Eu não diria que sou daquelas pessoas que adora a Disney. Certamente, vejo os filmes novos quando vão saindo, e tenho alguma merch da Disney, e a Disneyland Paris foi o meu primeiro destino de férias após ter começado a trabalhar, e a minha série de videojogos preferida de todos os tempos é Kingdom Hearts… 

Okay, se calhar eu gosto da Disney. Outra coisa da qual eu gosto é daquilo que recentemente tem sido denominado de cozy games, jogos com uma estética específica que procuram trazer conforto a quem os joga. E como é óbvio, gostando destas duas coisas, eu já tinha ouvido falar do Disney Dreamlight Valley desde que este esteve em early access. 

Descobrindo os primeiros momentos do Dreamlight Valley

Mas nunca o comprei. Tive várias oportunidades, sem dúvida, e amigas que me recomendaram o jogo, mas ainda assim, nunca o fiz, até ter surgido a oportunidade de fazer esta análise. E para quem sabe o que quer que seja sobre o jogo, a razão deverá ser óbvia: microtransações. 

Mas vamos começar pelo começo, e falar sobre o conceito do jogo. 

No Dreamlight Valley, tu és uma pessoa com magia que vai lá parar por acaso, a um vale que antes estava repleto de magia e personagens familiares de vários filmes da Disney, dos mais nostálgicos aos mais recentes, mas que agora foi invadido pelo Esquecimento. As poucas personagens que ainda vagueiam pelo vale não se recordam do seu Líder nem dos seus amigos, e é a tua responsabilidade enquanto jogador fazer libertar o vale do Esquecimento e forjar novos laços de amizade com todas estas personagens. 

A maneira como tu fazes isto é usando pontos de magia, conhecidos como Dreamlight, para fazer desaparecer espinheiros de escuridão que bloqueiam certas partes do vale. E como é que adquires esta Dreamlight? Fazendo boas acções, como é óbvio! Falar com os teus amigos no vale (leia-se: as personagens da Disney), apanhar fruta, cozinhar, oferecer prendas, cultivar vegetais, minar, pescar, tirar fotos, decorar o vale e até mudar de roupa, tudo são opções válidas para adquirir mais Dreamlight, dependendo das tarefas disponíveis no momento. 

As tarefas disponíveis no Mission Pass de momento

Com isto, vais desenvolvendo amizades e aumentando o vale, e até aos poucos descobrindo o mistério do Esquecimento… mas qual é na verdade o objectivo do jogo? 

Bem… é a decoração. É poderes desenvolver o teu próprio vale, com as personagens e as decorações que lá quiseres por. É poderes decorar a tua personagem, com roupas e acessórios. E é também a simples actividade de relaxamento e criação. Não há um objectivo definido. 

E é aqui que começamos a encontrar alguns problemas, na minha opinião. Eu joguei o jogo na Switch, e infelizmente, nota-se bem que esta não foi a consola para a qual este jogo foi planeado. 

Começa logo pela performance desde início. Os loading screens demoram bastante, não só no início do jogo, mas sempre que alguém muda de área. O jogo em si funciona bem no geral, mas às vezes fica um pouco lento nas áreas mais ocupadas com objectos ou personagens. 

O Disney Dreamlight Valley não tem voice acting, o que para mim não é um problema, pois maioritariamente jogo este tipo de jogos enquanto estou a fazer outras coisas como ver vídeos, mas outros jogadores podem preferir que tivesse. Tem também um sistema de energia que parece quase inútil. Quando uma pessoa vê um sistema de energia à frente, quase de imediato espera que vá ter de esperar para o carregar, de maneira a impedir que um jogador esteja sempre a jogar. Mas o sistema de energia neste jogo não é assim. Após a energia ser gasta, o jogador tem apenas de comer algo ou ir para dentro da sua casa durante uns segundos, e voltará a ter a energia completa. Parece um sistema que foi implementado numa altura que se previa que o jogo fosse free-to-play com um sistema de energia limitada, mas que depois, com o jogo a ser pago, ficou implementado desta forma que apenas causa mais trabalho desnecessário pela parte do jogador. 

Para além de que também dá para recarregar a energia simplesmente sentando-nos

Mas a pior parte de tudo, para mim, é o sistema de decoração. Como eu mencionei antes, a decoração é um dos principais objectivos deste jogo. Se uma pessoa decorar o seu próprio vale à sua maneira é suposto ser aquilo que atrai a pessoa para o jogo e a faz continuar a jogar… então porque é que o sistema de decoração é tão horrível?! 

O sistema funciona como se o cursor controlado pelo analógico fosse um rato. Ligeiro problema: um stick de uma consola e um rato não têm exactamente assim muito a ver. Um permite ajustes pequenos e ligeiros facilmente, o outro manda o teu cursor para o outro lado do mapa com um pequeno toque. E usar o D-pad também não ajuda, pois em vez de permitir ajustar os objectos com uma grelha, é apenas só mais uma maneira, se possível ainda mais obtusa, de utilizar o cursor!! 

E este tipo de abordagem PC-first é visível em tudo, desde a navegação de menus, em que por exemplo, para ver quais são as prendas do dia das personagens tens de percorrer todas as personagens linearmente, até à maneira como tens de posicionar a personagem para apanhar as flores do chão! 

Eu quero tirar aqueles barris dali… mas na verdade não quero 🙁

A Switch é, para mim, a consola principal onde eu faço o meu cozy gaming. É uma consola que vai comigo para todo o lado, que se adequa perfeitamente a este tipo de jogos simples e de baixo risco… e ver que os criadores deste jogo deixaram esta consola (e todas as outras) tão no fim da lista de prioridades comparada com o PC é muito decepcionante. 

Mas vamos passar das coisas más para as boas, denominadamente, as microtransações com as quais eu estava tão preocupada que nem me passou pela cabeça comprar o jogo: 

Yha, não são assim tão más. 

Tudo o que existe na loja pode ser comprado com a premium currency do jogo, incluindo, surpreendentemente, o mission pass premium. E, ainda mais surpreendentemente, completar o mission pass efectivamente dá esta premium currency como recompensa, formando um ciclo fechado no qual não é preciso gastar dinheiro a não ser que uma pessoa queira mesmo comprar tudo o que está disponível na loja. 

Ainda assim, não gosto disto. Não gosto nada disto.

Se acho normal ou bom que um jogo pago, ainda assim, tenha uma premium currency paga a dinheiro e uma loja para a gastar? Óbvio que não. Mas tenho que admitir que é ainda assim muito menos ofensivo do que estava à espera depois de jogar outros jogos mais predatórios. 

No final de contas, Disney Dreamlight Valley é um jogo que me surpreendeu pela positiva quando eu estava à espera de pior, e que me surpreendeu pela negativa quando estava à espera de melhor. Gosto do ambiente, de estar a passear pelo meio das personagens da Disney, mas a falta de uma história e de um objectivo mais sólido do que a decoração, especialmente quando esta está aliada a um sistema tão fraco, deixa-me desiludida. 

TL;DR: Um bom jogo se quiseres algo com personagens familiares para relaxar sem pensar muito… mas talvez a Switch não seja a consola ideal, embora o devesse ser. 

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