Werewolf: The Apocalypse – Earthblood, desenvolvido pela Cyanide, é um RPG de ação que tem origem na celebrada série de jogos de tabuleiro World of Darkness. Apesar de até agora ter sido dado mais destaque a Vampire: The Masquerade, a World of Darkness tem um lore vasto e inclui um mundo muito extenso, do qual faz parte também Werewolf: The Apocalypse.
Como jogador ávido de jogos de tabuleiro, a série World of Darkness é uma que relembro com muita nostalgia, e Werewolf: The Apocalypse sempre foi o jogo de tabuleiro que mais gostei. Devo confessar que o lançamento de um videojogo baseado no meu jogo favorito da série tem um efeito duplo: alguma esperança de que este finalmente partilhará alguma spotlight com Vampire: The Masquerade, e o medo de que será uma tentativa pobre de replicar o jogo de tabuleiro. Após completar a campanha de aproximadamente 8 horas, que incluiu fazer todas as missões opcionais, obtive essas respostas, mas continuo com uma sensação mista, pois apesar de muitas falhas, alguns aspetos do jogo conseguiram manter-me entretido.

Em Earthblood, o jogador controla Cahal, um Garou (Lobisomem) que junto com a sua tribo combate contra uma empresa produtora de óleo chamada Endron, para tentar limpar o planeta da destruição e poluição causada pela indústria. A história do jogo tem um problema de acessibilidade grande, pois é contada a um ritmo muito rápido e tende a usar termos como “Garou“, “Wyrm“, “Gaia“, e “Fomori” livremente e sem explicar o que significam, deixando um jogador não familiarizado com o lore do mundo um pouco perdido. Esta é uma das falhas maiores do jogo, a história é contada a um ritmo que dificulta a imersão e detrai o jogador de sentir qualquer emoção quando situações que têm a intenção de evocar emoções acontecem. Por esse motivo, é difícil ganhar interesse na história.
Para quem está familiarizado com o jogo de tabuleiro, a história não será tão confusa, no entanto continua a ser pouco imersiva. Apesar de bombardear o jogador com terminologia do jogo original em toda a oportunidade que tem, este jogo é pouco representativo da experiência do jogo original. O roteiro é medíocre e os atores de voz são bastante maus, mostrando muito pouca emoção, mesmo quando deparados com situações de desespero e raiva.
O jogo tenta criar a ilusão de que o jogador faz escolhas no seu percurso pela história, mas estas escolhas não levam a mais do que conversas ligeiramente diferentes, sem qualquer impacto no resultado final do jogo. A história em si é composta por momentos previsíveis e pouco originais, sendo então um ponto grande contra o jogo.
A nível de som, para além dos atores de voz medíocres, a música do jogo é bastante genérica mas apropriada para o mundo e jogo. A única música notável é uma obra da banda Alien Weaponry, chamada “Kai Tangata“, que infelizmente é pouco utilizada no jogo, sendo que só me recordo de a ouvir no menu inicial e nos créditos.

A jogabilidade é onde encontrámos alguma diversão no jogo. Como na obra original, os Garou conseguem transformar-se em várias formas que misturam o homem com o lobo. Neste jogo, Cahal é capaz de se transformar em 3 formas de Garou: Homid, uma forma igual à de um humano, Lupus, uma forma igual à de um lobo, e Crinos, a forma de Lobisomem. Estas formas têm propósitos diferentes, e podem ser usadas pelo jogador livremente para lidar com as situações com que se depara. Tipicamente, a forma Lupus (lobo) é usada se o jogador quiser tomar um caminho de “stealth“, escondendo-se dos inimigos e câmaras enquanto lida com os inimigos um a um sem ser descoberto.

Esta forma permite até muitas vezes ao jogador chegar ao seu objetivo sem ser detetado e sem matar qualquer inimigo. A stealth em Earthblood é relativamente simples, mas está bem executada e é talvez a forma mais divertida de completar os níveis. No entanto, não há qualquer recompensa por completar os níveis “nas sombras” em vez de simplesmente te transformares na forma Crinos (Lobisomem) e destruir tudo e todos, completando o nível muito mais rápido. Acho que seria interessante se dependendo das formas que o jogador usasse, obtivesse experiência para desenvolver abilidades específicas que beneficiam essa forma.

O jogo torna-se num RPG de ação quando o jogador adopta a forma Crinos (Lobisomem), pois ganha acesso aos clássicos ataques fracos, fortes e abilidades especiais. Apesar de engraçado ao início, o combate do jogo torna-se repetitivo muito rapidamente. O jogador consegue gastar skill points para adquirir novas habilidades especiais, mas estas não mudam muito a jogabilidade, dando ao jogador apenas novas ferramentas que tornam um jogo já fácil ainda mais fácil. Não há muita variedade de inimigos, mas à medida que o jogo se aproxima do fim começam a surgir novos inimigos que são mais difíceis de derrubar e requerem um pouco mais de destreza para vencer. Os bosses no jogo são mais cativantes e até divertidos, mas são tão poucos e insuficientes para distrair o jogador do combate repetitivo presente no resto do jogo. Para além de ser repetitivo, as animações de combate não criam uma sensação de ferocidade que um Garou merece: os inimigos não mostram qualquer medo em ver um monstro gigante a correr na sua direção, mesmo depois de este ter morto dezenas de outros à sua frente. Os ataques também não têm muita sensação de impacto, até porque muitas vezes os inimigos não se mexem de todo depois de levarem com uma chapadona de um monstro com duas vezes o seu tamanho.
Apesar destes problemas, consegui manter-me entretido durante todo o tempo que joguei misturando os dois estilos de jogabilidade, introduzindo alguma variedade artificial na jogabilidade.

Todos estes pontos afetam a imersão negativamente, no entanto quando consideramos que este jogo foi desenvolvido por uma equipa pequena com um orçamento limitado, é difícil comparar o jogo com experiências desenvolvidas por estúdios com orçamentos muito maiores. O preço do jogo também reflete isso, sendo vendido a um preço base de 39,99€. Apesar de não conseguir recomendar o jogo a esse preço, penso que, com um desconto grande, poderá ser uma boa compra para algum entretenimento de fim-de-semana, especialmente se forem fãs do material de origem.

Werewolf: The Apocalypse – Earthblood foi lançado a 4 de Fevereiro de 2021 para PC (via Epic Games Store), PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, e Xbox One Series S/X.

Subscreve
Notify of
guest

2 Comentários
Mais Antigo
Mais Recente
Inline Feedbacks
View all comments
Um cara nada suspeito
Um cara nada suspeito
11 , Fevereiro , 2021 18:27

Jogo de valor elevado, com qualidade gráfica extremamente ultrapassada e gameplay fraca.
Quando vi os trailers iniciais até esperava algo mediano, mas quando vi a primeira gameplay desisti desse jogo de vez.

1102
1102
Reply to  Um cara nada suspeito
14 , Fevereiro , 2021 14:13

Olha, isso pode até ser maldade, mas a focus costuma operar com orçamento bem limitado.