Granblue Fantasy: Relink é a mais recente e primeira aposta da Cygames enquanto produtora na Europa, sendo que ao longo dos tempos a franquia Granblue Fantasy tem vindo a reinventar-se ao adotar várias formas e géneros.

Como na sua essência tem todas as nuances e constituintes de um RPG, desde que foi anunciado ainda como Granblue Fantasy Project Re: Link em 2016, que o jogo recebeu de imediato as atenções e olhares de todo o mundo. Embora de início tenha sido apresentado como um projeto conjunto entre a PlatinumGames e a Cygames, em fevereiro de 2019 foi anunciado como Granblue Fantasy: Relink, um projeto da Cygames com Yasuyuki Kaji, um funcionário da PlatinumGames. Agora que finalmente temos um dos mais esperados jogos do início do ano, vamos ver se anos e anos de espera valeram realmente a pena.

Granblue Fantasy: Relink foi criado quer para os maiores fãs de Granblue Fantasy como para os recém-chegados a este universo fantástico. Embora o jogo tenha apresentações na forma de episódios e um glossário vastíssimo de termos e locais, deixo a recomendação para pelo menos assistirem às duas temporadas do anime ou jogarem os jogos Grandblue Fantasy Versus para contextualizarem as suas personagens e ambientes, porque são apresentadas por texto e podem ser um pouco difíceis de discernir. Tal como na maioria dos JRPGs as primeiras horas são dedicadas a apresentar as personagens, mas como temos a opção de escolher entre Gran e Djeeta (a sua contraparte feminina) logo de início e como o jogo dispõe de uma party com 6 personagens logo de imediato, julgo que os jogadores vão no geral desfrutar mais desta aventura se tiverem um conhecimento prévio de cada uma das personagens e das suas características.

A tripulação de Gran com o desenrolar da aventura aumenta em número de elementos e raças

Realmente é impossível não nos identificarmos com um elenco tão vasto e colorido como este. Apesar de muitas personagens se inserirem em estereótipos, as suas motivações e histórias são relacionáveis e sem dar conta, aos poucos, senti-me investido nas mesmas. Compreendo que muitos possam sentir-se intimidados pela história, porque convenhamos, Granblue Fantasy apenas começou a ser popular no ocidente há um par de anos. Felizmente, a produção deste RPG pressupôs que esse fosse um problema para esta parte do mundo e não só facilitou a entrada para muitos para a tripulação da Grancypher, como polvilhou pequenos easter eggs e referências para os fãs de longa data nos diversos media, sendo que o diário da Lyria é outro testemunho desta afirmação pois está repleto de informação e termos de personagens e locais.

No entanto, a temática de Granblue Fantasy na realidade é bastante simples. Tudo partiu de um jogo para smartphones criado por veteranos da indústria e inserido num mundo de fantasia onde um jovem capitão chamado Gran, conhece uma menina chamada Lyria e forma uma tripulação para percorrem os céus em busca de uma ilha lendária onde supostamente se encontra o seu pai. Não existem dúvidas que muitos jogadores o vão rotular como uma espécie de One Piece ou Edens Zero celestial, porque ambos apresentam imensos paralelismos com estas séries, no entanto, por vezes, lembrou-me um sucessor espiritual do célebre Skies of Arcadia da SEGA Dreamcast.

Para além do modo de história, Granblue Fantasy: Relink possui uma componente multijogador integrada, focada no modo cooperativo intitulada “Quests”, que aumenta exponencialmente o tempo de jogo. De salientar que este modo além de suportar aliados pelo computador, também suporta parties online com desafios criados para serem conquistados por um grupo de quatro jogadores. Este ciclo de fim de jogo tem como objetivo oferecer pelo menos 40 horas de conteúdo adicional jogável, para não só desenvolver a equipa ao limite como obter itens raros para atualizar as personagens.

Os jogadores devem criar uma equipa atendendo aos pontos fortes de fracos de cada membro

Porém, por muito interessantes que as personagens, narrativa e as missões paralelas sejam num RPG, têm de ter um sistema de jogo sólido para as suportar e felizmente esse é o caso de Granblue Fantasy Relink. A equipa da Cygames decidiu transitar Gran e a tripulação do Grancypher de pequenos ecrãs estáticos de smartphones para explosivas arenas enquanto introduziu um sistema de batalha incrível. “Fácil de jogar, difícil de dominar“ esta é uma afirmação clichê que certamente muitos de nós já vimos em inúmeras análises. Contudo, julgo que essa é a melhor afirmação para descrever o sistema de combate de Granblue Fantasy: Relink. As batalhas empregam um híbrido de action RPG com elementos de estratégia. Os jogadores controlam as suas personagens enquanto bloqueiam, esquivam e encadeiam ataques fracos e fortes em combinações repletas de intensidade e dinamismo, sem nenhuns tempos mortos, até porque podem trocar em tempo real o armamento das suas personagens. Embora o combate seja muito simples contra mobs o mesmo não pode ser dito dos confrontos contra bosses. Nestes, os jogadores vão ter de empregar as suas melhores técnicas conjuntas para triunfar.

Tudo começa muito antes destas batalhas, os jogadores devem decidir quem desejam levar para a batalha e quem desejam nomear como capitão enquanto este é apoiado pelo resto da equipa. Tudo flui sem os habituais inconvenientes em jogos com sistemas semelhantes, tais como ângulos de câmara desequilibrados ou mergulhar os jogadores na monotonia. Como a equipa de Gran ou Djeeta é incrivelmente modelar e variada, os jogadores vão ter de controlar as equipas sempre numa dinâmica diferente quer seja na ofensiva como na defensiva.

As batalhas contra bosses são bem desafiantes

Durante os combates a personagem que controlamos aumenta de percentagem de ligação quando cada golpe combinado é disferido no inimigo e quando atingir 100% pode utilizar um devastador golpe especial ao recorrer à combinação de botões “L3 e R3”. Contudo se todos os membros da equipa tiverem sincronia a 100% os jogadores podem realizar uma cadeia de “Skybound Attacks” para no final culminar com uma poderosíssima “Full Chain”, acreditem é extremamente gratificante terminar uma batalha desta forma.

Para aumentar este sistema e melhorar as capacidades das personagens o jogo dispõe de uma mecânica de desenvolvimento de personagens muito semelhante à de Final Fantasy X, onde estatísticas e capacidades ofensivas e defensivas estão bloqueadas por Nodes e como os pontos de Mestria reunidos são partilhados por toda a equipa, convém perdermos um pouco do nosso tempo a decidir a quais personagens vamos atribuir pontos.

Os Skybound Attacks são vitais para conquistar os inimigos mais implacáveis

Outro elemento onde vão perder imenso tempo, mas no bom sentido, é nos seus grafismos. Embora este seja um jogo que possa transmitir alguma simplicidade visual, Granblue Fantasy: Relink é um jogo muito belo e não tenho a menor dúvida que os jogadores vão perder imenso do seu tempo e explorarem cada canto e recanto das ilhas. De salientar que as cidades e pequenas aldeias também acompanham esta tendência com NPCs de diversas raças envoltos em várias arquiteturas locais que partilham elementos de Steampunk e medieval. Os modelos de personagens embora apresentem elementos 3D apenas o fazem nas roupas e armamento por isso, e como as suas caras se mantiveram intactas com sua arte 2D, não atingiram níveis “uncanny” que são comuns quando as produtoras tentam passar modelos de anime para 3D, Jump Force é um forte exemplo desta peculiar via artística que não é do agrado dos fãs.

É devido essencialmente e estes visuais e aos efeitos de luz a incidirem nos mesmos que fazem com que Granblue Fantasy: Relink se torne num jogo um pouco exigente nos seus recursos e acredito que até apanhe alguns desprevenidos. Para os jogadores desfrutarem desta grande aventura vão pelo menos necessitar de um processador hexacore emparelhado com uma placa gráfica NVIDIA GeForce RTX 2080 8GB e 16GB RAM para apenas atingirem 30 fotogramas a 4K. Felizmente na nossa build composta por um processador AMD Ryzen 9 5950X, placa gráfica NVIDIA GeForce RTX 4090 MSI Suprim X, 64 GB RAM a 3600 MHz e uma unidade Samsung 990 PRO NVMe M.2 SSD pudemos executar Granblue Fantasy: Relink sem nenhuns inconvenientes com os poucos efeitos visuais elevados ao extremo. Naturalmente que quando transitei para os dispositivos portáteis, ou seja, Steam Deck e ROG Ally, tive de fazer alguns sacrifícios visuais, mas foi possível jogar na Steam Deck com as opções gráficas recomendadas a 30 fotogramas por segundo a 720p. Na portátil da ASUS aconteceu o mesmo, mas a 1080p e 60 fotogramas, com ligeiras quebras nos combates mais caóticos. Com um misto de opções gráficas em baixo e médio, recomendo dedicarem pelo menos 6GB na GPU do vosso aparelho no menu da Armoury Crate para jogarem sem inconiventes.

A banda sonora de Granblue Fantasy: Relink acompanha os mesmos valores que a série já nos habituou, ou seja, faixas épicas repletas de batidas fortes nos combates e música calma ou imponente nas aldeias e cidades dependendo da sua topografia e energia. Um elemento que vai agradar e muito aos jogadores é a hora de escolherem as diversas linguagens localizadas no jogo. É com muito prazer que informo os nossos leitores do Brasil que o jogo possui textos em Português do Brasil e áudio em inglês ou japonês.

A Cygames acertou em cheio na fórmula quando decidiu transitar as suas personagens para um action RPG ao criar um conjunto de sistemas fáceis de aprender, mas difíceis de dominar que funcionam extremamente bem nos modos de jogo local ou cooperativo. Granblue Fantasy: Relink possui todas as características para se tornar num jogo imprescindível para todos os fãs de jogos deste género, ou seja, um mundo de fantasia rico, repleto de personagens carismáticas e divertidas, envoltas numa história épica suportada por um sistema de combate equilibrado que pode ser desfrutado com 4 jogadores em simultâneo. Estamos perante o primeiro RPG obrigatório de 2024 e um dos mais robustos produtos de uma das séries multimédia mais bem-sucedidas dos últimos anos.

Bruno Reis
Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.
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