Lembro-me perfeitamente do dia em que assisti Sword Art Online pela primeira vez, e do impacto que teve não só na temporada de animes do Verão de 2012, como na consolidação do género Isekai nesta indústria de entretenimento. Embora a série .//hack Sign tivesse explorado anteriormente a premissa de alguém ficar preso num mundo virtual num anime -e da consequência de morrer no mesmo- foi certamente Sword Art Online que celebrizou esta formula e, como não podia deixar de ser, devido ao seu enorme sucesso abriu portas para a criação de um novo subgénero que se materializou num sem fim de outras obras e de novos produtos para a série. Desde continuações de anime e light novels, figuras, passando por mangás e claro, videojogos. Após quase três anos desde o lançamento de Sword Art Online Alicization Lycoris, a AQURIA e a Bandai Namco Entertainment voltaram a unir esforços para narrar novos acontecimentos do War of Underworld arc e fechar o “gameverse” de Sword Art Online.

Caso não estejam a par dos eventos de Sword Art Online, Sword Art Online: Last Recollection serve nos seus minutos iniciais um breve resumo por imagens paradas acompanhas de áudio e texto do que aconteceu nos capítulos anteriores, como não podia deixar de ser, os jogadores vão encarnar novamente Kirigaya Kazuto, ou Kirito como ficou célebre nos mundos virtuais onde participou. Esta introdução é especialmente importante para o desenvolvimento de toda a narrativa do jogo já que apresenta a sua figura central, Dorothy Isaiah Elishev, uma cavaleira das trevas que enfrentou uma viagem perigosa e arriscou a sua vida e a dos seus subordinados para levar uma mensagem de paz aos humanos. Apesar de várias negociações de paz acontecerem nos bastidores entre as legiões do Submundo e os humanos, a guerra parece ser cada vez mais uma inevitabilidade para os dez comandantes das trevas. Dorothy seguiu à risca as suas ordens e levou, à custa da sua própria vida, uma jovem chamada Sarai até aos comandantes humanos para negociarem a paz. Escusado será dizer que nada corre como o previsto, e um evento faz com que todas as frentes mergulhem numa guerra sem precedentes. Embora a história seja agradável, o seu ritmo poderia ser mais consistente, visto que existem capítulos formados apenas por elementos narrativos sem praticamente nenhum gameplay.

Dorothy é a figura central desta história

O jogo possui 11 capítulos, o primeiro dos quais é praticamente composto por cutscenes, com o segundo capítulo a durar bem mais de quatro horas. Os restantes são bastante variados em termos de duração, com alguns a não durarem mais de cinco minutos e com outros a durarem um mínimo 3 horas cada, especialmente perto do final do jogo. Embora esta seja uma escolha bem vista para veteranos do género, julgo que prejudica significativamente o ritmo do jogo visto que o conteúdo principal só é desbloqueado depois do relógio de jogo atingir cerca de 4 horas. Os constantes ecrãs de carregamento também quebram o ritmo em partes desnecessariamente pequenas, o que, num jogo de 50 horas, se pode tornar bem aborrecido muito rapidamente. Devido à enorme quantidade de informação que é servida e que deve ser dominada, o jogo progride a um ritmo muito, muito lento, outro efeito que pode afastar os jogadores, especialmente o publico casual fã da série. As missões secundárias também pouco ou nada fazem para oferecer um melhor ritmo à história principal, existem algumas alusões a algo muito maior e transcendente, porém nunca é explorado, em síntese os que não conhecem a série não se vão sentir muito perdidos, e os que acompanharam Sword Art Online ao longo dos anos neste “gameverse” vão querer mais, muito mais. Para essa camada de jogadores a Bandai Namco Entertainment preparou algo muito especial.

Além de todo este conteúdo na versão base, Sword Art Online Last Recollection também está disponível numa Ultimate Edition por 99,99 € que inclui mais de 30 horas de jogo no modo de história principal e dezenas de horas de conteúdo secundário. Este conteúdo secundário inclui ainda missões de episódios e novas áreas que se tornam acessíveis depois de ser terminada a história principal. Infelizmente, para já não existe um modo New Game+, mas a dificuldade do jogo pode ser ajustada a qualquer altura para proporcionar um melhor desafio. Embora não possamos falar dos DLCs ou da Season Pass que são incluídas nas versões Digital Deluxe e Ultimate Edition, julgo que devem ser semelhantes aos dos episódios anteriores, ou seja, um mergulho mais profundo na história principal e um novo olhar nas suas personagens.

O jogo narra os eventos principais dos anteriores para quem desconhece ou deseja refrescar a memória

Contudo, na sua essência, Sword Art Online Last Recollection é um Action RPG frenético em 3D, repleto de elementos de jogo extremamente complexos que emulam os MMO’s, o jogo apresenta um equilíbrio incrível entre mecânicas complexas e acessibilidade casual o que certamente satisfaz e alegra o seu publico sem comprometer a experiência. Quer seja a limpar hordas de inimigos no Underworld ou a desenvolver meios para explorar as fraquezas destes num gameplay que roça o domínio dos jogos de luta competitivos, acreditem que vão ter muita diversão à vossa espera se se dedicarem a fundo a este jogo.

Para além desta sua jogabilidade moldável, o jogo conta com o maior elenco de Sword Art Online até à data. Mais de 30 personagens do “SAO gameverse” regressam, acompanhados pelos seus seiyuus numa vertente “endgame” para proporcionar uma experiência autêntica aos fãs. Kirito, Asuna, Eugeo e Alice, estão presentes desde o início da aventura, mas o harém do cavaleiro negro vai expandindo-se à medida que os jogadores avançam na história. Além de um vasto leque de personagens, Sword Art Online Last Recollection também possui 13 armas de diferentes tipos, cada uma com o seu próprio conjunto de movimentos, habilidades, vantagens e desvantagens e ”awakenings”. No entanto, nem todas podem ser utilizadas a bel-prazer visto que três dos quatro membros da party de Kirito estão barrados a utilizar uma arma especifica. Claro que Kirito pode utilizar quase todas as armas do jogo, as únicas exceções são as de algumas personagens específicas. Como cada arma possui um vasto leque de características e pontos fortes e fracos, o jogo não obriga a trocá-las, mas certamente que se o fizerem vão explorar todas as nuances da sua gameplay e desfrutar de uma experiência muito mais rica e gratificante, por alto são vocês que decidem como e quando vão dar relevo a uma arma numa situação específica. Como se não bastasse, cada uma também possui uma árvore de habilidades expansiva que usa pontos de habilidade para desbloquear novas habilidades ativas ou passivas, melhorar habilidades existentes e fornecer novas formas de as utilizar. Como o jogo é muito generoso na atribuição de pontos de habilidade podem crer que vão desbloquear novos ataques e habilidades com bastante frequência logo no inicio da aventura.

Inicialmente o grupo de Kirito é muito reduzido

Sword Art Online Last Recollection também possui muitas camadas de combate que não são inicialmente exploradas, mas que vão sendo apresentadas ao jogador à medida que o jogo avança. A principal é o “Tactical Arts Command Mode”, que é essencialmente uma mecânica que permite que um único jogador dirija as ações dos outros três membros do grupo durante o combate ao estabelecer ações que este deve seguir, um efeito muito semelhante aos Gambits de Final Fantasy XII, afinal estamos a falar de um jogo que também tentou emular o ambiente MMO RPG de Final Fantasy XI: Online. Para além das mecânicas do passado, as do presente também nos permitem programar os nossos companheiros da party para lutar como uma equipa mesmo que controlemos apenas uma personagem, uma vertente que se alinha perfeitamente com a ênfase do jogo dado que diferentes inimigos possuem ataques que podem ser contrariados por uma série de habilidades que incluem as que não estão atualmente disponíveis para a personagem controlada -não se esqueçam de agradecer à vossa equipa pelo apoio prestado.

Este tipo de mecânica de jogo molda por completo o combate de Sword Art Online Last Recollection e coloca-o numa vertente de jogo de luta competitivo, uma vez que cada nova arma, habilidade, capacidade ou melhoria abre novos caminhos para elevar combos ao máximo! Cada personagem possui também um movimento final chamado “Finish Art”, perfeito para terminar um combate feroz da melhor maneira. Todos estes movimentos diferem consoante a personagem e as armas que empunham. Adicionalmente, o medidor Ally Skill pode ser preenchido para desencadear um golpe final coletivo ao revelar uma combinação cinematográfica de ataques muito semelhantes aos “”Hi-Ougi/Mystic Artes” de Tales of Series e de tantos outros JRpg’s. Realmente é neste quesito que reside o maior potencial de Sword Art Online Last Recollection a meu ver.

As “Finish Arts” parecem um produto de Tales of Series

Infelizmente mesmo no melhor pano cai a nódoa, e por muito incrível que o sistema de batalha de Sword Art Online Last Recollection possa ser, algumas inconsistências técnicas fazem com que fique impedido de alcançar patamares mais altos. A câmara precisa de bastantes ajustes, mesmo ao marcarmos os inimigos é incrivelmente complicado enfrentar grupos porque fica retida em pontos no mínimo estranhos. Por vezes são aproximados, outras vezes afastados o que torna bastante difícil fixar a personagem enquanto controlamos o grupo de Kirito, frequentemente temos de a reajustar. Se jogaram Tales of Zestiria de certeza já se aperceberam do que falo já que a câmara de Sword Art Online Last Recollection nesta fase apresenta as mesmas características. O método de defesa é em parte automático o que se tornou contraproducente muito rapidamente porque foi ativado para o inimigo mais próximo de Kirito e fez com que a câmara se desloque subitamente para o fixar. Isto criou um efeito incrivelmente vertiginoso que, na pior das hipóteses, nos faz perder completamente a noção de onde se encontrava a personagem no meio de tanta confusão, senti maiores momentos de aperto durante os “parries” e “perfect dodges”. De salientar que todas estas mecânicas prejudicam um pouco a acessibilidade do jogo para os jogadores mais casuais, uma vez que não são opcionais e fazem parte dos movimentos comuns.

Todas estão aqui! Mais 30 personagens jogáveis

Felizmente um elemento que não vai causar nenhum atrito ou confusão é a sua componente técnica visto que Sword Art Online: Last Recollection teve um ótimo desempenho em dispositivos portáteis tais como a Steam Deck, contudo, recomendo barrarem a vossa experiência a 40 fotogramas por segundo, se não estiverem com o vosso aparelho ligado à corrente correm o risco de a vossa bateria se esfumar a olhos vistos. Felizmente se optarem por jogar no conforto do vosso lar com a portátil ligada à corrente, não só vão poder aumentar os fotogramas entre 50 a 55 como também vão poder desfrutar desta grande aventura com melhores efeitos visuais. Sword Art Online: Last Recollection apresenta as opções gráficas padrão de um jogo no PC. Resoluções em janela, janela sem bordas e “Fullscreen” até 4K, quadros até 120 fotogramas ou desbloqueados, qualidade geral dos gráficos (baixo a muito alto), Anti-Aliasing (baixo até alto), filtros anisotrópicos (x4 a 6x), qualidade das sombras (baixo a alto), campo de visão, sincronização vertical (V-Sync) e oclusão ambiental (ligada ou desligada). Como é lógico as definições gráficas mais elevadas foram demasiado exigentes para a Steam Deck, mas com uma mistura de opções gráficas em “alto” e qualidade das sombras em “baixo”, juntamente com o Anti-Aliasing em “Médio”, consegui manter uma fluidez mais que aceitável mesmo nos combates mais intensos e repletos de efeitos, de salientar que o jogo possui resoluções em formatos de ecrã 16:10, por isso podem ficar descansados que não vão ter barras negras em cima e em baixo na máquina da Valve. Relativamente ao outro PC form factor disponível no mercado, ou seja, a ROG Ally, não só podemos desfrutar nativamente do jogo no seu ecrã de 1080p como vivenciar a aventura de Kirito entre 80 a 120 fotogramas por segundo com todos os efeitos ligados e ao máximo, um feito que me deixou completamente boquiaberto e que demostra a diferença de poder que existe entre os dois aparelhos.

Algo que era mais do que esperado foi constatar o seu excelente desempenho na nossa ou build, ou seja, um computador equipado com um processador AMD Ryzen 9 5950X, placa gráfica NVIDIA GeForce RTX 4090 MSI Suprim X e 64 GB RAM a 3600 MHz. Nesta o jogo foi executado sem quaisquer inconvenientes, só recomendo e se for possível optarem por uma unidade NVME M.2 PCIe Gen 4 para a instalação do jogo. Com a mais recente adição ao nosso arsenal no nosso PC, nomeadamente uma unidade Samsung 990 PRO NVMe M.2 SSD, os carregamentos não demoraram sequer 5 segundos entre localizações, o que eliminou por completo um dos problemas do jogo e que, por conseguinte, imprimiu muito mais fluidez. Em grande parte, esta otimização em todos os sistemas deve-se ao seu cômputo visual que mesmo que seja ligeiramente superior ao anterior os modelos podiam ser bastante melhorados e mesmo algumas animações ainda carecem de muita fluidez e dinamismo, por exemplo o Kirito corre demasiado rápido e algumas das suas ações, mesmo que se trate de um jogo, são demasiado repentinas. O mesmo não posso dizer da banda sonora que mesmo que seja praticamente pautada por temas épicos, através da inclusão de vários instrumentos e modernizações dos mesmos deu uma sonoplastia bastante modelar e distinta ao jogo.

O jogo apenas suporta áudio em japonês com textos localizados numa panóplia de diversos idiomas onde um destes felizmente é o Português do Brasil, mas devem antes mudar a linguagem nas opções de jogo no launcher da Steam. Uma última nota, o jogo nesta fase ainda não conta com as “pillow talks” de Kirito e da suas pretendentes, mas de futuro vão ser incluídas, vários fãs demonstraram o seu desagrado perante esta omissão.

Sword Art Online Last Recollection fecha com chave de ouro o “Gameverse” das aventuras do Cavaleiro Negro que desde 2014 não parou de receber jogos para diversos sistemas. Todos estão aqui! A história, o mundo de Underworld e todo o harém do Kirito. Em Sword Art Online Last Recollection todos os jogadores através de uma jogabilidade complexa, modelar e gratificante vão encontrar o seu lugar ao sol, quer sejam fãs da série como de um Action RPG sólido.

Bruno Reis
Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.
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