contraste com os estilos mais abertos de Atelier Ryza 3 e Atelier Yumia, o que na minha ótica representa uma mudança positiva de ritmo porque um mundo aberto para recolher tudo o que são ingredientes pode intimidar.

A história apresenta diferentes pontos de vista consoante o herói escolhido

O combate combina estratégia com batalhas por turnos e permite formar equipas de seis personagens, com até três na linha da frente e três atrás. Através pontos de AP e itens equipados de forma estratégica, os jogadores poderão causar dano, influenciar a ordem dos turnos, ativar turnos consecutivos para aliados e executar ataques poderosos em conjunto. Após Atelier Yumia reconheço que o regresso ao combate clássico por turnos, semelhante ao de Atelier Sophie 2, assenta melhor ao invés de um sistema mais orientado para a ação.

Se muitos pensavam que seria a série Final Fantasy a inaugurar o reformulado sistema de combates por turnos inspirado em Clair Obscur: Expedition 33, estavam enganados. A aventura de Rias e Slade foi a primeira a introduzir a mecânica de parry em batalhas por turnos, isto pós-lançamento do candidato a jogo do ano de 2025, o que comprovamos que estabeleceu uma nova referência no género. Mas a mecânica não é a única novidade emprestada de outras séries. Atelier Resleriana: The Red Alchemist and White Guardian recupera também outras influências marcantes. A clássica barra de atordoamento de Final Fantasy XIII, que se tornou quase obrigatória em muitos RPGs modernos, regressa neste jogo. Adicionalmente, o sistema de bónus de turnos, característico da série The Legend of Heroes, também está presente para oferecer vantagens adicionais que acrescentam mais estratégia. Por exemplo, ao derrotarmos um inimigo com o bónus de recuperação de HP, essa bonificação é entregue às nossas personagens o que adiciona e incentiva escolhas táticas em cada turno. Este último ponto pode dar a impressão de ser redutor, mas não é de todo o caso. Embora recorra a elementos já vistos noutros RPGs, tudo encaixa de forma harmoniosa nos combates entre a prodígio, o seu guardião e os seus aliados.

A experiência ganha ainda mais profundidade graças à possibilidade das personagens utilizarem itens únicos e específicos, criados através do sistema de fabrico característico da série e uma requintada skill tree.

Se durante o ataque dos inimigos o jogador carregar no botão da defesa no momento do ataque não só vai evitar o dano como aumentar a barra de atordoamento e contra-atacar!

Além do loop de jogo tradicional Atelier que os fãs conhecem e adoram, os jogadores contam com uma nova adição no fabrico intitulada de “Gift Colors Synthesis”. Através deste novo elemento os jogadores podem combinar as cores dos ingredientes para criar novos objetos enquanto atribuem características ou alteram receitas consoante os ingredientes utilizados. Certos aliados também fortalecem os itens criados.

Mas não é só Rias e Slade que progridem com a história, a cidade de Hallfein também amadurece com as suas aventuras. Ao visitarem a Câmara Municipal de Star Landing, os jogadores vão poder investir os fundos obtidos através do cumprimento de pedidos e da venda de itens na loja da Rias nos cinco distritos que compõem a cidade.

À medida que estes se desenvolvem, o seu nível e classificação aumenta e desbloqueia gradualmente várias vantagens passivas, tais como novos produtos no inventário do comerciante ou recolha de recursos mais eficiente. Para além da loja da Rias, os jogadores também abrem outros distritos na cidade, cada um especializado em produtos diferentes consoante a sua localização, onde será possível obter ingredientes específicos e descobrir novas receitas.

A aparência de Hallfein também evolui à medida que a cidade é reconstruida através do grau de investimento em cada distrito. Os habitantes irão oferecer novas missões e novos visitantes vão começar a popular os distritos, incluindo ainda mais personagens de Atelier, tais como Marie, Meruru, Firis e Platcha. Ao interagir com as heroínas de outras aventuras também será possível desencadear pequenos eventos e desbloquear “Bond Quests”. Adicionalmente, os jogadores poderão aceitar pedidos diretamente na Câmara Municipal. Concluir estas missões especiais vai garantir várias recompensas valiosas. O sistema de reconstrução de Hallfein e outros elementos são muito semelhante a um outro spin-off allstars da série, Nelke & the Legendary Alchemists: Ateliers of the New World.

Graficamente, Atelier Resleriana: The Red Alchemist and White Guardian representa uma ligeira regressão para a série. Embora os modelos das personagens estejam bem detalhados, os cenários e as texturas ficam aquém do nível alcançado em Atelier Yumia. O antialiasing revela fragilidades em planos aproximados, com ausências de contornos, superfícies enevoadas, e tanto os ambientes como os detalhes visuais surgem excessivamente simplistas. O jogo cumpre os requisitos técnicos de forma funcional, mas sem grande brilho. A isto soma-se a escassez de opções gráficas na versão PC, sendo que nem mesmo em resoluções 4K é possível disfarçar estas limitações apesar de oferecer taxas de FPS bem altas. Contudo, estas limitações também têm o seu lado positivo, porque o jogo é muito mais leve, tanto que a minha placa gráfica (RTX 5090) nem sequer ultrapassou os 40% de uso. Atelier Resleriana: The Red Alchemist and White Guardian é por excelência uma aventura de verão, porque nem mesmo com uma temperatura ambiente alta o vosso PC vai suar.

Texturas ligeiramente mais pobres podem condicionar a experiência dos jogadores

O jogo recupera ainda as animações típicas da série, tais como o gesto da mão à frente da boca em momentos de choque ou admiração, o que transmite uma sensação de familiaridade excessiva. Este poderá ser o preço a pagar pelo facto da Koei Tecmo e da Gust lançarem dois jogos da série no mesmo ano, o que pode ter levado à dedução da qualidade de um dos produtos.

No campo sonoro, a mesma impressão repete-se. As faixas mantêm o estilo habitual da série ao equilibrarem melodias suaves com composições de combate sempre festivas. Estas últimas não deixam de ser inexplicavelmente divertidas, sobretudo durante confrontos contra bosses mais desafiantes quando o nosso grupo de pequenos heróis exploradores está a ser completamente dizimado ao som de uma faixa bem animada!

Atelier Resleriana: The Red Alchemist and White Guardian é, por excelência, um jogo que honra o legado da série numa era em que esta procurou afastar-se desse mesmo elemento. A familiaridade da fórmula, construída ao longo de quase três décadas, tanto pode afastar como cativar os jogadores habituais. No entanto, um formato mais simples e menos intimidante também tem o potencial de convidar novos jogadores a iniciarem a sua viagem pelo fantástico mundo da alquimia, e Atelier Resleriana: The Red Alchemist and White Guardian não podia ser a melhor opção. 

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