No rescaldo da Crunchyroll Expo 2022 a Forbes, famosa revista especializada em negócios e finanças publicou um artigo analisando a transição da Crunchyroll, que começou como um site de distribuição ilegal de anime, para uma empresa líder de distribuição de anime no Ocidente, ainda mais agora com a fusão com a Funimation, a sua principal concorrente no mercado.

Ao longo do artigo podemos ler que a Crunchyroll começou a sua vida em 2006 como um site “agregador”de conteúdo ilegal nomeadamente anime que era traduzido e que não estava disponível noutras partes do Mundo, geralmente sem o benefício de acordos de licença com os produtores de conteúdo. A popularidade do site demonstrou aos produtores e distribuidores que havia uma enorme demanda internacional por material diversificado e de alta qualidade produzido em abundância no Japão e encorajou os produtores a abrir novos fluxos de receita através do licenciamento.

Com o tempo, uma série de proprietários melhorou o funcionamento da Crunchyroll, transformando-a num popular serviço de streaming com um enorme catálogo de séries de anime totalmente legais, abrangendo uma ampla variedade de géneros e estilos. No final de 2020, a AT&T, então proprietária da Warner Media, vendeu a Crunchyroll juntamente com outras submarcas voltadas para nichos de mercado, que eles presumivelmente consideraram um empecilho na sua tentativa de transformar o HBO MAX numa plataforma unitária para o mercado de massa.

A lei antitruste dos Estados Unidos, é um conjunto de leis principalmente federais que regulam a conduta e a organização de negócios para promover a concorrência e evitar monopólios injustificados.

A Sony, que estava a adotar a estratégia exatamente oposta ao procurar nichos de mercado com públicos específicos, adquiriu o serviço num acordo avaliado em 1,175 bilões de dólares e fundiu-o com o seu próprio serviço de sucesso, a Funimation (fundada em 1994), criando instantaneamente a maior plataforma de anime do Mundo. O choque para o mercado foi tal que a fusão atraiu um interesse passageiro da divisão antitruste do Departamento de Justiça dos EUA, mas as preocupações anticompetitivas foram parcialmente atenuadas pelos crescentes investimentos em anime de plataformas de streaming como Netflix, Amazon Prime Video e Hulu.

Funimation comprou a Crunchyroll

No ano passado, a Crunchyroll tem trabalhado nos prós e contras da combinação de catálogos de conteúdo e listas de assinantes para dar aos subscritores acesso a todo o material de ambos os sites, somando uma biblioteca de mais de 16.000 horas de conteúdo, programação e mais de 44.000 episódios. Enquanto isso, empresas de streaming em massa como a Netflix começaram a atingir os limites de crescimento, levantando questões sobre se os seus níveis de investimento em conteúdo de nicho original e licenciado como anime são sustentáveis. Essa dinâmica deixou a Cruchyroll num ângulo influente e de rápido crescimento de mercado.

A Crunchyroll ganha dinheiro através de vários canais: streaming e lançamentos nos cinemas de novos conteúdos anime, vendas de produtos de entretenimento doméstico (BOX DVD/BD, etc.), licenciamento de produtos e distribuição secundária. Mitchel Berger, vice-presidente sénior de Comércio Global, diz que todas as quatro áreas do negócio estão fortes no momento, descrevendo-as como um “volante” que mantém o motor da receita a funcionar. Berger afirmou:

Adquirimos os direitos de licenças e cineastas do Japão, alguns para distribuição direta [via Crunchyroll] e outros para lançamento nos cinemas via Sony Pictures. O anime está na moda por muitas razões. O público é mais jovem, e os jovens são apaixonados por tudo: merchandise, colecionáveis, figuras de ação e jogos. Na verdade, há uma grande sobreposição entre os fãs de anime e os jogadores.

Quando questionada sobre o material para adultos, Gita Rebbapragada, diretora de marketing, diz que é importante garantir que o conteúdo seja apropriado para a marca Crunchyroll.

Travis Page, diretor financeiro, diz que as preocupações com a consolidação do mercado e a influência do monopólio são infundadas.

Muitos serviços estão a gastar muito em anime. Eles não são apenas um ou dois. Há também grandes atores como a Disney. E, francamente, damos as boas-vindas a uma diversidade de fornecedores no mercado porque aumenta o público e, mais cedo ou mais tarde, os fãs virão até nós porque temos o catálogo mais profundo.

O que muda na Crunchyroll com a integração com a Funimation

Page afirma que a Crunchyroll continua a ter incentivos para investir e inovar porque os licenciadores japoneses continuam a controlar o conteúdo e a renovar as licenças temporada após temporada com base nos pontos de venda que podem fornecer o melhor alcance e receita.

Para manter um bom relacionamento com os estúdios japoneses, tentamos ser um serviço SVOD baseado em direitos autorais, para que o nosso sucesso seja compartilhado com eles. Isso incentiva-nos a continuar a oferecer aos fãs, porque quando o conteúdo faz sucesso na nossa plataforma, ele volta para o Japão [e mantém o nosso acesso aos títulos].

Ironicamente, o antigo site pirata Crunchyroll considera a pirataria uma das maiores ameaças competitivas, não apenas para a sua própria receita, mas para toda a indústria.

Os nossos estudos mostram que a pirataria representa um grande número de visualizações e sempre será um fator a ser considerado. Estamos a trabalhar com a Sony e os nossos parceiros no Japão para criar um ambiente o mais seguro possível para o conteúdo e oferecer um serviço acessível que não valha o risco de aceder por sites piratas.

O que quer que a Crunchyroll esteja a fazer para expandir o mercado na América do Norte parece estar a funcionar. Convenções de anime como a Crunchyroll Expo estavam entre a categoria mais popular de eventos de fãs antes da pandemia, e o público parece pronto para voltar em força. O mangá, o material de origem asiático para muitos títulos anime, cresceu três dígitos nos Estados Unidos desde 2012 e é um dos principais impulsionadores do crescimento de 60% ano após ano observado na publicação de comics em 2021. O aumento das vendas de mangá segue de perto o lançamento de novas temporadas e títulos de anime.

A Crunchyroll está agora muito bem posicionada para lliderar o mercado com Gita Rebbapragada a afirmar que “Estamos focados em entregar ótimas experiências para os fãs, aumentando a diversidade do nosso conteúdo e respeitando os criadores e o conteúdo. Este público é especial. Eles representam o futuro, e isso é importante para todas as empresas de entretenimento“.

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DolinhoD
Dolinho
20 , Agosto , 2022 19:32

Eu acho isso engraçado e ao mesmo tempo triste, a Crunchyroll que surgiu como um site pirata de Animes se tornou um site oficial de Animes, que atualmente ajuda a derrubar sites piratas de Animes

E engraçado ver que ela está derrubando sites piratas de animes sendo que a própria começou como um site pirata

Mas é triste ver que os sites que ela ajuda a derrubar poderiam/não puderam ter a mesma oportunidade que a Crunchyroll teve de ser tomar algo oficial

Se simplesmente no começo alguém tivesse derrubado a Crunchyroll com um aviso de Direito Autoral ela provavelmente não existiria

Isso e meio reflexivo, se em vez de a Crunchyroll derrubar sites, ela investisse neles para se tornar oficiais, quanto mais sites poderiam existir por aí, poderiam ter mais competição

Quantos sites não puderam ter a mesma oportunidade que a Crunchyroll??

ZanGetsuJrD
ZanGetsuJr
Reply to  Dolinho
20 , Agosto , 2022 22:02

Eu entendo seu ponto de vista e não considero errado, até porque pra um caso desse nao tem como dizer o que foi certo e o que ta errado, mas também podemos dizer que isso é mais mérito da Crunchyroll do que qualquer outra coisa, se uma pessoa começou fazendo algo errado e depois decidiu corrigir isso não é feio admitir que ja erraram e que agora procuram fazer o certo, o triste é que os piratas estão tudo fechando e foram eles que iniciaram esse nosso gosto pelos animes, até porque o contato era muito pouco no inicio sem internet e com pouca visibilidade na TV aberta.

Anthoni Vedovato
Anthoni Vedovato
Reply to  ZanGetsuJr
21 , Agosto , 2022 5:33

Eu sou contra! por que a gente tem que ficar pagando sem parar e isso vira uma exploração,somos quase robotizados por eles.

Por Isso que assisto Animes em Fansubs,mas depois de saber que Crunchyroll já foi um Fanubs,isso nem me impressiona,mas o que importa é barrar ou até mesmo acabar de verdade com esse império opressor da anti-pirataria ou vamos ficar comprando assinatura quem nem gado.

#FansubsLivresDaOpressão

ZanGetsuJrD
ZanGetsuJr
20 , Agosto , 2022 22:08

Tudo tem seus prós e contras, talvez até mais prós do que contras, mas que mesmo assim é difícil admitir, pois o crescimento da Crunchyroll ajuda a fomentar o mercado de animes/mangás, porem em contrapartida os sites que iniciaram esse nosso gosto pela animação cada vez mais vão se extinguindo, sem falar que a CR não pega todos os animes lançados por temporada, o que acaba ficando de lado vários ótimos animes, muitos deles por ser mais pesado com cenas de sexo ou por excesso de violência, ou seja, os famosos animes adultos. O que os cara não entende é que os hentai tudo bem mas so por ter alguma cena um pouco mais adulta os cara já descartam de ter em seu catálogo.

mizere71D
mizere71
Reply to  ZanGetsuJr
21 , Agosto , 2022 19:09

Crunchyroll tem sim animes +18, com cenas explícitas, como Elfen Lied, Berserk, Claymore, etc. O que não entra no catálogo são os exclusivos de outros streamings, como Netflix, Amazon Prime Video, Hidive e Disney+.

Anduin LotharD
Anduin Lothar
21 , Agosto , 2022 3:09

matéria muito interessante…