Eu nunca tive grande nostalgia pelo Final Fantasy VII. Faz um certo sentido, tinha 2 anos quando o jogo saiu, não estava exactamente ainda na minha fase de JRPGs. Para mim, o Final Fantasy nostálgico sempre foi o Final Fantasy X

Por isso, sempre vi o Final Fantasy VII com uma perspectiva histórica. Um jogo extremamente importante, que revolucionou a maneira como contamos histórias em jogos, os valores de produção que jogos poderiam alcançar, e a opinião sobre JRPGs no mercado do oeste. Mas nunca um jogo com o qual eu tivesse um interesse pessoal. 

Tudo mudou em 2020, com o lançamento do Final Fantasy VII Remake. No entretanto, eu tinha-me tornado não só uma enorme fã de JRPGs no geral, como também das criações do Nomura Tetsuya, o realizador do jogo, em particular. Ainda assim, não tinha tido o ímpeto de jogar o jogo por mim (também não tinha uma PS4 na altura), até ver uma review excelente (e longa) do Action Button a falar sobre o jogo. 

❗Ligeiros spoilers sobre o Final Fantasy VII Remake

Ao ver esta review, descobri que o Nomura tinha feito uma Nomurazice, e tinha na verdade criado uma história que não era exactamente um remake do original, mas sim uma história apoiada na metanarrativa do conhecimento partilhado por todos os fãs de JRPGs sobre o jogo, e que usava este conhecimento do jogador para subverter as suas expectativas. 

Tentar perceber o que está a acontecer neste jogo é sempre um desafio

Na verdade, achei isto genial, e quando saiu o Final Fantasy VII Remake Intergrade para a PS5 um ano depois, imediatamente comprei o jogo e deliciei-me com a história e as personagens e os gráficos absolutamente fantásticos, e o voice acting (que escolhi em japonês, maioritariamente pela participação do Sakurai Takahiro, o meu VA preferido de sempre, a encarnar o Cloud) e até o gameplay

Ainda assim, senti sempre que me faltava algo. Como qualquer pessoa que goste de JRPGs, sempre tive o conhecimento geral da história do FFVII original algures na minha memória, mas talvez jogá-lo fosse o que me faltava. Pelo que joguei o FFVII original e… não fiquei particularmente impressionada. Claro, de uma perspectiva histórica consigo apreciar aquilo que o jogo fez de novo e maravilhoso, mas se querem uma opinião de alguém que verdadeiramente ama este jogo, aconselho-vos a lerem o nosso artigo Final Fantasy VII Rebirth, uma carta de amor moderna a uma era perdida do passado

Mas ao menos, estava agora armada com o conhecimento necessário para enfrentar o Final Fantasy VII Rebirth, a continuação do Final Fantasy VII Remake… Só que não. Ainda me faltava mais um passo. Após um remake do Crisis Core: Final Fantasy VII, intitulado de Reunion, no entanto, também esse problema ficou resolvido. 

Por isso, só faltava esperar. 

E esperar. 

E esperar. Parece que voltamos ao Kingdom Hearts 3 (lol só que não, quem me dera só esperar dois anos por um Kingdom Hearts).

E finalmente, aqui estamos, com o lançamento do Final Fantasy VII Rebirth. Portanto, o que é que eu tenho a dizer sobre este jogo? 

Bem, se mais nada, é bonito

Primeiro, que voltamos às origens dos JRPGs!!! Um jogo que vem em múltiplos discos, pessoal!!! Aos anos que eu não vi isto!!! 

Não, mas a sério, isto mete medo. O jogo ocupa 145.7 GB. Para comparação, Final Fantasy XVI, que saiu o ano passado, ocupa cerca de 90GB. 

What the hell, Nomura. 

Mas ao lançar o jogo, é fácil de perceber porquê. Este jogo é bonito Tão bonito que até fui fazer a cirurgia PRK para remover a miopia para o ver melhor, uma das razões pelas quais esta review está a demorar tanto tempo. 

Mas não é só bonito, e eu não sou só lenta. Este jogo é enorme

Olá, estamos em Abril e este jogo saiu no final de Fevereiro. Eu não tenho feito nada para além de comer, dormir, trabalhar, e jogar FFVII Rebirth

Este jogo continua onde o Remake nos deixou, e felizmente, o menu principal vem equipado com o vídeo “The Story So Far”, que nos relembra dos pontos mais importantes do jogo anterior. 

Agora, o jogo continua a seguir as pegadas do original, com o grupo que escapou de Midgar a chegar a Kalm, o Cloud a narrar a história de como conheceu o Sephiroth, o grupo a ir até Junon, etc, etc. 

O conflito entre eles continua eternamente

O jogo é muito bom em dar-nos uma sensação enorme de familiaridade e conforto com o seu enredo, por vezes seguindo quase à linha exactamente aquilo que aconteceu no original, com apenas algumas pequenas mudanças devido ao novo gameplay ou para expandir algumas localizações ou personagens… 

…E depois de repente acontecem coisas que não aconteceram no original, que não poderiam nunca acontecer no original, e tu ficas tipo o que raio acabou de acontecer?! 

Num jogo em que o enredo é tão importante como neste, e em que existem pelo menos três camadas diferentes de spoilers para navegar (o jogo original, o que aconteceu no Remake, e os eventos deste jogo), não me sinto confortável para falar muito mais da história, mas posso dizer o seguinte: 

Metade das vezes não sei exactamente o que está a acontecer, ou para onde é que o jogo me vai levar, mas 100% das vezes estou a adorar a história. 

A escrita das personagens também está excelente. O Cloud tem as doses certas de taciturno, mal-humorado, e ligeiramente alucinado, e os talentos de voz do Sakurai Takahiro ajudam como sempre a personagem a ganhar vida. 

Ele!!!!!!

O Barret, Red XIII, e as outras adições mais tardias ao grupo também têm os seus próprios enredos a acontecer, cada um tendo o seu momento de brilhar e capítulos dedicados a eles, o que faz com que cada um seja uma personagem bem desenvolvida e com crescimento durante o jogo. 

Da parte feminina, tanto a Aerith como a Tifa como a Yuffie estão bem escritas, e embora as três tenham personalidades bastante diferentes, todas têm arcos e histórias importantes a ocorrer durante o jogo. Mas mais do que isso, todas têm certas idiossincrasias que fazem com que mais do que outras personagens femininas em vários videojogos, eu as sinta verdadeiramente como sendo… amigas. Se calhar há só falta de amizades femininas em videojogos deste género, mas ver a maneira como a Aerith e a Tifa comunicam, não só sobre o Cloud, mas sobre os passados delas, e as suas histórias, é muito fixe mesmo. 

Mais do que isso, todas as personagens do grupo têm uma boa amizade entre eles, laços que se vão desenvolvendo ao longo do jogo, não só no enredo, mas também mecanicamente, ao falarmos com eles nas cidades ou usando ataques conjuntos entre o Cloud e os vários membros da equipa. 

Como daquela vez que todos se transformaram em sapos: não há nada melhor para desenvolver o trabalho em equipa

Em termos de combate, o jogo é semelhante ao FFVII Remake, com os ataques em tempo real que vão acumulando ATB para se usar ataques especiais. Tem também um modo automático, que permite ao jogador simplesmente esperar enquanto o ATB é acumulado, embora às vezes o AI das personagens neste modo não seja excelente. 

O jogador pode equipar cada personagem com materia, que permite às várias personagens utilizarem feitiços e outras habilidades. Mas para além disso, os vários membros da equipa têm também as suas habilidades próprias que advém das várias armas que vamos encontrando e equipando ao longo do jogo, o que faz com que cada membro da equipa tenha uma jogabilidade única. 

Mas o jogo é muito, muito mais do que o combate. 

Ao contrário do FFVII Remake, que era extremamente on-rails, aqui o mundo é completamente aberto, com planícies e montanhas e praias e desertos para explorar. Há monstros especiais para derrotar, fontes de mako para descobrir, chocobos para montar, fotos para tirar, e muito, muito mais, numa sucessão que se poderia tornar cansativa se os locais não fossem tão bonitos e interessantes de explorar. 

Lugares familiares, agora recriados com estilo

Há também side-quests ao longo do jogo que por norma valem a pena fazer, tendo momentos extra do enredo e do desenvolvimento dos relacionamentos das personagens, assim como um enredo lateral da procura de uma relíquia antiga, que coloca o Cloud em confronto com um famoso antagonista da série Final Fantasy… 

Mas esperem! Há mais!! Para além de tudo isto há mini-jogos!!! 

Tantos. 

Tantos. 

Tantos mini-jogos

Acho que há alturas em que passei mais tempo do jogo a jogar mini-jogos do que efectivamente a seguir com o enredo ou a encontrar coisas no open-world. Entre corridas de chocobos, saltos de sapos, jogos de ritmo no piano… E claro, como não podia deixar de ser num Final Fantasy tradicional, um jogo de cartas colecionáveis. 

Nesta interação, o jogo chama-se Queen’s Blood, e envolve o utilizador colocar cartas de monstros e personagens numa grelha contra o adversário. No entanto, ao contrário de outros como Triple Triad, o objectivo não é capturar as cartas do nosso oponente, mas sim ganhar a linha da grelha através do número de pontos. É complexo, mas muito divertido. 

Não é nenhum Triple Triad, mas também não é nenhum Tetra Master, felizmente

Deixem ver que mais… desculpem, o jogo tem tanto conteúdo que é difícil uma pessoa não se perder no meio de tudo isto. Ah certo, certas zonas do mapa permitem mudar a roupa das nossas personagens, o que felizmente está restrito a apenas algumas zonas do mapa, o que não quebra a nossa imersão durante os momentos mais sérios. 

E, no meio de tudo isto, há um sistema de colecionáveis que acaba por trazer tudo isto um pouco junto, pois permite-nos ter uma noção de qual conteúdo nos falta fazer. 

Gente, este jogo tem jogo. Eu mencionei isto acima, mas demorou-me todo este tempo (okay, com uma cirurgia aos olhos no meio) para ter uma ideia decente do jogo. 

É um jogo lindíssimo, com gráficos que nos fazem duvidar se será possível ficarem melhores, e que depois ficam, ao entrar nas cutscenes pré-animadas nos momentos mais importantes. O Nomura sempre foi excelente a conceber e desenhar personagens, mas ver estas personagens tão icónicas novamente tão bem realizadas é maravilhoso. E às que já conhecíamos do FFVII Remake juntam-se outras, em particular o Caith Sith, que é super adorável, não só na sua aparência como nos movimentos e maneirismos. 

ELE!!!!!!!!!!!

O desenho e arquitetura dos locais também está excelente, com localizações que variam imenso em geografia e geologia e que no entanto se sentem como fazendo parte de um mesmo mundo unido. 

Uma pessoa sente-se verdadeiramente absorvida por este jogo graças em parte aos seus gráficos e ambientes, e durante as cutscenes, tudo isto é trazido em força para nos dar uma experiência cinemática e épica. 

A ajudar à festa épica temos também a música. As composições originais do FFVII foram recriadas, e juntando-se a composições originais, criam um ambiente ainda mais envolvente, e momentos do enredo ainda mais marcantes. Os temas de luta, de exploração, de personagens, todos eles se tornam membros tão marcantes do jogo quanto os personagens que percorrem a história, ou as mecânicas pelas quais experienciamos o jogo. 

Para além da música, claro, temos o voice acting. Para além dos talentos do Sakurai Takahiro, melhor VA do mundo, uma opinião que obviamente todos partilhamos, todas as vozes em japonês estão excelentemente produzidas e direcionadas, e a dobragem inglesa também está muito bem feita. 

E um mini-jogo de tocar piano que é surpreendentemente envolvido

Em termos mais técnicos, não notei nenhum bug assim muito gritante no jogo, para além de duas cutscenes que não passaram e me obrigaram a fazer reset do jogo, e a performance com os gráficos também não tem nenhuma objecção na PS5. 

O jogo não vem reinventar a roda dos JRPGs, mas o que vem fazer é melhorar conceitos já existentes e criar um mundo que é divertido de explorar, uma história que é simultaneamente familiar e nova, e personagens que é sempre bom ver novamente. Tudo é criado com o máximo de cuidado e atenção, desde o mundo, aos NPCs, às vozes, ao enredo. 

É um jogo no qual se percebe o amor na sua criação. Consigo, ao olhar para este jogo, ver os quase trinta anos que se passaram desde o FFVII, ver a maneira como a indústria e os seus criadores mudaram e amadureceram. E também a maneira como nós, os jogadores, mudamos. 

Estas são as mesmas personagens, sim, mas nós não somos os mesmos a vê-las, mas isto ainda assim permite-nos uma imensa sensação de nostalgia e felicidade ao estarmos a redescobrir um mundo que sempre sonhamos ver mais abertamente do que na sua iteração inicial. Ao longo dos anos, houve tentativas, e melhoramentos, sempre esta história e estas personagens que nenhum de nós conseguia verdadeiramente dar como encerrada. Filmes, e jogos de spin-offs, e mesmo o próprio FFVII Remake inicial, tudo a caminhar para podermos verdadeiramente ver este maravilhoso mundo, e esta maravilhosa história, no seu melhor. 

Mesmo quando eu não estou a perceber bem o que está a acontecer, é sempre divertido e ambicioso

Eu não sei o que o FFVII Reunion (a minha aposta para o título do último jogo da trilogia, vamos a ver daqui a uns anos se estou correcta) nos trará. 

Mas eu sei que vai ser ao mesmo tempo familiar e original, com aquela magia clássica do Nomura Tetsuya que nos deixa a olhar para o ecrã a pensar no que raio acabou de acontecer, mas sempre, sempre, sempre com muito amor e carinho pelo enredo que está a decorrer. 

TL;DR: Esta é uma história que está a acontecer há quase três décadas. Sempre foi uma história que valeu a pena experienciar, e agora ainda mais. Sim, se tens qualquer interesse em videojogos, deves jogar este jogo, e o FFVII e o FFVII Remake também. 

Mas, já sabias isso, não já? 

Pelo que deixa-me tentar outra abordagem: o Cloud tem uma dance-off com as raparigas, o Red XIII disfarça-se de humano, e jogas cartas contra um chocobo, este jogo é absolutamente ridículo, 10/10 GOTY lmao

Carolina Moreira
Com background de informática, e gosto em videojogos a combinar, mas aficionada de histórias em qualquer formato, juntou-se à equipa do OtakuPT em 2023 para dar uma opinião pessoal sobre o entretenimento que nos chega às mãos.
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