Retronime – Tenkuu no Escaflowne

O Retronime regressa em força! Trazendo até vocês uma das mais belas e impressionantes séries anime. Falo da majestosa e intemporal, Tenkuu no Escaflowne (The Vision of Escaflowne).

Hitomi é uma estudante de 15 anos que adora ler as cartas de Tarot, e tudo relacionado com este conceito. Porém certo dia a jovem começa a ter pesadelos assustadores, onde armaduras gigantes combatem entre si, deixando um mar de precaridade e destruição por onde passam. Este acontecimento começa a ter contornos ainda mais perturbadores quando Hitomi começa a ver visões. Durante um treino desportivo, estes acontecimentos materializam-se quando dos céus cai um rapaz chamado Van Fanel, acompanhado por um feroz dragão. Devido a uma premonição, os dois conseguem aniquilar a criatura, no entanto surge um pilar de luz que transporta-os para um planeta chamado Gaia. Com surpresa Hitomi descobre que está no meio de uma guerra entre as nações Asturia, Fanelia e Zaibach, e quando tenta regressar a casa acaba por despertar os seus poderes latentes psíquicos e o Guymelef (termo mecha nesta série) de Fanelia, o poderoso Escaflowne.

Antes de mais convém referir que Tenkuu no Escaflowne, estava previsto para uma maior duração. Diversos fatores, quer financeiros, quer temporais, assimilaram a aventura de Van e Hitomi, para apenas vinte e seis episódios, onde na verdade estavam pelo menos previstos trinta e nove. Também esta é uma das muitas adaptações da obra provida das mentes de Hajime Yadate e Shoji Kawamori, existe também um filme, que segue o enredo base de outra forma, e três versões manga. Porém nas mesmas, as personagens e desenvolvimentos são completamente diferentes. Por exemplo Hitomi, é uma rapariga de cabelos longos, desmiolada e de óculos, e Van chama-se Burn, usa uma capa e tem cabelo verde. A versão televisiva criada através da colaboração entre Shoji Kawamori e Nobuteru Yuki, abandona alguns moldes estabelecidos pela obra original, destruindo o traço shoujo dando mais foco ao shounen tradicional ambientado num cenário medieval pincelado de tons steampunk. Evocado numa altura onde o Heroic Fantasy estava em alta devido ao crescente número de obras RPG dentro e for a Japão, sem surpresa as personagens são vulgares troupes. No entanto é de louvar como a produção durante o decorrer da série conseguiu dar completamente a volta, e quer personagens principais, quer secundárias bem como vilões, transmitir-lhes um desenvolvimento suave mas tremendo, baseando-se em certos pontos-chave que mesmo sendo previsíveis, conseguiram sempre transmitir frescura, “atuar realisticamente” e enaltecer o enredo e mutuamente com as mesmas. Este fator ganha mais reconhecimento quanto temos dezenas de personagens, e como já sabem a duração da série era mais extensa, milagrosamente não sacrificou nenhum desenvolvimento e mais ou menos conseguiu tapar todos os buracos desta maravilhosa história.

As mesmas tornam-se completas antíteses das suas formas iniciais, Van inicialmente era mais selvagem e no final torna-se mais calmo e capaz de confiar nos outros. Também Hitomi torna-se numa jovem mais confiante e capaz. Deixo ainda uma menção honrosa para o louco Dilandau, do império de Zaibach, que quem conhece sabe do que estou a falar. Realmente todas as personagens têm espaço e destaque neste mundo só é pena que muitas sejam apenas para efeitos de comédia, e aparecem e desaparecem mais rápido do que o Yamcha muda de penteado. Tal como na obra em que se baseia encontramos também algum romance, aqui apenas implícito mas muito melhor doseado, entre Van, Hitomi e Allen, o príncipe de Asturia, membro da cavalaria Caeli e que curiosamente possui a mesma aparência que a paixoneta da Hitomi no planeta Terra.

O meu único senão aqui, é o seu fluxo, de início a série é muito, muito lenta, enquanto de meados até ao seu final, bombardea-nos com acontecimentos, informação e desenvolvimentos a um ritmo demasiado acelerado contrastando com os momentos inícios, talvez aqui ainda estivesse planeada a série na sua totalidade. Temos também um clima político, mas muito brando e sem entrar nos conhecidos territórios de Gundam, o que acho uma mais-valia porque o foco desta história são as suas personagens e o mundo em si. Falando no mesmo está bem constituído, com diversas raças (como a de Merle), também acho interessante como cada nação tentou integrar o seu nível de tecnologia versus os Guymelef utilizados. Uma nota muito, muito pessoal, Tenkuu no Escaflowne quase parece uma encarnação da saudosa série de RPG da Capcom, Breath of Fire, ora reparem. Temos um rapaz que de uma forma ou de outra “transforma-se” num dragão, uma rapariga com sentimentos pelo protagonista, responsável pelo seu despertar e finalmente raças felinas. Será coincidência, ou um facto? Deixo a vosso critério.

Tenkuu no Escaflowne foi produzido pelo célebre estúdio de animação Sunrise. Realmente só por este valor sabemos a partida que o destaque foi para os Guymelef, onde pouco ou nada ficou de fora nestas armaduras gigantes. Excelente coregrafia e fluidez, realmente é assombroso pensar que muito pouco CGI foi usado nas mesmas. Quanto a ambientes igualmente bem retratados só mesmo a arte das personagens é fez narizes a alguma gente, finalmente destaque para a palete de cores especialmente em Zaibach, transportando-nos para um ambiente mais negro e depressivo. Quanto ao som, bem, estamos perante de uma das melhores séries neste parágrafo. Não só a respeito da abertura interpretada pela própria Maaya Sakamoto (Hitomi) ou o encerramento Mystic Eyes, como estamos na presença de uma obra que conta a participação da filarmónica de Varsóvia! Realmente é sublime, acompanharmos a ação ao som de épicos cânticos, muitos dos quais ainda vivem nas vossas memórias.

Esta série esteve em exibição na Sic Radical logo na abertura deste canal. A par de Cowboy Bebop e Trigun foi a trindade do anime no espaço Banzai, traduzindo-se num enorme sucesso, e sem sombra de dúvidas uma das series que mais gostei nesse espaço.

No final Tenkuu no Escaflowne, é uma série que merece não só uma descoberta como também uma nova visualização, excelente rácio entre história e personagens polvilhados com muita emoção, momentos e sensações, continuam presentes numa obra que ainda é uma referência a bom ao conteúdo. Realmente é assombroso pensar o que as aventuras de Hitomi poderiam ter sido, bem isso talvez nunca saberemos.

Artigo enviado pelo nosso leitor Bruno Reis. Podem enviar as vossas reviews para o email admin@otakupt.com.