As autoridades russas avançaram esta semana com um processo judicial contra a Lesta Games e a Wargaming, as produtoras do jogo World of Tanks, acusando-as de secretamente estarem a financiar a Ucrânia.
O popular jogo “free-to-play” de combate entre tanques já conta com mais de uma década ao ativo, mas o cenário nos bastidores tem sido tão turbulento quanto as batalhas virtuais que apresenta. Recorde-se que a Wargaming, o estúdio responsável pelo título, cessou todas as operações na Rússia e na Bielorrússia em 2022, após o início da invasão da Ucrânia.
Desde então, a gestão e publicação de World of Tanks no território russo ficou a cargo da Lesta Games, agora alvo desta ofensiva judicial. Um tribunal de Moscovo aprovou esta semana o pedido da Procuradoria-Geral para congelar todos os ativos da empresa.
Entre os visados estão também, Malik Khatazhaev o cofundador da Lesta Games, e Viktor Kisly, o CEO da Wargaming, e ambos foram declarados como extremistas pelo governo russo, sob a acusação de apoiarem financeiramente as forças armadas ucranianas. A decisão baseia-se, entre outras alegações, em campanhas solidárias promovidas pela Wargaming, que inclui uma que arrecadou mais de um milhão de dólares para ambulâncias de emergência, através da venda de itens cosméticos no jogo, iniciativas consideradas ilegais e subversivas pelas autoridades russas.
Apesar de ambas as empresas garantirem, desde há mais de dois anos, não manter qualquer relação, o governo russo decidiu avançar com a medida. A comunidade de jogadores no país, embora manifestamente patriótica, teme agora eventuais represálias por continuar a jogar World of Tanks.
Contudo, Anton Gorelkin, o vice-presidente do Comité de Tecnologia da Duma, assegurou que os jogadores não serão alvo de perseguições. As acusações são dirigidas à empresa e não aos jogadores.
No entanto, a medida esconde um objetivo económico. Os ativos da Lesta Games vão ser transferidos para uma tecnológica russa com ligações ao Estado, possivelmente a VK.
Esta não é a primeira vez que as autoridades russas reagem à saída da Wargaming da região. Em 2022, o responsável de desenvolvimento comercial da empresa foi incluído na lista de terroristas da Bielorrússia.
Este é mais um capítulo no prolongado do conflito geopolítico entre a Rússia e a Ucrânia, que tem vindo a estender-se também à indústria dos videojogos que afeta jogos, tais como World of Tanks e STALKER 2: Heart of Chornobyl.