The Legend of Heroes: Trails é uma das séries que mais rapidamente está a ganhar tração no ocidente. A mesma atingiu notoriedade nos nossos territórios durante a crise de identidade que muitos jogos japoneses tiveram durante o início da década passada. Devido a este efeito dezenas perderam o barco para o velho continente e arredores, e muitos pensávamos que estariam perdidos para todo o sempre. Felizmente um grupo de fãs extremamente dedicados intitulados de Geofront decidiram pegar na aventura da SSS para a servirem aos seus fãs através de um requintado patch de tradução. Este acontecimento não só uniu os fãs como fez como que a NIS America produzisse este grande milagre. Preparem o vosso distintivo da SSS e descubram se este jogo sobreviveu ao teste do tempo, se uma aventura já com uns bons anos nas suas costas sobrevive a tantas outras nesta era moderna.

The Legend of Heroes: Trails from Zero convida os jogadores até à cidade-estado de Crossbell, uma pequena região situada entre Erebonia (The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel) e a República de Calvard (The Legend of Heroes: Kuro no Kiseki). A mesma é regida de forma autónoma, mas recentemente surgiram rumores que estas duas nações a querem colonizar, devido a diversos interesses quer a nível político como financeiro. Completamente alheio estes elementos e do papel que irá desempenhar, encontramos o jovem Llyod Bannings a viajar de comboio em direção a esta cidade. Na verdade, Llyod é natural de Crossbell, mas está de regresso a casa porque partiu há três anos para estudar na academia de polícia e seguir os passos do seu irmão Guy e Cecille (noiva de Guy), dois grandes agentes da C.P.D, o departamento de polícia de Crossbell.

A introdução de conceitos e mundo não causará fadiga ao jogador

Contudo, ao chegar ao local o seu entusiasmo esfuma-se porque o que encontra não é nada do que esperava. Ao invés de uma força policial valorosa, é apresentado a um departamento de “biscates”. A SSS -Special Support Section- foi criada para se equiparar aos “Bracers”, ao desempenhar essencialmente as mesmas funções. Encontrar o paradeiro de pessoas desaparecidas, acalmar brigas entre gangues rivais, e até fazer inspeções a viaturas, são apenas algumas destas atividades, que podem parecer um tanto simples aos olhares de Llyod. Porém e como verão ao longo desta magnifica história, existe um propósito muito específico para existirem.

É preciso salientar que nos momentos iniciais a Nihon Falcom Corporation soube servir o jogador com dezenas de conceitos sem cansar e de uma forma muito orgânica, visto que Lloyd introduz inúmeras referências e conceitos políticos durante uma conversa com um casal de idosos num interior de um comboio. A conversa foi de tal forma “humana”, que se sentiu mesmo como se fosse uma que tivéssemos na mesma situação, pois foi servida na ótica de um trio de personagens que se encontraram casualmente, sem expor demasiado e sem fatigar, com quadros, longas linhas de texto e outras confusões como já assistimos em jogos deste género. Contudo, como falamos de um jogo que recebeu lançamento depois da trilogia The Legend of Heroes: Trails in the Sky, vão existir diversas instâncias que terão um sabor bem diferente se tivermos jogado anteriormente os seus capítulos, especialmente o terceiro The Legend of Heroes: Trails in the Sky: The 3rd, visto que introduz diversos elementos no primeiro episódio desta duologia.

Também deixamos o aviso se não jogaram o terceiro episódio da série The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III, que joguem este primeiro, pois possui diversos spoilers durante a estadia de Juna na sua cidade natal. Na verdade, estes jogos recebem sempre um requinte diferente, se forem jogados em sequência, não é que não possam ser desfrutados como uma experiência a “solo”, mas os seus diversos momentos terão um destaque e um peso muito maior na história e desenvolvimentos nas situações e nas personagens.

Num ponto narrativo, The Legend of Heroes: Trails from Zero é muito semelhante ao primeiro episódio de Erebonia, ou seja, a The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel, visto que também divide atividades simples e mundanas enquanto sentimos que se tecem por detrás das suas cortinas eventos e conspirações. Tal como no primeiro jogo de Rean Schwarzer, todas explodem no seu capítulo final, sem que tenhamos sequer oportunidade de deliciar-nos com um momento para sermos servidos com outras ainda mais repletas de emoção e adrenalina. Pode parecer estranho estarmos a comparar a sua narrativa com um produto futuro, mas acreditem que o fluxo de ambos é muito semelhante.

Após visitar Crossbell em Trails of Cold Steel foi interessante assistir à sua versão original 2D

Tal como a lendária produtora de jogos japonesa já nos habituou, o jogo apresenta um elenco de luxo. Embora na superfície as suas personagens possam ser descritas como estereótipos, a sua execução trouxe sempre algo de diferente para o próprio ecossistema do jogo. Acreditem quer as interações em grupo como com Npcs, são um mimo, infelizmente (ou felizmente) não tivemos “Bruh Moments” nesta versão porque a Geofront não participou ativamente, mas podem crer que a NIS America aprendeu imenso com os elementos tecnológicos nas mesmas, realmente esta versão de The Legend of Heroes: Trails From Zero está muitos pontos acima da versão da Joyoland e até The Legend of Heroes: Trails from Zero KAI.

Existem diversos rumores, que as versões para a Nintendo Switch e para o PC, serão superiores devido a mais uma vez contarem com o envolvimento de Durante nas mesmas, e a PlayStation 4 ser uma simples port de “KAI” traduzida para inglês  -os únicos idiomas disponíveis por texto são o inglês e o japonês.  Independentemente se é verdade ou não, The Legend of Heroes: Trails from Zero no PC no ocidente, parece ter como base a versão “KAI” de The Legend of Heroes: Trails from Zero. A aventura da SSS recebeu originalmente lançamento para a PlayStation Portable em 2010. Devido ao seu pequeno ecrã, a “UI” teve de ficar situada em locais muito próximos uns dos outros. Como seria de esperar um dos maiores problemas desta port seria transitar a “UI” para um grande ecrã. Felizmente, Durante não só conseguiu deslindar este elemento como atribuiu diversas melhorias aos restantes. Todos os sprites de texto, mapas, ícones e recortes de personagens foram recriados em HD, o layout das caixas de texto também foi reformulado para permitir menos ou mais texto sem deixar espaços em branco ou cortes, e as colunas dos menus foram ajustadas para o lado esquerdo. Se desejarmos esconder a “UI” por completo, ou manter apenas elementos como o “HP”, “CP” ou molduras de personagens atualizadas, também será possível selecionando a opção pretendida através de vários “presets” no menu de opções. Estes efeitos permitem obtermos uma maior gestão de elementos em vários formatos de ecrãs modernos -o jogo permite escolher escalas- desde 16: 9 por 16:10 que encontramos na Steam Deck ou em alguns computadores portáteis por exemplo. O mesmo pode ser dito do suporte do rato e teclado. O jogo pode ser jogado na integra apenas com o uso do rato. Desde navegação de menus até minijogos, todos podem ser desfrutados apenas com o uso do rato. Para controlarmos a SSS foi necessário apenas clicar e manter o botão esquerdo para nos dirigirmos do ponto A ao B. Simples, rápido e muito intuitivo.

Os modelos de personagens e cenários estão mais detalhados que nunca

Na versão original, The Legend of Heroes: Trails from Zero não tinha o suporte aos logs dos diálogos de personagens. Esta opção apenas foi apresentada no primeiro The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel. Contudo foi implementada pela tradução da Geofront na versão PC da Joyoland. A NIS America e Durante, decidiram resgatar a mesma e transmutá-la para esta versão de The Legend of Heroes: Trails from Zero. Sem dúvida uma grande alegria para os seus fãs, pois esta era uma das características que queriam ver implementada.

Inevitavelmente, o elemento mais aguardado com expetativa por todos são os seus grafismos. Mais uma vez esta versão de The Legend of Heroes: Trails from Zero não desapontou. A NIS America pegou nos modelos de personagens da versão PC da Joyoland e utilizou técnicas de upscalling usando “neural networks” para polir e aumentar a resolução dos sprites das personagens, afinal The Legend of Heroes: Trails from Zero, partilhava ainda o 2D e 3D de The Legend of Heroes: Trails in the Sky. Este incremento de qualidade não se manifestou apenas nos sprites de personagens, isto porque a NIS America e Durante também as implementaram em todos os outros elementos 2D, tais como mapas, menus, etc.

Adicionalmente, para permitir uma maior aproximação ao jogo original, foi implementada a opção “Character Glow”, que permite configurar a saturação de cor e o brilho desejados do sprite original ao sprite moderno atualizado. Nunca as personagens foram tão nítidas e detalhadas numa port deste jogo. As texturas 3D nos cenários, veículos e outros elementos também não foram esquecidos. Através da “”PH3 ImageToolDurante e a sua equipa puderam escolher regiões individuais de uma textura, tais como folhagens, sinalização, ou edifícios para criar uma versão moderna de forma a preservar o charme original do jogo e manter a consistência das texturas em todos os cenários, um efeito inexistente na versão “KAI”.

Os logs de conversas não estavam presentes no jogo original

Quanto a grafismos propriamente ditos, o jogo apresenta o mesmo charme de 2010, ou seja, campos 3D numa estética isométrica e personagens 2D. Este promete ser o maior registo negativo para os jogadores menos atentos. Contudo, convém não esquecer que estamos diante de um jogo que perdeu o barco ocidental de 2010, numa altura onde a série The Legend of Heroes: Trails nem sequer era referida e era muito pouco conhecida no ocidente. Na nossa ótica os grafismos não desapontaram, pelo contrário retêm um certo charme retro que gradualmente imergiu. Sem surpresa, o jogo pode ser desfrutado com todos os seus elementos ao máximo. Sejamos sinceros, The Legend of Heroes: Trails from Zero é um jogo que não porá nenhuma barreira na configuração. Qualquer PC pode sem dúvida executar o jogo sem problemas. Surpreendentemente, mesmo diante de um jogo da década passada, podemos encontrar diversas opções gráficas modernas. Além do já referido “Character Glow” os jogadores podem polvilhar esta grande aventura com efeitos de sombra dinâmicos, filtros de antialising e anisotrópicos, V-Sync, resolução e fotogramas -165 consistentes no nosso computador portátil Lenovo Legion 5.

No entanto, em certas instâncias como vídeos animados, fotogramas a mais de 60 não conseguiram acompanhar a ação, o que se traduziu em animações em “fast forward”, inclusive o vídeo de abertura foi cortado a metade com a canção ainda a decorrer. Esta foi uma autêntica surpresa porque na revelação do lançamento do jogo no ocidente, o vídeo passou uma versão instrumental de “Way of Life”, o tema de abertura do jogo. O que felizmente conseguiu equiparar-se à ação foi a sua banda sonora. A Falcom Sound Team jdk mais uma vez afirmou-se como uma das mais geniais compositoras de faixas musicais. O tema de batalha composto por Saki Momiyama, “Get over the Barrier” tornou-se imediatamente num dos nossos favoritos de toda a série. Além de ser incrivelmente motivacional, é intenso e evoca na perfeição a personalidade e espírito de equipa da SSS. O mesmo pode ser dito das faixas “Inevitable Struggle” e “Formidable Enemy” compostas por Masanori Osaki que evocam os mesmos sentimentos, contudo, foram inseridas em outros momentos. Para saberem o tema de cada faixa musical só têm de escolher a opção no menu correspondente.

Mesmo ouvindo a faixa musical que acompanha os túneis da Geofront novamente, foi inevitável não assobiar e bater palmas ao som da sua melodia

The Legend of Heroes: Trails from Zero, é sem dúvida um sonho tornado realidade que só foi possível concretizar-se com o apoio continuo dos seus fãs. Mesmo perante um jogo a caminho das duas décadas, a sua qualidade é tanta que destrói por completo muitas produções de elevado orçamento de hoje em dia. Uma história fantástica, um dos melhores elencos, uma genial banda sonora, e diversas adições tecnológicas fazem também deste um dos melhores jogos da série. Atreve-te a transpor a barreira! Não ficarás desapontado!

Pros:

  • Resgate de uma das mais importantes narrativas da série
  • História crescente com um clímax fantástico
  • Um dos melhores elencos da série (Trails)
  • Implementação de diversas opções visuais e tecnológicas
  • Sprites e ambientes mais polidos que nunca
  • Excelente banda sonora
  • Sobreviveu ao teste do tempo

Cons:

  • Aspeto gráfico vai afastar muitos jogadores
  • Apenas o suporte a textos em inglês e japonês
  • Vídeos cortados devido a um elevado número de fotogramas
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Lucius Artorius Pendragon
Lucius Artorius Pendragon
20 , Setembro , 2022 14:51

Apesar de só ter jogado esse jogo em 2018/19 eu ainda sinto saudades que quando os jogos da Falcom eram assim. Um grupo com poucos personagens sem muitas individualidades em um mundo muito maior que eles.

Trails from Zero/Azure são jogos incríveis.

Daí veio Rean Schwarzer com a turmas de merda (ambas) dele e transformaram uma das franquias mais incríveis que eu conheci em uma franquia que só me deixa p*to. Coldsteel tem 17 protagonistas e nem um deles é bom tnc.