Lapis Re:LiGHTs um anime com um sabor bem português

Lapis Re:LiGHTs, trata-se de uma série anime produzida pelo Studio Mausu e que está atualmente em exibição aos sábados. A mesma é baseada num projeto entre vários ‘media’, tais como videojogos, web comics e álbuns musicais. Esta franchise reúne e mistura elementos de fantasia, mahou shoujos e pop idols.

A história segue Tiara, uma jovem de cabelos ruivos, aparentemente de uma terra distante, que chega a uma academia de magia para aprender e desenvolver as suas capacidades. Neste espaço, também é comum assistirmos as suas estudantes treinarem para se tornarem ídolos musicais. Pouco tempo depois de se instalar na academia, a nossa jovem reencontra a sua amiga de infância, Rosetta e conhece um trio de energéticas raparigas, que têm como ambição desenvolverem os seus dotes mágicos e saborear o estrelato dos palcos. Imediatamente, Tiara junta-se ao grupo, e usará a magia da dança e da música para conquistar os seus sonhos.

A primeira vista, esta série não traz nada de novo, ou que já não tenhamos assistido. Literalmente todos os acontecimentos da sua fase inicial seguem quase na perfeição, o primeiro filme de Harry Potter, até a linha temporal de acontecimentos é essencialmente a mesma.  O que cativou-me nesta série não foi a sua história, nem mesmo as suas personagens, mas sim os seus ambientes.

Desconheço qual é a razão da produção, mas não fui capaz de evitar que a mesma, inspirou-se fortemente na arquitetura vernacular portuguesa, nomeadamente a arquitetura mais a sul do país, predominante das áreas do Algarve (onde resido) e do Alentejo. Os ambientes são tão semelhantes que por vezes dou por mim, a assistir a excertos animados de localizações que conheço na vida real.

O fator mais predominante e que imediatamente se destacou, foram as típicas casas do interior português, vulgarmente conhecidas na zona por casas saloias. Estas além de branco, possuem listras azuis, laranja, etc nas arestas do edifício e das suas janelas. Este último elemento também foi exemplarmente inserido na série, estes edifícios possuem várias janelas de grande envergadura, já que foram construidas para aproveitar o máximo de exposição solar. As casas quer na série, como na região, apresentam duas topografias. Podem ser construidas em forma de pirâmide, com um terraço descoberto, ou então são mais largas e possuem um telhado que se estende em todo o edifico.

Além das casas e outros edifícios, as ruas são estreitas, e labirínticas, dois grandes fatores que podemos encontrar na cidade de Olhão/Barlavento, uma localização de fica a cerca de 8 km de Faro, a capital do distrito algarvio.

Os caminhos na série tal como nas áreas mais tradicionais do país, são pavimentados com pedras de calçada, chegando por vezes a ser rodeados por muros. Os mesmos inserem-se quer em habitações como nas áreas de comércio tais como mercados ou praças. Geralmente em vários pontos dispostos nas ruas também podemos encontrar pequenos espaços verdes como canteiros ou árvores compridas estreitas. Os caminhos também podem apresentar pequenas alterações de subida ou descida, e as habitações neste ambiente estão geralmente integradas umas dentro das outras, não existindo separação entre casas ou becos, apenas um corredor no meio. Foi refrescante assistir ao pormenor que a produção colocou nas casas, onde podemos ver tinta suja ou gasta nas suas partes mais coloridas, um fator predominante na região, devido às altas temperaturas no verão, e chuvas no inverno.

Mas não só de arquitetura Lapis Re:LiGHTs, saboreou a cultura portuguesa, mesmo nesta fase primaria da série já surgiram os tradicionais pratos decorativos nas paredes, e móveis com ligeiras ondas no topo. Estes dois fatores não estão apenas confinados ao sul do país, estendem-se também ao resto de todo o nosso Portugal.

Finalmente num prisma mais histórico do nosso país, a produção da série também já apresentou um navio semelhante ao carraca “Santa Maria“. Este navio foi criado pelos portugueses no século XV/XVI, e foi destinado para transportar mercadorias. O navio é conhecido por ter um pico na proa, uma forma arredondada na mesma, e várias velas onde a última surge em forma de triângulo. Embora esta não se assente a 100% como os anteriores exemplos, penso que a produção partiu deste molde.

Estas foram as referências que encontrei até ao momento e que se situam até ao episódio 4, encontraram mais algumas? Com o desenrolar da série certamente veremos muitas mais, e espero que tal como eu, desperte a vossa vontade de assistir à série num ponto de vista cultural.