Artigo por Eduardo Beja. Podem enviar os vossos artigos aqui.
Antes de começarmos, é importante referir que este artigo contém spoilers da obra ReLife e que caso não tenham lido/visto pode interferir na vossa experiência com a mesma.
Também é importante frisar que este artigo irá focar principalmente no mangá, claro que eventualmente poderei citar a adaptação para anime, mas não será esse o foco deste artigo.
A sinopse de ReLife:
- O mangá conta a história de Arata Kaizaki, um homem de 27 anos, que mergulha de cabeça no desemprego depois de abandonar seu último emprego após apenas 3 meses de trabalho após algumas situações extremamente dramáticas. Como consequência, o nosso protagonista vive numa busca interminável por um emprego enquanto é acompanhado por uma sensação de que chegou ao fundo do poço. Um dia, um homem misterioso chamado Ryō Yoake, oferece-lhe uma oportunidade de emprego, mas para que isso seja possível, Kaizaki tem que se tornar uma cobaia de testes para uma empresa chamada ReLife: Uma experiência científica que consiste em rejuvenescer a cobaia 10 anos para que possa reviver um ano no ensino secundário e vivenciar novas experiências, a fim de, no meio do processo, corrigir o que aconteceu de errado na sua vida e assim acontece, Arata toma uma pílula e volta a ter 17 anos novamente. Com isto, acaba por ser enviado para a escola Aoba como um estudante do ensino secundário, com seu custo de vida sendo sustentado pela empresa responsável pela experiência, a empresa ReLIFE. Mas este processo Relife possui duas regras básicas:
- Se alguém que conviva com a cobaia descobrir a experiência, tudo terminará e as memórias da cobaia serão apagadas e não terá o prometido emprego que seria garantido após o término do processo;
- Após o ReLife, todas as pessoas com quem a cobaia conviveu durante o ano lectivo terão todas as memórias relativas a si mesmo apagadas;
O que torna ReLife um mangá tão bom? :
ReLife é a única obra deste género com que tive contacto que consegue acertar de forma efetiva todas as propostas a que se propõe, tanto em desenvolvimento de narrativa e personagens, como a modular de forma perfeita outros aspetos da obra.
Uma das coisas mais interessantes em ressaltar, é que embora o ambiente adotado nesta história seja um meio social maioritariamente adolescente e com estética Moe, é uma obra especificamente direcionada ao público adulto.
Os traumas de Kaizaki e como isso é o centro da obra:
Como já foi referido na sinopse, o nosso protagonista Arata Kaizaki deixa o emprego após 3 meses na empresa e que isso parece pouco para se ter tornado num NEET, no entanto, o buraco é ainda mais fundo do que parece.
Durante o mangá conhecemos melhor a história de Kaizaki, mudou-se para Tóquio vindo de uma cidade rural com o pretexto de estudar numa cidade grande cheia de aparentes possibilidades e acabou numa empresa onde a sua Senpai era constantemente vítima de Bullying por partes dos colegas de trabalho, culminando assim no seu suicídio e num trauma gigantesco para o nosso protagonista.
Após esse acontecimento, Kaizaki deixou a empresa e mergulhou no estatuto de NEET quase de cabeça até ser resgatado pelo projeto ReLife.
Posto isto, gosto de frisar como toda a narrativa é guiada direta e indiretamente pelos traumas de Kaizaki, desde a sua socialização e confiança para com os outros até a forma como resolve os problemas deles e das pessoas ao seu redor.
Hishiro, a outra cobaia:
Durante o desenrolar da história ficamos a conhecer a Chizuru Hishiro, uma personagem incapaz tanto de sentir emoções e sentimentos como de as expressar corretamente.
Hishiro é a personagem que mais ‘terreno’ ganha na história, principalmente da segunda metade pra frente, muito por conta do facto de ser revelado que ela é outra cobaia no projeto ReLife.
Além desse plot ser revelado, nasce um clima amoroso entre Kaizaki e Hishiro que é encarado por ambas as partes como proibido precisamente por ambos considerarem que o outro é um adolescente de 17 anos.
Podia simplesmente ser um romance tosco de mangá, porém a relação entre os dois é o catalisador de várias situações de extrema importância não só para a narrativa, mas também para o desenvolvimento de ambas as personagens, principalmente para a Hishiro.
No meio de tantas personagens, existe o Ooga:
A trama de ReLife é composta por várias personagens, cada uma com a sua importância e a sua respetiva função narrativa, mas no meio de todas as que se cruzam connosco durante o mangá, o Kazuomi Ooga é sem dúvida a mais relevante e uma das que mais nos marca.
Ooga é um aluno de mérito, carismático, engraçado e o amigo que todos queremos ter.
Além de todas as qualidades que adivinhem do carisma da personagem, é também o personagem mais bem trabalhado da história quando excluímos o casal principal constituído por Kaizaki e Hishiro.
O Kazuomi Ooga é essencialmente relembrado pelo relacionamento com Kariu, no entanto, o que mais me marcou ao longo da história relacionado ao Ooga foi sem dúvida o seu contexto familiar.
Ooga vive num seio familiar complicado, a mãe fugiu com outro homem, o pai trabalha várias horas para sustentar a família (o que obriga o Ooga a trabalhar em part-time para ajudar com as despesas) e pior de tudo, tem um irmão NEET que vive num profundo isolamento social.
Além de todo este background interessante por parte desta personagem, é também um dos melhores personagens (se não o melhor) a servir de ‘muleta narrativa’.
A obra como um todo:
Neste mercado do entretenimento japonês existem vários mangás e animes relacionados à vida escolar e outros tantos relacionados a protagonistas que voltam no tempo pra corrigirem os erros do passado, no entanto, nenhuma outra obra conseguiu espelhar as inseguranças da transição para a vida adulta que é um dos principais problemas da sociedade atual, onde não há um ‘click’ automático como é propagado pelas gerações mais velhas com que convivemos.
A meu ver ReLife é uma ótima narrativa tanto para jovens como para adultos, mas volto a frisar, é uma obra principalmente para adultos.
Além do mais, a simples mensagem que ReLife quer transmitir é refletida na conclusão a que Kaizaki chega quando a obra se encontra na reta final, que é: – ‘’A vida do ser-humano é curta desde o começo.’’.
Simplificando, é uma mensagem tanto para que os jovens que estão a ler ReLife (dizendo para criarem memórias nos tempos dourados da juventude que são momentâneos), tanto para os adultos (corram atrás do prejuízo, ainda vão a tempo).
´´Então e a adaptação para anime?´´:
Bom, eu acho uma adaptação extremamente ok (mas pelo menos a música de abertura é boa).
Embora adapte bastante bem a primeira metade da história, a direção optou por não aprofundar alguns assuntos e deixou a estética ainda mais Moe do que no mangá.
Já o seu final veio mais tarde através de 4 OVA’s que embora façam um excelente resumo do que restava do mangá, não adaptou as melhores partes.
Posto isto, vão ler ReLife, não se vão arrepender.
Artigo do Deus Beja?! Muito Bom!
Sou muito fã de relife, mangá muito bom e analise perfeita.
Esperando a analise de samurai x kkkkk
Gostei muito da análise. ReLife é lindo, esplêndido e realista. Tá facilmente no meu top 10 de melhores mangás/anime. tanto o anime que é excelente, quanto o mangá que é muito gostoso de se ler. Recomendo à todos.