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    Memórias de Ontem – Como o passado ainda é o presente

    Memória de Ontem (Omoide Poro Poro) é um filme que estreou em 1991 e é da autoria dos aclamados Studio Ghibli, além de ser escrito e dirigido pelo colosso Isao Takahata e produzido pelo lendário Hayao Miyazaki.

    Com esta introdução, é possível ter a perceção de que a qualidade deste filme é incontestável, e de facto, a qualidade da produção deste filme é como todos os outros produzidos pelo estúdio.

    A sinopse:

    Corre o ano de 1982, Taeko Okajima é uma mulher com 27 anos, solteira e que viveu a vida inteira em Tóquio. A história começa com a decisão da Taeko em viajar até Yamagata para visitar a família do seu cunhado e ajudar na colheita anual de açafrão. Enquanto Taeko viajava à noite no comboio, começa a recordar memórias de si mesma como aluna do 5ºano nos anos 60, e o seu desejo intenso de ir de férias como os seus colegas de turma, todos eles com família fora de Tóquio.

    Ambição em produzir algo novo em tempos conservadores:

    Apesar de Isao Takahata ser um aclamado diretor de filmes de animação do lendário Studio Ghibli, as suas obras sempre foram o completo oposto das que as pessoas normalmente associam ao estúdio em primeira instância e que são dirigidas pelo Hayao Miyazaki.

    Por norma, as obras de Isao Takahata são pautadas por temas explicitamente mais maduros e com uma direção mais experimental e menos padronizada, este filme é exatamente onde o diretor assumiu essa postura quanto as suas obras.

    Corria o ano de 1991 e o mercado de produção era extremamente conservador, só se apostava em coisas em que o publico já estivesse habituado.

    Mas assim sendo, como é que houve espaço para um filme destes ser lançado em moldes tão pouco convencionais e ainda assim arrecadar a maior bilheteira de 1991? Bem, temos que recuar a 1989.

    Em 1989 os Studio Ghibli lançavam ‘Kiki’s Delivery Service’ da autoria de Hayao Miyazaki, que obteve um estrondoso sucesso de critica e bilheteira.

    Este sucesso permitiu ao estúdio embarcar em projetos ‘fora da caixa’, fazendo com que ‘Memórias de Ontem’ visse a luz do dia com os moldes que conhecemos.

    O constante jogo entre o passado e o presente:

    O filme é essencialmente marcado pela sua constante deambulação entre imagens da infância da Taeko nos anos 60 e a sua vida atual em 1982, um recurso que é utilizado na perfeição enquanto é acompanhado de uma ótima trilha sonora que recorre a música japonesa quando é mostrado imagens dos anos 60 e a música europeia quando é mostrado imagens da atualidade, mostrando um contraste temporal e retratando uma abertura maior por parte do Japão a receber produtos culturais do exterior.

    Os recursos visuais escolhidos para ilustrar o passado são bastante interessantes, a escolha de tons pastel e um desfoque nos cenários dão a sensação de uma memória embaçada que embora seja recordada, começa a dissipar pormenores com o passar do tempo, onde apenas as pessoas e objetos específicos de situações marcantes são recordados com mais textura.

    Tirania masculina e autoridade paternal:

    Uma das coisas que mais pautam a infância da Taeko, é a relação dela com a sua própria família, que é constituída por ela, pelas suas duas irmãs, a sua avó, a sua mãe e o seu pai.

    Se puxarmos o contexto japonês e o contexto da década de 1960, o homem da casa é incontestavelmente visto como o chefe de família e todas as suas decisões são lei, nesta família em específico nada é diferente do convencional.

    O pai da Taeko além de ditar o que se pode ou não fazer, é bajulado e tratado como deus dentro da própria casa pelas mulheres que o rodeiam.

    O próprio papel da mulher é visto em contraste de forma suave nas entrelinhas durante o filme, quando é mostrado imagens dos anos 60 a mulher é submissa e sem poder de decisão, já quando nos é mostrado imagens de 1982 vemos a evolução do papel da mulher espelhado na Taeko, que é uma mulher solteira, independente e que toma decisões pela própria cabeça

    As memórias são como chuva e nós também:

    A mensagem que este filme passa é que a vida corre e o que hoje é o presente amanhã são apenas memórias, memórias essas que são como gotas de chuva no meio de tantas outras que caem uma atrás da outra. O próprio nome do filme em japonês (Omoide Poro Poro) é um trocadilho com o som da chuva no idioma japonês (Poro Poro), o que reforça muito bem a mensagem do filme.

    Artigo por Eduardo Beja. Podem enviar os vossos artigos aqui.

    Helder Archer
    Helder Archer
    Fundou o OtakuPT em 2007 e desde então já escreveu mais de 50 mil artigos sobre anime, mangá e videojogos.

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