A editora e produtora The Game Bakers, a mesma equipa responsável por Furi, retorna com o seu mais recente videojogo Haven que tem em si uma premissa especial sobre o amor e a liberdade. O RPG com visão em terceira pessoa, explora a sobrevivência e a paixão de dois jovens que decidem viver escondidos de um regime opressor definido pela sua mentalidade antiliberal. Para além da exploração e do combate, o tema principalmente é nutrido por uma história de amor calorosa que contém os ingredientes certos para uma vida a dois.

Em Haven vivemos a história de Kay e Yu, um casal na flor da idade que decide fugir do planeta natal para viverem uma nova vida feliz num novo planeta supostamente deserto conhecido pelo nome de Origem. Após um terremoto causado por causas misteriosas, é destruído o Ninho (nave/casa) dos protagonistas, sendo que parte do objetivo do jogo passa por encontrar as peças e os recursos espalhados pelas ilhas do planeta que vão servir para reparar e tornar o nosso lar um espaço mais aconchegante. No entanto, durante o desenvolvimento da história teremos outros segredos por desvendar que poderão causar perturbações à paz que os jovens tanto idealizavam.

O casal são praticamente as únicas personagens que teremos presentes em jogo. Deste modo a narrativa está atenta aos seus sentimentos e à forma como agem com as experiências do dia-a-dia. Em função disso, este título é especialmente apoiado pelos diálogos entre os dois, que sucedem através das várias circunstâncias. Estes diálogos transportam temas triviais e assuntos íntimos da vida do casal que são aplicados de forma interativa com escolhas de resposta diferentes que contribuem para aumentar a motivação de ambos, mas que também podem ter consequências a longo prazo. Algumas destas situações sucedem dentro e fora do Ninho, onde cozinhar, descansar ou ver o por do sol servirá de argumento para observarmos momentos mais genuínos e para ficarmos a conhecer a vida do casal antes de conseguirem escapar do apiário.

É nesses momentos que nos começamos a familiarizar com a personalidade do casal e a entender as diferenças um do outro. Kay é um rapaz com paixão pela biologia que aparenta ser mais controlado e dedicado às emoções, enquanto a sua amada Yu, experiente na tecnologia, é corajosa e a mais prática dos dois. Ambos estão erguidos sobre características bem humanas, o que torna a rotina do casal mais realista e cativante a nível social.

Quando começamos a percorrer as ilhas de Origem, descobrimos mecânicas de exploração inspiradas certamente no ADN de Journey. Kay e Yu têm a seu encargo umas botas gravitacionais que os permitem navegar de forma ágil entre os cenários como se estivéssemos a patinar suavemente numa pista de gelo. Esta habilidade com ajuda do fluxo, fios de energia azul, permite-lhes alcançar os pontos mais elevados bem como recarregar o nosso equipamento de deslocação e combate. O nosso dever também passa por “purificar” o planeta e as criaturas que estão corrompidas por um género de crosta vermelha libertada por uma ferrugem extraterrestre. Embora se possa tornar repetitivo ao longo de umas horas, os eventos que vamos assistindo tornam este ciclo de purificação mais gratificante.

Já o sistema de combate faz uso de uma estrutura por turnos e em tempo real. Com o controle de Kay e Yu em simultâneo, é dado aos jogadores quatro opções de ação que vão de ataques físicos a purificar. Cronometrar mentalmente as ações do oponente pode ser uma boa maneira de perceber quando atacamos ou defendemos a investida da criatura. Pode parecer básico à primeira vista, mas eventualmente gerenciar as ordens de cada personagem antes de sermos atacados consecutivamente, exigirá uma rápida decisão para percebermos as fraquezas de cada criatura e enfrentar alguns dos inimigos mais agressivos. O estúdio criou este sistema envolvente com o objetivo de entregar algo mais fluido, para que em combate os jogadores consigam tirar proveito do desafio e do ritmo do jogo. Este título apesar de utilizar a fórmula de um RPG, não possui um sistema de evolução por níveis. A experiência dos protagonistas passa por realizar tarefas simples, que servem para potencializar os seus status. Apanhar alimentos ou plantas medicinais, ou outros recursos enquanto exploramos para conseguirmos criar itens de cura e melhorar os equipamentos de combate são algumas das tarefas que nos vão auxiliar a desenvolver as capacidades do duo.

Algo que foi percetível no grafismo é a falta de variedade natural das paisagens que vamos desbravando. Apesar de ser um indie visualmente encantador, devido às suas tonalidades fortes em aguarela e traço desenhado à mão ao estilo anime, os cenários sobretudo rochosos acabam por tornar o aspeto demasiado monótono, sem diversidade ambiental. Por outro lado, a banda sonora original criada pelo francês Franck Rivoire, conhecido pelo nome artístico Danger, encaixa perfeitamente na ideologia do jogo. A música é o ponto principal e maioritariamente eletrónica. A sonoridade em Haven é muito mais intensa e emocional, algo que pode ser desfrutado enquanto planámos num dia calmo pelas paisagens de Origem. É uma mais valia afirmar que ainda podemos contar com legendas em PT-BR.

Jogos como Haven, são importantes para comprovar o quanto um conceito inovador pode ser bem-vindo a géneros que pecam pela falta de humanidade no mundo dos jogos. Independentemente da pouca exigência em combate ou da ausência de variedade encontrada nos cenários, o importante será abraçar os momentos marcantes da narrativa entre Kay e Yu que nos fazem acreditar no amor verdadeiro.

Haven foi lançado a 3 de Dezembro de 2020 para PC, PlayStation 5, Xbox One, e Xbox One Series S/X e recentemente a 4 de Fevereiro de 2021 para PlayStation 4 e Nintendo Switch.

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