Neste Retronime conheçam uma obra que o tempo resolveu esquecer, voltando em forma, mas com uma identidade e valores muitíssimo mal explicados. Aqui entra a vossa rubrica para explicar-vos o porquê destas afirmações.
Senkaiden Houshin Engi tem lugar na Antiga China, numa altura onde cinco reinos travam guerra e lutam para ascender ao poder. Neste mundo os humanos e divindades estão divididos, vivendo em dois territórios. Enquanto os humanos habitam na terra, os Doushi, divindades e Senins, seres imortais, habitam nos céus. Taikobo, é um jovem Senin, que treina para tornar-se um Doushi. Este na verdade foi um rapaz humano, que perdeu toda a sua família na guerra. Enquanto o rapaz deambulava pela aldeia em chamas, surge o grande Mestre Doushi da Montanha Konron, Genshitenson. Este oferece a hipótese de um mortal tornar-se num Doushin, Taikobo, aceita se garantir que um dia quem destruiu e assassinou a sua família, pagaria pelo que fez. No entanto Taikobo está longe tornar-se um grande Doushin, o jovem Senin, é mesquinho e preguiçoso, porém o seu mestre encarrega-lhe de uma missão ultras secreta. No reino humano, uma imortal chamada Dakki, com mais de 1000 anos manipula um imperador de uma dinastia muito poderosa, a dinastia Yin. Para ajudar-lhe na sua missão, Taikobo, recebe, um Paopei (Arma divina que os Senins usam), e Supu-chan, uma espécie de hipopótamo voador, que servirá tanto de conselheiro como de meio de transporte. conseguirá Taikobo realizar esta grande missão?
Esta obra é uma adaptação do popular mangá de Ryuu Fujisaki, que embora tenha como pano de fundo, a história dos cinco reinos, também possui elementos da grande viagem para o oeste, ambos dois contos chineses muito celebres. Enquanto o fluxo da sua narrativa e personagens são muito dignos de um típico, Shounen, as suas intervenções e desenvolvimentos variam um pouco e tentam até escapar a certos clichés. É certo que o nosso Senin em treino, trava batalhas, recruta aliados para sua equipa e vence poderosos inimigos, contudo Taikobo não é o nosso típico herói que deseja combater, este na sua maioria vence os seus oponentes como base num misto entre estratégia e astucia, a maneira como conquista o polémico (passarei a explicar um pouco mais abaixo) Raishinshi, para o seu lado foi hilariante. Também no seu pano de fundo desta série temos um clima político, histórico-social e militar muito forte, daí que certos acontecimentos, tenham uma vertente passiva/ativa quando as suas personagens discutem durante vários minutos táticas militares, criticam um regime totalitarista e argumentam por vezes quer consigo mesmos como com inimigos. Senkaiden Houshin Engi, também mistura de uma maneira muito inteligente, elementos tecnológicos ambientados num clima histórico. Tenka um dos seus protagonistas usa sabres de luz, os Doushin monitorizam os passos de Taikobo com base nesta vertente e até teremos um androide chamado Nakatu. Na verdade Senkaiden Houshin Engi, está repleto de personagens com motivos e bons desenvolvimentos, que apenas falham por limitações de uma adaptação que conta com mais de 200 capítulos. É quase impossível não gostarmos do seu elenco. Este na sua essência é um misto entre humanos e Senin, os seus motivos e razões porque lutam garantem-lhes muita frescura, e uma vertente a roçar a Seinen, já que a sua escrita, gira num núcleo em redor da personagem Kou Hiko.
Kou é um general de guerra da Dinastia Yin, este perdeu a sua mulher as mãos do próprio imperador quando Dakki manipulou-o. Com base nestes eventos o seu filho, Kou Tenka, deixou o seu pai para treinar no reino Doushi, tornar-se mais forte e derrotar Dakki. Para finalizar Bunchu, um estratega, e seu amigo, está ciente do estado da sua nação, e teremos desenvolvimentos dignos de um anti-herói, que serão ainda mais evidentes na parte omitida nesta adaptação. Na verdade, a mesma começa muito bem, aliás bem demais, sendo do mais fiel na obra em que é baseada. Porém como a sua obra ainda estava a decorrer nas páginas da Shounen Jump, a meados desta série o seu rumo não só é altamente apressado, como o seu final (que não tem uma pinga de sentido), torna-se alternativo, pois bem aqui entra em cena o salvamento conhecido por Haikyu Houshin Engi, o muito enganador remake de Senkaiden Houshin Engi. Na verdade, este não é um remake, mas sim a continuação que foi omitida desta série, na qual temos em estado animado, os desenvolvimentos da Guerra Senin, e o seu verdadeiro final. Haikyu Houshin Engi, promoveu muito mal o que queria transmitir. A razão pela qual tivemos episódios aleatórios no seu início, foi apenas devido ao facto de apresentar as suas personagens.
Lembram-se de ter rotulado Raishinshi, de personagem polémica? Pois bem, o 100º filho do imperador, foi deixado de parte em Haikyu Houshin Engi, porque o seu criador não gostou da sua criação, dos seus desenvolvimentos e especialmente do seu toque cómico, que decide perto dos meados desta série “esquecer-se”. Gente como eu até criticou de início Haikyu Houshin Engi, por não existir esta personagem, a produção apenas como seu autor quis deixa-lo de parte, evitando ainda mais confusões. Pena porque a druken fist fight e comer biscoitos com os olhos seriam giras de vermos com um novo olhar mais moderno. Assim que a minha recomendação para quem desejar acompanhar as aventuras de Bo-chan e companhia é assistir a esta série até ao episódio 18, e saltar diretamente para o 10º episódio de Haikyu Houshin Engi, contudo certos acontecimentos como Hiko recebe um Paipei e Dakki, ficaram esquecidos são muito mal explicados, e quase arrancados a força pela necessidade de fluidez da série, já que temos um montão de personagens e acontecimentos que são encaixados em apenas 26 episódios.
Senkaiden Houshin Engi é uma adaptação dos estúdios Deen no decorrer deste milénio, o que lhe conferiu alguns problemas técnicos. Como vivíamos numa era experimental, esta obra está carregada de experiências animadas que no final transmitiram-lhe um efeito muito artificial. Enquanto nuns episódios tivemos animação contemporânea, noutros tivemos animação digital, mesmo em parte onde as lutas e a ação é mais profunda, a Deen resolver entre uma e outra, o resultado é um tanto estranho quer em cores quer em desenho de animação de personagens. Não obstante, Senkaiden Houshin Engi quando quis foi dotado de boa animação e bom desenho de personagens o problema aqui foi mesmo a sua consistência, pessoalmente adoro o flair anos 90 desta série. No panorama sonoro e pegando novamente em Haikyu Houshin Engi, Senkaiden Houshin Engi, tem um ambiente mais calmo e familiar, a música rock desta nova adaptação é deixada de parte dando lugar a temas mais contemporâneos, alguns pincelados em tons chineses. A sua abertura, Will, troca as distorções vocais e rock de Fear and Loathing in Las Vegas, por uma melodia mais suave e compreensível, tanto esta como o seu encerramento, Friends, apresentam excertos do episódio em questão uma pratica muito em voga, nesta era por alguma razão.
Sem surpresa e para quem acompanhou esta série no saudoso canal, Locomotion, sabe que foi um enorme sucesso. Adotada com o nome, Soul Hunter, foi das séries mais que sobressaiu, mesmo quando foi toda dobrada em brasileiro e com nomes ligeiramente diferentes. Taikobou foi Tycoon, Nakatu, foi Nazca e Raishinshi, foi Thunderbolt.
Em suma, Senkaiden é fundamental se desejarem acompanhar com o mínimo de coerência Haikyu Houshin Engi. Mesmo não sendo uma adaptação de luxo, merece ser acompanhada, para ficarem a conhecer muito possivelmente a ovelha negra da Shounen Jump, um facto apenas assente, pela indústria estar minada de Shounens, e obras mais imediatas.
Artigo enviado pelo nosso leitor Bruno Reis. Podem enviar as vossas reviews para o email admin@otakupt.com.
