O criador Toshinari Shinohe divulgou esta quinta-feira um vídeo piloto e três novos visuais do seu próximo filme de anime, Beast of Kamisari Month. O projeto surge como continuação espiritual de Child of Kamiari Month (Kamiari no Kodomo / Filha de Kamiari), que estreou em 2021 e chegou à Netflix no ano seguinte.
Os três visuais apresentados trazem todos a mesma mensagem: “A história de uma besta que corre para o lugar que deu origem à nação insular”. As imagens sugerem uma narrativa visualmente rica, com elementos que remetem para a mitologia ancestral japonesa.
O filme foi anunciado pela primeira vez em abril, durante a Expo de Osaka, e propõe-se mergulhar nas páginas do Kojiki, uma das mais antigas crónicas japonesas. Este texto reúne mitos, lendas, hinos e relatos sobre a origem do arquipélago japonês, servindo como base para uma história que traça um caminho geográfico e simbólico.
A narrativa começa em Izumo, região considerada o berço do mito da fundação do Japão, e desenrola-se até à ilha de Awaji, tradicionalmente vista como a primeira ilha a ser criada segundo a mitologia nipónica. Shinohe descreveu esta nova obra como a contraparte do primeiro filme, sugerindo que ambos os projetos dialogam entre si, explorando diferentes facetas da espiritualidade e das tradições japonesas.
Child of Kamiari Month chegou aos cinemas japoneses em outubro de 2021 e conquistou atenção internacional quando a Netflix começou a transmiti-lo em fevereiro de 2022. O filme explorava temas de luto, crescimento pessoal e conexão espiritual através da jornada de uma jovem, combinando animação delicada com elementos da cultura tradicional.
O projeto original nasceu de uma campanha de crowdfunding lançada em março de 2019, demonstrando desde cedo o interesse do público em histórias que regressam às raízes culturais japonesas. A LIDEN FILMS, através da sua diretora representativa Tetsuro Satomi, ficou responsável pela produção da animação.
A equipa criativa mantém alguns nomes do filme anterior. Kazuya Sakamoto, que realizou She and Her Cat – Everything Flows, assumiu o papel de diretor de criação. Takana Shirai voltou a colaborar no conceito original e como diretor de animação, enquanto Haruka Sagawa ficou encarregue do design de personagens.
O argumento ficou a cargo de Tetsurō Takita e Ryūta Miyake, com Michihiko Suwa, conhecido pelo seu trabalho nos filmes de Detective Conan, e Teppei Mishima a assumirem funções de planeamento e produção. Esta combinação de talentos veteranos e visões criativas frescas parece ser uma aposta da produção para criar algo que ressoe tanto com audiências familiarizadas com a mitologia japonesa como com quem a descobre pela primeira vez.
A escolha de basear o filme no Kojiki não é casual. Este texto do século VIII é fundamental para compreender a cosmogonia e a identidade cultural japonesa, contendo histórias de deuses, a criação das ilhas e os primórdios da nação. Trazer estas narrativas para a animação contemporânea representa um desafio técnico e artístico, mas também uma oportunidade de apresentar estas lendas a novas gerações de uma forma visualmente apelativa.