Gegege no Kitaro (2018) foi um reboot/nova série, produzida pela Toei Animation de uma das obras animadas mais antigas japonesas, e que teve várias encarnações ao longo de cinco décadas. A mesma introduz-nos a Gegege no Kitaro, um rapaz que vive numa floresta junto do seu pai (Medama Oyaji), um olho com um corpo. Juntos vivem em harmonia na companhia de vários yokai, baseados numa panóplia de espíritos do folclore japonês. A série segue mais ou menos os mesmos moldes das suas antecessoras, contudo introduziu um elemento que fez toda a diferença e que na minha ótica separou-a das anteriores.
Esta versão de Gegege no Kitaro, introduziu as suas personagens no mundo atual. Pela primeira vez pudemos assistir às aventuras de Kitaro quando estes estavam providos de telemóveis, internet e de diversas redes sociais. Este fator contribuiu para esta série atuar também de crítica social, explorando alguns dos piores reflexos da vida social humana.YouTubers que perdem a sua humanidade em troca de prestígio, pais de família que roubam ou submetem-se aos caprichos de patrões corruptos, traições, e até adultérios. Estes são temas adultos que foram visitados várias vezes e mesmo Gegege no Kitaro se tratar de uma série de cariz familiar, não hesitou em demonstrar com clareza e frontalidade, as consequências destes.
Uma das enormes forças desta série também passou pelas suas personagens, nomeadamente Kitaro. Este rapaz tornou-se numa das minhas personagens favoritas, devido principalmente a sua neutralidade. Na maioria das vezes Kitaro apenas adverte quem está a prejudicar tanto a sociedade humana como a yokai, neste mundo as duas coexistem. Na verdade, um dos seus maiores prevaricadores é um ser desta espécie, chamado homem rato (Nezumi Otoko), que a todo o custo tenta enriquecer ou ganhar fama. Este explora geralmente a fraqueza do coração humano, devido a sua frontalidade e fraqueza, contudo no final da série o homem rato pelo que viu e assistiu consegue, remedir-se desse mal de uma forma muito contextualizada e honesta.
No entanto, o melhor desta série veio ao de cima, quando humanos desrespeitam outros da sua espécie, espíritos yokai, ou a própria natureza. Nesses momentos Kitaro, não se mete com meias-medidas e consegue ser brutalmente cruel, demonstrando o quando duras podem ser as consequências de quem comete pecados.
A obra da Toei também soube adaptar as suas personagens e ambientes ao mundo moderno. Embora Kitaro se veste igual, tem maneirismos mais atuais. A sua amiga Mulher Gato (Neko Musume), também soube transitar para uma era mais moderna, vestindo-se de uma maneira mais sofisticada e atual, se bem que alguns afirmam que a produção a sensualizou demasiado.
A história como já referi é inicialmente muito episódica, porém a maneira como é escrita e referida dos momentos finais da série fez com que mesmo o momento mais mundano fosse importante. Mesmo assim, espera-vos muita ação, já que esta encarnação de Kitaro, também conta com alguns miniarcos com muitos desenvolvimentos surpreendentes como foram os casos do arco do Backbeard, e do Nurarihyon, dois dos maiores adversários de Kitaro que regressam!
Gegege no Kitaro (2018) foi uma das melhores séries que passou nestes últimos anos, devido aos temas, pela sua escrita, as suas personagens e a sua honestidade. Certamente passou debaixo dos radares de muita gente devido a sua natureza episódica e por ocupar a slot horária deixada por Dragon Ball Super. Desta leva, e nesta quarentena deixo o apelo a todos assistirem a Gegege no Kitaro (2018) quer sejam miúdos ou graúdos.
Bem animado e bem escrito, muito emocionante, facilmente um dos animes mais subestimado dos últimos 5 anos.
Talvez o melhor nessa escala.
Foi uma ótima produção da Toei, levando em conta que é uma narrativa infantil ele cumpre bastante seu papel e trabalha temáticas atuais bem pertinentes.
Não diria melhor, pena é que pouco tenham assistido. Certos episódios foram fantásticos, como o do comboio no inferno, um dos meus favoritos.