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    O maravilhoso mundo de “As Aventuras de Tom Sawyer”

    Poucas coisas no mundo do entretenimento conseguem incontestavelmente criar um mundo que faça o espectador criar um súbito desejo de querer habitar o universo do conteúdo audiovisual que consome, e é exatamente esse o tipo de sensação que todo o universo de As Aventuras de Tom Sawyer (Tom Sawyer no Bouken) cria em cada um de nós.

    Sinopse:

    Tom Sawyer é um rapaz que vive na pequena cidade de S.Petersburg (estado de Ilinóis, EUA), em finais do século XIX. Tom era muito novo quando os seu pais morreram, fazendo com que Tom e o seu irmão Sid fossem morar com a sua tia Polly e a com a sua prima Mary.

    Durante a história, acompanhamos a infância de Tom, que é repleta de aventuras e brincadeiras, que normalmente são acompanhadas pelo seu melhor amigo Huckleberry Finn, um rapaz sem família que vive sozinho numa casa na árvore.

    Pelo meio das suas aventuras e peripécias, Tom terá que lidar com coisas do quotidiano, desde a sua paixoneta pela sua amiga Becky, às terríveis situações criadas pelo aterrador Índio Joe, entre muitas outras.

    Como nasceu a obra:

    A série anime que foi ao ar pela primeira vez em 1980 conta com 49 episódios e é uma adaptação da obra mais aclamada de Mark Twain, um dos mais importantes escritores da literatura norte-americana. Já a sua produção veio pela mão da Nippon Animation, aquele que provavelmente foi o primeiro estúdio de animação em terras nipónicas a ter objetivamente como principal mercado o ocidente.

    Com o mercado dos conteúdos de animação a emergirem no mundo, o estúdio criou e desenvolveu um projeto durante décadas (entre 1969-1997, e em seguida, voltou em 2007) chamado de World Masterpiece Theater, que consistia em adaptar obras da literatura infantil ocidental em anime, tendo como principal cliente as televisões cá no ocidente, com uma especial atenção ao mercado europeu.

    Além de Tom Sawyer, o estúdio também adaptou para anime obras como: Heidi, O Cão de Flandres, Marco, Ana dos Cabelos Ruivos, entre muitos outros.

    Estreia em Portugal e a construção de imaginários ao longo de décadas:

    Portugal teve a sorte de ser um dos poucos países a ter sido agraciado com o licenciamento desta obra, a sua primeira transmissão aconteceu pela mão da RTP1 em 1981 e de lá pra cá foram vários lançamentos e relançamentos em formatos distintos como VHS e DVD, faltando apenas até à data um lançamento oficial via streaming.

    Todos estes constantes lançamentos ao longo das décadas permitiu que várias gerações de portugueses tivessem a sorte de construir o seu imaginário com as mais variadas aventuras de Tom Sawyer e seus amigos.

    Além de claro, ter deixado ficar implantado no nosso imaginário um genérico extremamente orelhudo.

    O maravilhoso mundo em que somos inseridos:

    Todo o universo da série anime é fascinante, faz com que cada um de nós que acompanhe as personagens ao longo dos 49 episódios se sinta a brincar e a conviver com eles, os amigos do Tom passam a ser os nossos amigos, o Índio Joe passa a ser o nosso maior medo e a grande margem do Mississípi passa a ser o pano de fundo que ambienta a nossa vida.

    É bastante curioso como o anime nos faz querer viver neste interior rural do final do seculo XIX, transparecendo a ideia de que é tudo uma maravilha, quase que nos faz esquecer que as pessoas nesta época provavelmente morriam aos 40 anos com uma virose que hoje em dia seria facilmente tratada com um medicamento que é banalmente adquirido numa farmácia local. Além de claro, os graves problemas raciais relacionados à escravatura presente nos Estados Unidos nesta época, que embora sejam assuntos que não são omitidos no anime, são sempre apaziguados pela narrativa e pela bondade das personagens principais.

    A verdade é que mesmo sendo uma época diferente dos dias de hoje, a forma como o anime nos mostra a vida de uma criança como o Tom faz com que todos os adultos e crianças se consigam espelhar nele e usufruir de igual forma dos 20 e poucos minutos de episódio, pois o nosso protagonista espelha um espírito de liberdade infantil que é universal e transcende gerações e épocas.

    A nossa relação com as personagens:

    Por o anime ter uma estrutura maioritariamente episódica, faz com que todas as personagens que aparecem na história (mesmo que momentaneamente) cumpram a sua função narrativa e que durante o período de duração do episódio nos importemos quer com a personagem, quer com o efeito das mesmas sobre a história.

    A tia Polly, o irmão Sid e a prima Mary são a família do Tom, mas também são a nossa família, ao longo de todo o anime vamos nos importando com as histórias paralelas que complementam o universo individual de cada um deles. A própria paixoneta do Tom pela Becky (e da Becky pelo Tom) é uma moleta de roteiro perfeita que serve como complemento da narrativa, todos nós ficamos com o coração quentinho com as cenas dos dois a fazer declarações ingénuas de amor um pelo outro.

    Já o Huckleberry Finn (Huck para os amigos) é o amigo que todos queremos ter e que certamente já tivemos em determinado período da nossa infância.

    A própria presença do Índio Joe como grande malvado da história serve para espelhar o medo subconsciente que as crianças têm pelo desconhecido e pelo que é diferente. Claro, temos que ter consciência da caracterização excessiva de ‘’homem mau’’ que é colocada sobre o design e do conceito do Índio Joe, mas temos que ter em conta também que é um anime de 1980 que adapta uma obra literária de 1876.

    Ambientação, sentimentos e trilha sonora:

    Como já deixei bem claro, é uma obra que nos aquece o coração enquanto vamos usufruindo dela, muito por culpa do ambiente em que quer as personagens quer o espectador é exposto. Nomeadamente, paisagens verdes, vastos campos abertos, colinas, e claro, o enorme rio do Mississípi.

    A trilha sonora também foi uma excelente cartada por parte da produção do anime, optaram por criar uma trilha sonora em cima da música tradicional americana presente naquela região (como sons baseados em harmónicas e banjo) que casa na perfeição com o ambiente a que somos expostos, aprimorando assim a nossa experiência com o anime.

    Artigo por Eduardo Beja. Podem enviar os vossos artigos aqui.

    Helder Archer
    Helder Archer
    Fundou o OtakuPT em 2007 e desde então já escreveu mais de 50 mil artigos sobre anime, mangá e videojogos.

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    Edo
    Edo
    16 , Janeiro , 2022 19:55

    Artigo Maravilhoso ( só podia ser escrito pelo Beja).
    Quando vim do brasil pra Portugal meu pai ( que é Português) me mostrou vários dvd’s piratas de Tom Sawyer, passava horas e horas a ver! Muitas vezes foram minha companhia e me ajudou muito a perceber o portugues de Portugal.
    Um artigo muito nostalgico, muitos parabens!
    Que venham mais.

    Admmi
    Admmi
    16 , Janeiro , 2022 19:43

    Ah Tom Sawyer, não posso dizer q me lembro de todos os episódios, mas aquele q o Tom revela para a turma q o prof é careca faz-me sempre sorrir quando ele aparece na minha cabeça por alguma razão, o do porco(era um javali? Não me lembro direito) também nunca desapareceu da minha mente. O final do dia no atl era uma maravilha, quem me dera voltar.

    Gil Santos
    Gil Santos
    16 , Janeiro , 2022 19:29

    Beja-sama no seu melhor. Beja Editora em 2022!!!

    🍦Pico🍦
    🍦Pico🍦
    17 , Janeiro , 2022 14:27

    Nunca ouvi falar, provavelmente porque sou BR e os animes que passavam na TV aqui a maioria era Shounem, raramente passava um slice Of life.🍦

    Samuel Silva
    Samuel Silva
    19 , Janeiro , 2022 0:14

    Nostalgia pura! Tom Saywer, Ana dos Cabelos Ruivos, Heidi, Marco, Alice no País das Maravilhas, D’artagnan e os 3 Mosqueteiros… Quando era criança já era otaku e ainda não conhecia o termo anime!

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