A premissa deste reboot cinematográfico de Resident Evil consiste em narrar uma história mais próxima dos jogos em que se baseia. As aventuras de Alice foram muito divisivas entre os fãs por se distanciarem demasiado destes elementos. Desta vez a Constantin Film e a Sony Pictures Entertainment anunciaram que a próxima fornada de filmes iria debruçar-se mais nas personagens como nos eventos que conhecemos e celebrizaram os jogos. Preparem-se para assistirem à noite mais longa de Racoon City, no filme Resident Evil: Welcome to Racoon City.

Este novo olhar de Resident Evil abre com uma possível alusão à futura série da Netflix, isto porque a outrora pacata cidade norte-americana encontra-se sob o domínio da Umbrella Inc., e a pequena população que ainda habita no seu núcleo dedica-se simplesmente a sobreviver. Tal como no segundo capítulo da série Claire regressa a Racoon City, mas aqui além de um reencontro a visita serve em grande parte para relatar ao seu irmão, Chris Redfield os horrores que a empresa farmacêutica desenvolve nos bastidores. Para este efeito viaja a bordo de um camião. Durante esta viagem o camionista atropela um individuo, e a jovem, acredita que quem foi atropelado fugiu para a floresta. Nesta versão Chris e Claire são órfãos, e a jovem parece sofrer de um estado de stress pós-traumático, porque são várias as instâncias onde compara a sua vida passada do orfanato com Lisa Trevor e a sua vida adulta atual.

Do outro lado do mapa assistimos à redutora força policial da cidade, onde o novato Leon S. Kennedy, foi transferido para a divisão do irmão de Claire, Jill Valentine, Enrico, e Albert Wesker. A produção levou muito à risca, o termo novato porque Leon, nesta adaptação além de ser um sujeito sem personalidade, é enxovalhado de todas as formas e situações possíveis. O Leon corajoso e determinado a proteger a população da cidade é reduzido a um tipo que não tem noção onde está, o que faz, e o que diz na maioria das vezes, realmente é uma pena porque como sabemos Leon, é uma personagem muito interessante e este filme é muito redutor no seu escopo.

A célebre "Jill Sandwich" não foi esquecida
A célebre “Jill Sandwich” não foi esquecida

Personagens, e especialmente as suas caracterizações, são os maiores problemas deste filme. Porque realmente só existem em nome, e a Constantin Film, parece que não percebeu muito bem os traços de cada. Não faltaram momentos onde as suas características foram desempenhadas por outras. Nesta realidade é Claire que é a “Master of Unlocking” e é Chris que é adepto de motas, Wesker não é um tipo misterioso, Leon mais se parece com Carlos Oliveira do novo remake, e muito peculariarmente os seus momentos com Claire foram todos modificados com o seu irmão, e até é Sherry quem acaba nos braços destes.

Com este contratempo estaremos na presença de uma boa adaptação? Poderá Resident Evil: Welcome to Racoon City ser uma boa adaptação para o cinema do grande clássico da Capcom? A resposta é sim, na minha ótica, e se fecharem os olhos a algumas inconsistências quer narrativas como na cronologia dos jogos. Porque existe muito valor nesta adaptação se dedicarem sentar-se numa sala de cinema. Para começar existe um enorme respeito pela sua fonte. A história tem como molde o segundo episódio de Resident Evil, onde Leon chega à cidade, e Claire visita a mesma para se reencontrar com o seu irmão. Contudo, neste filme, talvez por eliminar as aventuras de Alice que pouco se debruçam nos jogos, são-nos atirados, literalmente à velocidade da luz, eventos que acontecem em pelo menos quatros jogos da série; Resident Evil remake; Resident Evil 2 RemakeResident Evil Code Veronica; Resident Evil 3: Nemesis. O filme pode ser descrito como um bolo onde a base é Resident Evil 2, o recheio é Resident Evil (porque também viajaremos para a mansão Spencer) com condimentos de Resident Evil Code Veronica, e um morango no topo de Resident Evil 3.

A caracterização de personagens é o maior dos males nesta adaptação

Com tanto a acontecer, assistimos a um efeito que tem tanto de positivo como de negativo. Enquanto os eventos demonstraram um enorme respeito pela sua fonte, também se sentiram demasiado propícios por acontecer. Deu-nos a perceção que a produção pegou numa série de elementos dos jogos, e dedicou-se a fazer uma checklist quando os introduzia na história. O célebre camião em chamas do segundo jogo, é introduzido neste filme de uma forma hilariante, artificial e muito irónica. Devido a este efeito alguns momentos do filme também se sentiram um pouco previsíveis e inevitáveis, contudo não se livram de alguns sustos. Isto porque as criaturas neste filme estão incrivelmente fiéis às que encontramos no jogo, só foi pena surgirem em pouco número. Esta adaptação só teve direito a um Licker, alguns Cerberus, e dois encontros com William Birkin (que aqui surge com o vilão do filme), a maior parte dos encontros foram com população tornada em morto-vivos, que acreditem está bem assustadora e fiel à que encontramos na série de survival horror que celebra atualmente o seu 25.º aniversário.

As criaturas estão muito próximas das que conhecemos

Igualmente fantástica também está a sua ambientação, a assustadora canção de embalar do orfanato é um elemento desconstrutivo que sublinha ainda mais o estado demente da cidade de Racoon City. Uma noite interminável e sombria, uma mansão muito fiel à que conhecemos, e um especial cuidado para transportar o espetador para o mundo de 1998, onde canções célebres da segunda metade da saudosa década de 1990, engenhos como videogravadores, produtos da Sony, e até o tradicional jogo do Nokia 3310, Snake, fizeram as honras da casa. Realmente é neste parágrafo que encontramos um dos melhores registos positivos do filme, ou seja, quando são paralelamente introduzidos momentos dos jogos na ação e num ambiente muito mais fiel aos mesmos do que anteriores adaptações ao grande ecrã protagonizadas por Milla Jovovich. Infelizmente os constantes diálogos com palavrões sentiram-se contraproducentes porque se sentiram demasiado juvenis em diversos momentos.

Os irmãos Redfield foram os atores mais próximos do que conhecemos

O terror também é um pouco abafado em prol da ação e das suas narrativas paralelas, mas acreditem que não se livram de alguns sustos como já foi referido. Corpos desmembrados, criaturas assustadoras, e até um sangue que ocasionalmente desapareceu do uniforme de Leon são apenas alguns conhecimentos que podemos esperar desta adaptação mais fiel ao grande ecrã desta lendária série de jogos. O som também foi um elemento onde a produção teve especial cuidado, pois os grunhidos dos monstros que conhecemos nos jogos marcaram presença, que por sua vez introduziram um efeito um pouco artificial e até a voz dos atores teve de ser ambientada aos mesmos, produzindo um efeito de som abafado.

O filme demonstra um enorme conhecimento pela sua fonte. Nem mesmo Hunk o “Reaper” ficou esquecido

Em suma Resident Evil: Welcome to Racoon City é um produto que tenta honrar demasiado a sua fonte, e com esse propósito produz um efeito contraproducente em diversos segmentos. Contudo, o maior dos pecados deste filme passa pela descaracterização das suas personagens, quer nos seus aspetos como nas suas caracterizações. Porém, sentimos que existe valor nos seus momentos, nas criaturas assustadores e numa história que mesmo congestionada de elementos conseguiu ambientar-se e produzir uma narrativa fluida e coerente. Este filme é mais um prova que pode existir ouro no final do arco-íris destas adaptações para o grande ecrã. Podem crer que um pequeno episódio entre os créditos demonstra que este é só o início da nossa chegada a Racoon City, e à semelhança de Sonic The Hedgehog, serviu especialmente para preparar o campo para mais inevitáveis sequelas.

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Febaxmann
Febaxmann
14 , Dezembro , 2021 19:32

Esse filme é uma desgraça.

Hollywood deveria deixar Resident Evil em paz, pois eles claramente não sabem o que estão fazendo.

Samurai
Samurai
Reply to  Febaxmann
15 , Dezembro , 2021 0:03

Os filmes da Alice são bons.

Febaxmann
Febaxmann
Reply to  Samurai
15 , Dezembro , 2021 12:02

Os filmes da Alice são igualmente ruins; alguns muito piores.

Única coisa em comum entre os filmes de Paul Anderson e jogos é a maquiagem, nada mais; e esse novo filme nem isso consegue acertar, Leon parece um personagem de paródia pornô da série.

Alias, o ápice dos filmes de Paul Anderson é ver Alice lutando boxe com Nêmeses ou usando poderes telecinéticos contra o “Tyrant”; tem tanta coisa estúpida naqueles filmes que dá para ficar o dia inteiro falando deles, é tão estúpido que parece mais filmes de comédia do que terror.

Nobody XIV
Nobody XIV
Reply to  Febaxmann
14 , Dezembro , 2021 19:42

Tudo depende do lucro.

Thiê † ☠
Thiê † ☠
14 , Dezembro , 2021 20:31

Pior que ainda vai ter a série da netflix, que pode ser tão ruim quanto esse

Bruno Reis
Bruno Reis
Reply to  Thiê † ☠
16 , Dezembro , 2021 10:25

Mesma produção.