Super Robot Wars 30 é o mais recente episódio de uma série que iniciou a sua atividade no início dos anos 90, e que ao longo da sua vida por cerca de 3 décadas viajou por diversas eras e plataformas. Praticamente os mais de 40 títulos ficaram barrados aos territórios nipónicos pelo simples facto de que seria uma tarefa hercúlea licenciar dezenas de IPs de várias empresas num território desconhecido para um mercado de nicho. Contudo, como assistimos a um movimento cada vez mais global e abrangente no consumo de anime devido a serviços como a Crunchyroll ou Netflix, os mechas e pilotos de Mobile Suit Gundam, ou Getter Robo, começaram a conquistar o seu espaço e notoriedade no coração de fervorosos fãs ocidentais.

Devido a este registo a série Super Robot Wars (Super Robot Taisen) nestes últimos anos começou a receber versões na região da Ásia com textos em inglês para a PlayStation 4 e para a Nintendo Switch, tornando muito mais fácil e apetecível o consumo do produto no ocidente. Evidentemente para este efeito os fãs tiveram de recorrer à importação. Contra tudo e contra todos, e completamente de surpresa, a Bandai Namco Entertainment inundou-se de “Plavsky Particles” para concretizar os sonhos de muitos fãs e ofereceu a possibilidade de desfrutarmos de Super Robot Wars 30 no PC (Steam) sem recorrer a quaisquer importações. No entanto, os fãs das referidas consolas acima ainda devem recorrer a estes métodos para desfrutar do jogo nas suas máquinas.

Em Super Robot Wars 30 todos os universos mecha fazem parte do mesmo

Imaginem que somos novamente adolescentes e hipoteticamente começamos a imaginar várias histórias em cenários onde reunimos heróis e vilões das nossas séries mecha anime favoritas. Esta é essencialmente a premissa base de Super Robot Wars 30, pois este é um jogo que resgata máquinas humanoides e pilotos de dezenas de obras anime. Desde o contemporâneo “RX-78-2 Gundam” de Mobile Suit Gundam ao atual SSSS.Gridman do crescente universo da Tsubaraya Productions. Para muitos esta pode significar uma barreira, pois estamos perante séries que contam com mais de 40 anos no seu portefólio. É com muito prazer que afirmamos que não precisam de se preocupar, pois, o jogo conta com uma extensa biblioteca que além das sinopses e informações de todas as séries, mechas e pilotos apresentados, também alberga um enormíssimo glossário com os diversos termos específicos de cada. O fluxo de jogo é essencialmente o mesmo que assistimos nos jogos anteriores.

Os jogadores não se vão sentir perdidos se mergulharem a fundo na enorme biblioteca que acompanha este título

Novamente o jogo convida-nos a participar em batalhas SRPG nos mais variados cenários que retiram elementos e eventos das séries anime apresentadas recorrendo a uma personagem original criada especialmente para jogo. Após a escolha da dificuldade, os jogadores podem escolher uma personagem entre a dupla de irmãos Sainklaus. Se escolhermos Edge encarnamos o irmão mais velho, um drifter (que mais parece saído da série Wild Arms) se a nossa escolha for para Az controlaremos a sua irmã mais nova de poucas falas. Esta é mais que uma simples preferência de género, pois consoante a personagem ou o cenário escolhido os eventos da história e aliados iniciais mudam. Até mesmo a data de nascimento que escolhemos para a nossa personagem determina o seu ataque especial. Independentemente das nossas escolhas somos apresentados à tripulação do “Dreisstrager”, um grupo de estudantes de uma academia militar que transporta no seu interior do seu navio espacial a Mobile Suit experimental “Huckebein 30”, que, como não podia deixar de ser, acaba por ser pilotada por um dos nossos protagonistas. Na nossa análise decidimos escolher o drifter, Edge, que acaba mergulhado numa espécie de versão alternativa de Mobile Suit Victory Gundam com elementos de outros universos, tais como os extraterrestres “Wulgaru” de Ginga Kikoutai Magestic Prince. Nesta os Zanscare continuam a oprimir o povo, através do medo e da guilhotina, e os jogadores aliam-se às tropas da “League Militaire” para travar esta ameaça.

A escolha do protagonista e todos os seus elementos serão cruciais para o desenvolvimento da história

Como seria de prever uma das primeiras personagens que encontramos foi o Üso Ewin, o jovem piloto da unidade “LM312V04 Victory Gundam”. Como qualquer outro SRPG o fluxo do jogo gira em torno dos seus tabuleiros virtuais onde em cada turno controlamos uma unidade das nossas tropas. Durante este período podemos movimentar as nossas unidades pelo mapa, atacar, ações exclusivas de cada piloto, pousar, levantar, ou utilizar o “Spirit” ou as “Ex Actions” que conferem efeitos extra nos nossos pilotos. Após escolhermos qual dos nossos adversários atacar, um dos melhores elementos de Super Robot Wars 30 explode nos nossos ecrãs. As frases e os ataques que tanto celebrizaram estas personagens a bordo das suas máquinas surgem em todo o seu esplendor, munidos de um dinamismo tremendo, quase palpável, realmente é mesmo ver para crer. Como se não fosse bastante as célebres faixas musicais -geralmente aberturas- também acompanham estes momentos, produzindo momentos incríveis para os fãs enquanto transmitem curiosidade para os pilotos novatos mergulharem a fundo neste género. Após estes eventos chega a vez do inimigo atacar e ao contrário de muitos SRPG, não devemos permanecer passivos. Nesta fase também é possível defender e esquivar dos ataques e até mesmo contra-atacar. Os mesmos produzem efeitos diferentes se utilizarmos “Skills” ou consoante a força do nosso piloto, resumindo em Super Robot Wars 30 os jogadores nunca acabam um turno, pois devem permanecer de guarda a todos os instantes. Infelizmente nas dificuldades mais baixas o jogo é muito simples, e não apresenta muito desafio, só em alguns tabuleiros ou dificuldades mais altas teremos de fazer uma maior gestão de unidades e recursos para desenvolver estratégias mais eficazes.

As sequências de combate de Super Robot Wars 30 são um deleite para as nossas pupilas

Contudo, nem toda a gestão passa pelos campos de batalha. Entre intervalos nas missões os jogadores devem equipar as suas máquinas com os recursos obtidos em combate, desenvolver mais habilidades e aumentar os recursos do “Dreisstrager”. Este último é muito importante, porque permite melhorar as infraestruturas do navio de modo a produzir melhores itens e até desbloquear episódios extra dentro e fora do navio. É preciso salientar que muitas destas interações estão muito melhor representadas do que em muitos outros crossovers que popularizaram a indústria. As personagens mesmo separadas por eras, estilos de arte e séries diferentes complementam-se e sentimos uma enorme coesão neste universo. Essencialmente todas falam a mesma língua, e não sentimos desconexão contextual, visto que todas fluem de uma forma muito orgânica, ao contrário do que assistimos em alguns mundos nos jogos Kingdom Hearts, por exemplo. É certo que alguns mapas e missões são mais aprofundados como é o caso de SSSS.Gridman, que resgata praticamente os eventos iniciais da série, visto que é uma das adições a Super Robot Wars e um dos destaques por ser um dos animes mais atuais no pacote.

A história de SSSS.Gridman é uma das mais desenvolvidas no jogo

Só é pena para os fãs ocidentais que não existam séries anime mais ao nosso gosto como Tengen Toppa Gurren Lagann, ou Neon Genesis Evangelion, que marcaram presença nos episódios anteriores. Devido à sua popularidade e à disponibilidade do jogo no ocidente é provável que sejam incluídas num pacote “DLC” da “Season Pass”. Este parágrafo não será surpresa para os veteranos, mas para os novatos informamos que o jogo é incrivelmente extenso, para a sua conclusão são precisas dezenas de horas, e cada tabuleiro de jogo pode sugar-vos facilmente entre duas e a três horas. Felizmente podemos suspender a nossa sessão a qualquer altura para voltar exatamente a esse mesmo momento.

As interações entre personagens são do mais orgânico que vimos num crossover

Visualmente Super Robot Wars 30, é um produto demasiado simples para o olhar do jogador comum, e extremamente requintado para os fãs de mecha. Enquanto o fluxo de jogo durante os intervalos são essencialmente textos, imagens de fundo, recortes de personagens acompanhados por breves animações, durante os combates assistimos a uma autêntica explosão de vivacidade, repleta de efeitos, e animações que imediatamente nos conduzem a épocas onde tudo era mais simples, vivo, e inocente, inclusive nós próprios. Será impossível que durante estes minutos o espírito adolescente onde vibrávamos com os nossos pilotos e mechas favoritos, não invada o nosso corpo e até brote uma pequena lágrima ao canto dos nossos olhos.

Os tabuleiros de jogo são simples e funcionais

A forma como o 2D se mistura nestes momentos também é do mais orgânico, não sentimos nenhuma diferença quando são colocados excertos dos episódios na ação a decorrer. Este efeito pode ser comparado a uma evolução dos efeitos que assistimos no jogo Time and Eternity da PlayStation 3, o intitulado “Real RPG” que apresentou elementos semelhantes, mas pouco funcionais na sua altura. Como se não fosse bastante, o bastante caro pacote Ultimate (94,99 €) conta com as canções das séries anime. Como não podia deixar de ser, o energético tema de Getter Robo Armageddon “Heats” interpretado por Hironobu Kageyama fez parte do rol de canções, e foi impossível não começar a cantarolar mal o ouvimos. O mesmo cantor também foi intérprete de outras faixas no jogo, pois é quem mais simbolizou o espírito explosivo dos heróis mecha dos anos 90. Outros temas como o “Watashi wa Souzou Suru” de Ginga Kikoutai Magestic Prince, fizeram-nos recordar a série de 2013, e “Union” de SSSS.Gridman produziu uma certa saudade ainda bem prematura quando vibrávamos aos domingos de 2018 com as aventuras da “Gridman Alliance”. Evidentemente ouvir a mesma canção vezes sem conta pode cansar, e o mais comum é colocarem as versões instrumentais.

Como alguns efeitos 2D se misturam no jogo é deveras surpreendente

Sem surpresa perante estes efeitos, este será um jogo que não fará suar nenhum PC, e qualquer configuração mesmo minimalista vai conseguir desfrutar do mesmo, sem dúvida um forte candidato a ser desfrutado na vossa futura Steam Deck. Todos os seus momentos foram desfrutados com os poucos efeitos visuais disponíveis no máximo em resoluções 4K a 60 fotogramas por segundo, visto que esta é a taxa mais elevada. Ao contrário de muitos jogos da Bandai Namco Entertainment, apenas podemos contar como localização ocidental o inglês, se bem que esta localização tomou algumas liberdades e não exemplificam a 100% o que as personagens comentam nos seus intensos combates.

Até mesmo o abandonar de sessão é característico a um preview anime

Super Robot Wars 30 metaforicamente pode ser considerado como uma enorme caixa repleta de brinquedos que alberga sonhos, vivacidade e inocência. O espírito que sentíamos nos nossos tempos de criança foi essencialmente o mesmo quando inventávamos histórias entre os que dispúnhamos e criávamos as alianças mais improváveis para derrotar os maiores vilões. Estamos perante um jogo que honra a sua massa corporativa e associativa mesmo que não seja um produto tecnologicamente muito avançado, e mais uma prova de como o nicho pode singrar no mercado. Seria fantástico se a Steam trouxesse para o mercado ociental, os episódios anteriores que estão disponíveis na Ásia em inglês. No mais recente, se mergulharem a fundo podem crer que o vosso tempo vai ser sugado neste autêntico universo de cor, emoções e explosões. 

Prós e Contras de Super robot wars 30:

 

 

+ Super Robot Wars no ocidente sem necessidade de importações
+ Modo história com diversas diferenças entre personagens
+ História e interações extremamente orgânicas
+ Sequências de combate polidas muito próximas das suas congéneres animadas
+ Uma interessante porta de entrada para o género mecha
+ Aventura extensa que vai sugar o nosso tempo livre
+ Banda-sonora oficial das séries anime na Ultimate Edition
+ Outro candidato perfeito para a Steam Deck
–  Demasiado simplista para um SRPG
–  Estilo gráfico pobre para o jogador comum
–  Apresentação e elementos rudimentares para o panorama atual
–  Localização tomada com algumas liberdades que poderá fustigar os fãs mais dedicados
–  Preço da Ultimate Edition

Bruno Reis
Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.
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Ryriu
Ryriu
14 , Novembro , 2021 13:09

sou um grande fan joguei quase todos da serie mais vou espera alguma promoção para pegar u.u