Durante a análise de Marvel’s Spider-Man Remastered disse várias vezes que estávamos diante do melhor jogo de super-heróis até ao momento e que estávamos perante um muro a superar. Pois bem essa parede foi claramente trepada por Marvel’s Spider-Man 2, a continuação da obra da Insomniac Games que continua a história dos Spider-Men da antiga e da geração atual.

É com muita certeza que vos posso dizer que a Insomniac Games entregou mais uma vez um jogo de grande qualidade, que melhora quase tudo o que vimos e jogámos nos dois títulos anteriores. O jogo continua com cenas extremamente cinematográficas, uma história recheada de momentos épicos e, para finalizar uma série de novos recursos.

O balanço pelas teias é uma das partes mais importantes de qualquer jogo do Homem-Aranha, especialmente numa aventura “sandbox”. No primeiro jogo, a Insomniac Games criou um sistema extremamente divertido e satisfatório, embora sentíssemos que poderia melhorar em certos detalhes.

Em Marvel’s Spider-Man 2, os programadores pegaram nas críticas dos jogadores e da imprensa para lançar uma teia mais robusta de forma a alcançarem edifícios mais distantes. A transição entre prédios está mais rápida com uma sensação de velocidade mais intensa e uma aceleração mais realista, a câmara está mais próxima dos cabeças de teia, e para fechar com chave de ouro complementou a gameplay de travessia com as teias planadoras nas axilas dos fatos que adicionam e complementam os seus movimentos.

Existem também algumas melhorias desbloqueáveis que expandem ainda mais as opções de jogo. Conforme o jogador adquire pontos de habilidades, pode desbloquear novos movimentos, como novas manobras de parkour e a slingshot, que essencialmente atua como um propulsor para enviar os inimigos do chão para o ar. Marvel’s Spider-Man 2 prova que também está atento ao passado porque introduz opções de dano por queda e redução da assistência ao balanço. Por norma esta assistência está no nível 10, mas se reduzirmos para 0, as físicas afetam as teias de uma maneira muito mais realista, o que resulta numa experiência semelhante à de Spider-Man 2, o jogo oficial do segundo filme da trilogia inicial e um dos mais aclamados no departamento da gameplay.

Esta gameplay também enriquece todas as outras áreas que claro conta com o robusto e intuito sistema de combate dos jogos anteriores, que regressa também com novas melhorias e movimentos desbloqueáveis que podem ser combinados. Os combos aéreos foram renovados e em Marvel’s Spider-Man 2 é possível arremessar inimigos e continuar no ar a pancadaria acrobática, ou seja, esta mecânica retifica de imediato uma das poucas falhas que apontei nos anteriores jogos sendo que Peter ou Miles já não terminam os seus combos de uma abrupta e linear porque agora existem várias janelas para continuar a castigar os criminosos mesmo depois das deslumbrantes técnicas finais.

É certo que com as teias elétricas de Miles esse registo quase acontecia, mas nesta continuação as técnicas especiais também são personalizáveis. Cada um dos Spider-Man pode equipar quatro técnicas únicas, tais como a Spider Saraivada, ou o Impulsionador de Energia que causam bastante dano, mas precisam de um tempo de recarga até ao seu próximo uso.

Com o novo fato simbiótico as habilidades de Peter também foram amplamente melhoradas porque com os tentáculos do fato senciente, o Homem-Aranha pode erguer inimigos no ar e esmagá-los contra o chão, arremessá-los contra paredes ou até ativar um modo de sobrecarga para se sentir absurdamente poderoso, a troco de… bem deixo esse mistério para vocês descobrirem. Adicionalmente, o combate recebe ainda mais verticalidade com um botão de bloqueio que pode ser utilizado para fazer parries e esquivas se for pressionado no momento certo o que torna tudo ainda mais intenso.

Esta intensidade atinge níveis incríveis nas missões principais, que trazem sequências de ação tão espetaculares quanto às que assistimos nos filmes do super-herói. Existem momentos que colocam Peter e Miles contra hordas de inimigos em cenários inacreditáveis, perseguições frenéticas e confrontos contra os supervilões mais perigosos da cidade que são polvilhados com alguns inexplicáveis momentos de terror, afinal estamos a falar de um inimigo do homem-aranha grotesco que come cabeças ao pequeno almoço e um caçador russo selvagem implacável e aterrador.

Esta variedade de inimigos e situações são dois dos grandes aliciantes em Marvel’s Spider-Man 2. As mecânicas de balanço e combate foram colmatadas com uma quantidade infinita de recursos que foram usados em momentos específicos quer em missões principais como secundárias. Desde lançar um drone para as nuvens, controlar um spider-bot na primeira pessoa até passear nas atrações de Coney Island, o jogo está repleto de surpresas. Infelizmente, algumas só aparecem uma vez.

Mesmo assim todas são introduzidas com rigor e assentam que nem uma luva na diversidade da narrativa visto que o jogo não tem pudor ou receio em desmascarar os nossos heróis e colocá-los em momentos do quotidiano. Tal como nos jogos anteriores estes momentos ajudam a aprofundar a ligação entre os Spider-Men com as outras personagens e separar a linha entre super-heróis e cidadãos com vidas comuns.

Antes que façam a pergunta, sim os quebra-cabeças de laboratório estão de volta, assim como os angustiantes níveis de furtividade onde controlamos uma Solid Snake de trazer por casa também conhecida como Mary Jane Watson, que não para de se meter em sarilhos em busca de uma primeira página no Daily Bugle. Como já se devem ter apercebido quer eu como a maioria dos jogadores não ficamos lá muito contentes com esta mecânica no primeiro jogo e a Insomniac Games apercebeu-se desse facto e introduziu uma jornalista que agora até consegue encarar as suas ameaças de uma forma mais ativa e até menos horizontal.

Mas não foi só a ruivinha que recebeu melhorias no fluxo do jogo, Peter e Miles também acompanharam esta tendência. Durante a história, o jogo determina qual personagem controlamos, e algumas missões secundárias são exclusivas de cada um, felizmente podemos trocar livremente entre ambos de uma forma quase instantânea, um efeito que tem um sabor diferente se o jogo for instalado numa unidade NVME.

Existem detalhes que atribuem maior dinâmica e coesão ao jogo, como por exemplo quando corremos para ajudar um dos super-heróis que já está a combater no local e ao chegarmos somos brindados com uma panóplia de golpes combinados acompanhados por dezenas de bocas foleiras que como sabemos são bem características das personagens, resumindo, preparem-se para uma dinâmica incrível!

Mas claro que não vou esconder que seria bem interessante se existissem situações que incentivassem a escolha de uma ou outra personagem, quem sabe na mais que certa continuação deste jogo porque o seu final abriu muitas portas.

Acreditem que vos gostaria de dizer mais a sobre a sua história, sem spoilers apenas vos posso dizer que temos um ótimo equilíbrio entre personagens e que tudo o que rodeia Venom merece ser experienciado por vocês mesmos.

Na verdade, acho impressionante como conseguiram encaixar numa única história dois Spider-Men, um incrível número de vilões, o fato negro e o Venom, de uma forma em que tudo fez sentido e foi bem desenvolvido. Certamente que a história possui os seus momentos previsíveis, afinal estamos a falar de uma adaptação de um comic focado para os jovens. Outro elemento que senti bastante equilíbrio foi na dificuldade porque quem jogou os anteriores sabe que eram pouco desafiantes.

Desta vez, o jogo conta com cinco níveis de dificuldade: “amigo do bairro”, “amigo”, “incrível”, “espetacular” e “definitivo”, sendo que este último só é desbloqueado após terminarmos o jogo pela primeira vez. Quanto maior a dificuldade, mais agressivos serão os inimigos, mais dano causarão e mais saúde possuem.

Joguei na dificuldade “incrível”, que seria o equivalente à anterior “normal” e encontrei um desafio decente. Certamente que não tive nas minhas mãos um jogo brutalmente difícil, mas mesmo assim fui derrotado várias vezes, principalmente nas batalhas contra os bosses, outro elemento que melhorou bastante.

Agora sim enfrentamos bosses de verdade, com barras de vida e várias fases. O que tornou estes confrontos desafiadores foi a necessidade de identificar os seus padrões ataque para saber quando devia esquivar-me, bloquear ou atacar, porque, caso contrário, dois ou três golpes e os Spider-Men eram derrotados. Em suma, ao contrário dos anteriores jogos senti os bosses como verdadeiras ameaças ao longo de aproximadamente 35 horas, que certamente podia atingir registos maiores com a conclusão de atividades opcionais tais como fotografar, encontrar esconderijos e eliminar ameaças furtivamente.

Evitar os inimigos e derrotá-los silenciosamente já era fácil nos dois jogos anteriores, mas em Marvel’s Spider-man 2 tudo ficou ainda mais simples com a inclusão de um dispositivo que permite unir dois pontos com uma teia. Escusado será dizer que colocar criminosos como se fossem roupas num estendal a secar foi no mínimo, divertido.

O que certamente não foi divertido foram as intermináveis inconsistências técnicas que acompanharam o lançamento do jogo. Desfrutar desta grande aventura nos seus primeiros dias foi no mínimo doloroso porque os crashes, inconsistências visuais, tais como ecrãs cintilantes e um desempenho muito pobre, mesmo quando estamos a falar de uma build composta por um processador AMD Ryzen 9800X3D64 GB RAM a 6000mhz e uma placa gráfica NVIDIA GeForce RTX 4090.

Felizmente a Insomniac Games esteve atenta e estes e outros problemas com a atualização “Hotfix v1.202.0.0”. Com a sua instalação grande parte dos problemas técnicos foram resolvidos e o jogo recebeu uma maior estabilidade e desempenho. Contudo, um dos pontos mais críticos continuou a persistir, os recursos NVIDIA DLSS 3, especialmente na geração de fotogramas e reconstrução de ray tracing. Felizmente a AMD FSR 3.1 esteve lá para salvar o dia e mesmo que não seja tão requintada quando a sua concorrente mais direta, pelo menos cumpriu as suas funções. Acreditem que a AMD nesta fase pode muito bem ser o herói sem capa deste jogo, porque tal como os seus antecessores estamos na presença de um jogo bastante “CPU Bound”, ou seja, faz um grande uso do processador para a renderização, outros exemplos de jogos com uso intensivo no processador são Cyberpunk 2077, Hearts of Iron 4, The Finals e outros jogos free-to-play.

A recorrer à tecnologia de geração de fotograma da AMD pude desfrutar de toda a aventura entre 80 a 90 FPS com todos os efeitos elevados ao máximo na maioria das cenas. Durante a travessia pela cidade esta taxa desceu e o mesmo aconteceu nas cenas cinematográficas e em algumas travessias pela cidade, especialmente quando estava acompanhada por efeitos atmosféricos tais como chuva ou partículas de areia. Estamos perante uma port PlayStation criada para o PC pela Nixxes Software por isso as definições gráficas abundam. Além de 5 presets, os jogadores podem modificar a qualidade das texturas, a qualidade das sombras, a densidade do tráfego, o nível de detalhe, sombras com ray-tracing e muito mais.

Marvel’s Spider-Man 2 é um espetáculo visual tremendo, e neste parágrafo vou sublinhar apenas alguns pontos. Para começar este é um dos jogos onde vi uma das maiores draw distances, julgo que nem mesmo GTA V conseguiu este feito. Um dos seus maiores denominadores é quando Peter ou Miles sobem para edifícios mais altos e presenciam a cidade do topo enquanto assistem ao quotidiano dos seus habitantes. Ao contrário do capítulo anterior até foi possível ver pessoas no interior dos prédios, isto claro tem um maior requinte e detalhe se os efeitos de ray tracing estiverem todos acionados e na sua máxima plenitude, algo que deve melhorar com a retificação por completo da reconstrução ray tracing e com o DLSS 4 em modo de Transformador. De salientar que este último já é possível se forem utilizadas ferramentas de terceiros, tais como o DLSS Swapper.

Os fatos dos super-heróis foram novamente destaque no departamento visual visto que foram criados com texturas ainda mais refinadas e realistas que se deterioram consoante o dano recebido. Esta seria sem dúvida uma opção interessante que proporcionaria uma aventura mais minimalista e até imersiva se ao invés de barras de saúde fossem representados os danos sofridos com os rasgos dos fatos, sujidade e cortes.

Tal como os seus antecessores Marvel’s Spider-Man 2 tira partido das funcionalidades hápticas do comando DualSense, se claro estiver ligado a uma porta USB do nosso computador. Desde o início do jogo que o comando da PlayStation 5 acompanha os jogadores. A vibração dos passos é diferente consoante a superfície em que os super-herois caminham, é possível sentir as folhas das árvores entre travessias e até ouvir alguns sons animalescos quando Peter liberta o poder do fato preto no altifalante do comando. A resistência dos gatilhos também foi uma constante nos diversos minijogos que acompanharam o jogo principal, que mesmo existindo em grande número não estorvaram ou quebram o ritmo de jogo.

Marvel’s Spider-Man 2 até ao momento é o jogo definitivo de super-heróis e o derradeiro do Homem-Aranha. Mesmo recheado de novos elementos consegue encontrar um ritmo saudável entre todos sem destoar e fustigar o jogador. Também consegue o feito de retificar diversas falhas dos anteriores e estaríamos diante de um jogo mais que obrigatório se não existissem problemas técnicos clamorosos que mesmo que continuem a ser limpos a um ritmo constante ainda continuam a manchar os vibrantes fatos dos amigos da vizinhança. 

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