Anifactos: A Origem do Studio Sunrise

A Sunrise foi fundada em 1972, hoje é dia uma filial da Bandai Namco Entertainment. Este estúdio de Animação tornou-se célebre pela franchise Mobile Suit Gundam, e vulgarmente é associado ao género mecha. Também foi responsável por várias outras obras fora deste género tais como Gintama, Cowboy Bebop, Inuyasha e Love Live! Contudo foi no género mecha que não só influenciou como venceu mais de 11 Animage Awards, ou seja um terço de todos os prémios desta gala (até agora foi o único a conseguir tal proeza). Também devidas as suas ideias vanguardistas foi obrigado a desdobrar-se. Para ficarmos a saber como tudo aconteceu temos de viajar um pouco atrás do tempo.

Certamente que devem lembrar-se do estúdio Mushi, o qual indiquei numa das edições anteriores do Anifactos. Pois bem muito resumidamente, a Mushi Production enfrentava muitas dificuldades financeiras, e o estúdio aos poucos foi perdendo membros antes de declarar falência a meados de 1973. Muito desde facto deve-se a sua própria filosofia de trabalho, isto porque a sua ideologia, obras, e escrita eram todas influenciadas e centradas por Osamu Tezuka, que mesmo sendo considerado o “Pai do Manga”, muitos dos seus funcionários acabavam sentindo-se prejudicados, isto por verem-se limitados a apenas seguir a visão de um homem, concluindo que a sua criatividade e originalidade eram postas de parte.

Foi em 1972, (ainda durante os últimos meses da Mushi Productions) que um grupo destes funcionários decidiram criar um local de trabalho próprio, assim o estúdio de animação Nippon Sunrise (Yugen-kaisha Sanraizu Sutajio) abriu as suas portas. Este estúdio foi criado com simples filosofias em mente. Todas as suas obras seriam na sua maioria originais, (não estando sujeitas a produção incessante de adaptações de Manga tais como as de Tezuka) e que pudessem trabalhar num ambiente calmo e descontraído. O próprio nome é uma alusão a este conceito, isto porque a equipa queria ver um novo nascer de animações e produções originais no país do sol nascente. Nesta altura o mercado e indústria de anime, estavam absolutamente saturadas de adaptações Manga de séries de desporto e clássicos infantis. Foi então que um dos seus funcionários, o Sr. Yoshiyuki Tomino, decidiu ser vanguardista, e explorar um novo mercado, o género mecha, o qual existiam muito poucas histórias, não só por serem limitadas a um público específico, como também serem muito complicadas de animar e produzir. Foi em 1979 que a Sunrise produziu a sua primeira grande obra, a qual não teve o sucesso inicial esperado, chegando quase a ser cancelada, falamos do eterno Mobile Suit Gundam.

Apenas alcançou a sua notoriedade com uma reedição nos cinemas a 14 de Março de 1981. Esta dividiu-se em três filmes, e seguia visão original da obra segundo o seu criador. Mobile Suit Gundam I (14 de março de 1981), Mobile Suit Gundam II: Soldiers of Sorrow (11 de julho de 1981) e finalmente Mobile Suit Gundam III: Encounters in Space (13 de março de 1982). A razão de tal sucesso não sabemos, mas muitos afirmam que viajavam até ao cinema apenas para ver os corpos desnudados de algumas personagens femininas desta grande obra. Muitos ainda vão mais longe e afirmam que Yoshiyuki Tomino e Rumiko Takahashi são os pais do fanservice, uma ideia que Tomino abomina, e a principal razão porque em todas as suas séries as mulheres geralmente morrem, com a franchise Mobile Suit Gundam, então são as dezenas!

Depois de Mobile Suit Gundam, cada vez mais o estúdio recebia interesse de produtoras, funcionários e especialmente de uma produtora de uma linha de brinquedos que não deve ser desconhecida por nenhum vocês, a Bandai, cuja ambição era vender as Mobile Suits de Gundam, as crianças. Por volta de 1993/1994 surgiu uma grande pressão de várias empresas porque que queriam mais controle sobre as produções da Sunrise. Principalmente porque queriam fazer da Sunrise uma empresa ainda mais comercial. Foi com essa pressão que vários realizadores começaram a ficar bastante chateados, Tomino em particular ficou muito zangado quando estava a escrever Victory Gundam e segundo rumores dizem, este que fez de tudo para tornar Victory Gundam um anime tão depressivo e tão pesado quanto possível, em resposta a pressão dos patrocinadores e criadores de brinquedos. Dotado de uma arte realista, uma história deprimente e obscura, o próprio dizia mesmo para não assistirem a Victory Gundam! Agora que penso muita coisa faz imenso sentido.

Face a tanta pressão, a Sunrise foi obrigada a desdobrar e expandir-se criando pequenos Ateliês. Mesmo assim cada dispunha de um realizador, ou conjunto de realizadores particulares, equipa criativa, tema ou estilo. Este método de trabalho ainda está presente na Sunrise, ao todo e a semelhança de Dragon Ball Super (onde existem 11 universos em disputa) existiram 11 sub-estúdios, e sem mais demoras vamos descobrir cada um destes.

Estúdio Sunrise #1.
O Estúdio #1 é o estúdio progenitor da Sunrise, foi aqui que não só nasceu Mobile Suit Gundam, como Zambot, Ideon Votoms e Patlabor. É um estúdio focado primordialmente para este género de animações, sendo que também foram criadas algumas colaborações com a Toei Animation, o anterior principal produtor deste tipo de obras. Muito curiosamente também foi estúdio responsável por produzir as adaptações de Inuyasha, Kekkaishi e Tales of the Abyss: The Animation.

Estúdio Sunrise #2
Considerado o estúdio com a melhor qualidade dentro da Sunrise na década de 80 e 90.
Criado em mente para aliviar a carga do estúdio #1. Outrora liderado pelo próprio Yoshiyuki Tomino e no seu currículo passaram obras lendárias tais como, Mobile Suit Zeta Gundam, Mobile Suit Gundam ZZ, Mobile Suit Gundam F91, Mobile Suit G Gundam, Dunbine, Xabungle, Tenkuu no Escaflowne e Cowboy Bebop, este último foi o seu último trabalho já que muitos desses funcionários saíram em massa e fundaram outro estúdio, o estúdio Bones.

Estúdio Sunrise #3

Criado a meados de 1975, coproduziu Kumu Kumu com ITC Japan e Born Free com a Tsuburuya Productions. O seu primeiro trabalho a solo foi uma adaptação de White Fang em 1981, sendo a primeira produção que não evolvia elementos de ficção científica. Continuou criando obras e de lá saíram, Vifam, Layzner, a série de City Hunter, Stardust Memory, Victory Gundam e 08th MS Team. Foi o principal estúdio de Gundam SEED Destiny. Trabalhou também nas temporadas de Gundam 00, no seu filme, e em Mobile Suit Gundam: Iron-Blooded Orphans.

Estúdio Sunrise #4

Fundado em 1979, enquanto algumas obras são creditadas ao Estúdio 4, outras são pelo estúdio Logi, existem poucas informações sobre este estúdio, mas evidentemente que existe uma ligação entre os dois. O seu primeiro trabalho foi com Cyborg 009. Atualmente Goro Taniguchi é o diretor do mesmo e produziram recentemente as duas temporadas de Code Geass, bem como os seus filmes.

Poucas obras são diretamente creditadas ao Sunrise #4, isto porque é que este número tem uma forte componente supersticiosa no Japão. Apenas sabemos que trabalhou em algumas produções de 79 a 87, ficando no limbo por mais de uma década. As obras creditadas incluem: Dirty Pair, Giant Gorg e Votoms Big Battle OVA.

Estúdio Sunrise Logi

O Estúdio Logi foi desfeito após Wings of Rean sendo renomeado como #4. Foram produzidas muito poucas obras, entre as quais contam no seu currículo: Scryed, King Gainer, Planetes e o já referido Wings of Rean.

Estúdio Sunrise #5

Fundado em 1979 um pouco depois do Estúdio 4 original.

O seu primeiro trabalho foi com Tanser, pouco depois também ficou no limbo, regressando em 1987 com o original SD Gundam e Starship Troopers OVA. No seu rol também estão presentes Gundam 0080 War, Eldoran, Banner/Crest of the Stars, os filmes de Inuyasha e presentemente Gintama. A série Eldoran nasceu de uma parceria entre os fabricantes de brinquedos Tomy. Em 1994, a Nippon Sunrise foi comprada pela Bandai, modificando o nome apenas para Sunrise desfazendo assim o seu negócio, isto porque a Takara Tomy e a Bandai Namco Entertainment são rivais. Um dos produtores, Mikihiro Iwata, abandonou o #5 e ajudando a criar o estúdio A-1 Pictures.

Estúdio Sunrise #6

Fundado em 1983, os seus primeiros trabalhos foram as compilações de filmes de Xabungle e Dougram. Depois de 1983, fez uma pausa até 1996. Trabalhou nas sequelas de City Hunter, Cyber Formula e Machine Eiyuuden Wataru, acabando por criar o seu primeiro trabalho original, The Big O. Este também foi o principal estúdio de Keroro Gunsou nos primeiros 4 anos. Nos anos seguintes, alguns funcionários deixaram o Estúdio #6 para fundar o Studio Bridge, que continuou Keroro, embora a Sunrise ainda tenha esse crédito. O Seu primeiro trabalho após a criação do Studio Bridge foi Tiger e Bunny.

Estúdio Sunrise #7

Criado a meados de 1985. Reestruturado em 1995. O seu primeiro trabalho foi uma colaboração com uma série norte-americana animada: The Centurions, em seguida, criou Dragonar como o seu primeiro trabalho original. Este foi um grande estúdio que muitas vezes trabalhou em duas obras ao mesmo tempo, isto até 1995-1996, quando foi criado o Estudio #9 aliviando a sua carga. Trabalhou em Might Gaine ao longo da década de 90, as OVAs de Cyber Formula e os remakes e filmes de Zeta Gundam em 2000.

A série Might Gaine foi um caso semelhante ao da já referida, Eldoran. Isto porque foi uma parceria, mas desta vez com outra fabricante de brinquedos, a Takara, curiosamente hoje são a Takara Tomy. Após a aquisição da Sunrise em 1994 pela Bandai, a série Might Gaine provou ser bem-sucedida e apesar da Bandai e Takara serem rivais, o negócio continuou com consentimento entre as duas, e não foi desfeito como com Eldoran. Alguns produtores do Estúdio #7 separaram-se para formar Manglobe em 2002, presentemente a Manglobe já não existe. Em 2003-2004, alguns funcionários do Estúdio #7 passaram para o Estúdio 8. Em termos de qualidade da animação, o Estúdio #7 ficou apenas do atrás Estúdio #2, e esse feito verificou-se na curta mas qualitativa vida da Manglobe.

Estabelecido a meados de 1995, os seus primeiros trabalhos foram Chouja Raideen e J. Sentimental. O Estúdio #8 trabalhou na produção de Mai Hime, Idolmaster  Xenoglossia e Sora o Kakeru Shoujo. Um recentemente trabalhou em Kyoukai Senjou no Horizon.

Em 2003-2004 alguns funcionários do #7 e do #10 foram colocados para o Studio #8. Conhecido como o “moe” da Sunrise, porque detêm a franchise de Love Live!

Estúdio Sunrise #9

Estabelecido em torno de 1996, como principal objetivo aliviar a carga do #7.

Trabalhou em Gasaraki, Infinite Ryuuvis, Argento Soma, Zegapain, ambos os Gundam SEED e Battle Spirits .

Estúdio Sunrise #10

Estabelecido por volta de 1996

O seu primeiro trabalho foi com Cyber Saga, criando em seguida uma série que passou pelas nossas TV’s Portuguesas por intermédio da Sic Radical, falamos das aventuras espaciais de Gene Starwind a bordo da sua Outlaw Star. Entre suas obras encontramos Angel Links, Gear Fighter Dendoh, Crush Gear, Onmyou Taisenki e recentemente Phi Brain. Trabalha principalmente com séries infantis-juvenis.

Estúdio Sunrise #11

O mais estúdio mais recente, estabelecido em 2009, trabalhou apenas em Kurokami e a recente série de SD Gundam Sengoku.

Como podem ver muitos produtores, diretores, e escritores populares trabalharam na Sunrise, incluindo os fundadores dos Studios Deen, Studio Bridge, Bones, Manglobe e  A-1 Pictures. Nomes soantes como Gorou Taniguchi, Shinichiro Watanabe, o designer de mechas Shouji Kawamori e escritores como Chiaki Konaka, Keiko Nobumoto, Ichirou Oukouchi e Hiroyuki Yoshino também foram parte deste lendário estúdio. Contudo o “funcionário” mais famoso da empresa é o inexistente Hajime Yatate, que na verdade é um pseudónimo para contribuições coletivas de equipas de animadores, simplesmente é creditado como criador de várias obras para garantir que a empresa detenha a propriedade intelectual das mesmas. O efeito Sunrise e a sua visão continuam bem presentes, não só por intermédio dos seus funcionários, como também por toda uma indústria no geral.

Artigo enviado por Bruno Reis. Podem enviar os vossos artigos para o email admin@otakupt.com.