O nome Tokusatsu vem da abreviação para o termo tokushu kouka satsuei (literalmente filme de efeitos especiais). Este termo é utilizado dentro do Japão para toda produção de conteúdo live action que faça um forte uso de efeitos especiais, sejam eles mecânicos ou tecnológicos (como o uso de CG), e são incluídos também dentro deste termo filmes e séries produzidas fora do território japonês. Mas a origem do Tokusatsu vem diretamente do teatro japonês, principalmente do teatro Kabuki e do Buranki, por causa do uso de efeitos especiais mecânicos durante as apresentações.
Kamen Rider, Super Sentai, Garo, Ultraman, Metal Hero, etc. Todas as franquia citadas são conhecidas popularmente por fazerem parte do gênero Tokusatsu, mas este gênero do entretenimento japonês surgiu em uma época de muitas mudanças no mundo e a partir de um filme que falava justamente dos perigos do uso de uma das mais terríveis armas do mundo moderno. Estou falando do filme Godzilla, lançado no ano de 1954.
Criado pelo produtor Tomoyuki Tanaka, Godzilla surgiu após o produtor cancelar um projeto chamado “Eiko Kage-in”. O projeto anterior de Tanaka consistia em mostrar a historia de uma barco japonês que acabava contaminado por testes nucleares realizados por americanos, a ideia de falar sobre os perigos das armas nucleares se manteve mas desta vez o produtor veio a utilizar uma criação incrivelmente colossal para personificar o terror das bombas atômicas que foram lançadas em Hiroshima e Nagasaki em 1945.
A sinopse do filme fala que um gigantesco réptil de 50 metros acaba revivido após um testes nuclear realizado pelos Estados Unidos. A fera possui tamanho, força e um sopro radioativo mortal que usa para atacar a cidade de Tóquio, destruindo tudo o que encontra em sua frente.
O longa original do futuro Rei dos Monstros (King of Monsters) foi produzido pela Toho Film Company, com direção de Ishirō Honda, roteiros de Ishirō Honda e Takeo Murata, trilha composta por Akira Ifukube e efeitos especiais produzidos por Eiji Tsuburaya (que futuramente viria a criar a franquia Tokusatsu Ultraman).
Fazia apenas 9 anos desde que a Segunda Guerra Mundial havia terminado, o Japão (e o mundo) viviam sob a sombra do medo do uso das armas nucleares que devastaram as cidades de Hiroshima e Nagasaki. Olhando profundamente para Godzilla em paralelo com o que acontecia no mundo naquela época é possível identificar que existem diversas críticas sociais no longa e esta característica de passar uma mensagem por trás do acontecimento de um monstro atacando a cidade e sua população acabou se tornando algo que passou a ser utilizado na maioria das franquias de Tokusatsu.
Kamen Rider e Garo são as franquias de Tokusatsu que possuem estas característica de uma forma mais evidente. Algumas das séries Kamen Rider da Era Showa falam muito sobre o uso exagerado da tecnologia e as séries da Era Heisei se focam mais em temáticas falando sobre a dualidade da humanidade ou dos laços humanos. Já a franquia Garo possui um foco em mostrar uma historia mais sombria sobre humanos se entregando ao seu lado negro para chegar a conquista de um objetivo com maior facilidade.
Por outro lado a franquia Super Sentai segue para um caminho completamente contrário, se utilizando de uma temática mais infantil a franquia fala de assuntos mais leves e de fácil compreensão para crianças (como amizade, família, determinação, entre outros), porém algumas séries de Super Sentai também abordaram assuntos um pouco mais pesados de uma forma menos direta do que ocorre com as franquias Kamen Rider e Garo.
Com certeza o que sempre chama a atenção dentro de um Tokusatsu é a forma como os efeitos especiais são utilizados nos filmes e séries. Nos anos 50 os efeitos especiais eram extremamente limitados em comparação ao que temos hoje e a maior parte dos efeitos que existiam naquela época eram mecânicos ou práticos, mas isso não limitou a criação de diversos filmes que se tornaram clássicos da ficção cientifica. Em 1925 foi lançado o filme The Lost World e no longa foi utilizado a tecnologia de stop-motion junto a outras inovações da época para criar a ilusão de dinossauros serem reais, já em 1927 foi lançado o filme Metropolis e o longa se utilizou de miniaturas e paisagens em escala real junto a técnicas fotográficas de perspectiva.
Diferente dos grandes filmes que fizeram sucesso graças aos seus efeitos especiais, Godzilla foi produzido com um um orçamento simples para aquela época. O Japão estava passando por uma crise após o termino da Segunda Guerra Mundial e isso limitava o acesso aos recursos mais potentes dos efeitos visuais, como solução foi utilizado o que se tinha acessível naquele momento para criar os efeitos especiais e práticos do longa junto de diversas técnicas fotográficas.
Para criar o gigante Godzilla foi utilizado um traje que era vestido pelo ator Haruo Nakajima, este traje foi criado por Eiji Tsuburaya e pela equipe de efeitos especiais do longa através de uma técnica que eles criaram do zero e que foi mais tarde conhecida como “Adequação”. O traje em sua construção possuía componentes de concreto (devido ocorrer uma escassez de borracha naquela época no Japão), este traje tinha quase dois metros, pesava em torno de 90Kg, em sua área interna o traje possuía temperaturas que chegavam a até 60 graus e Nakajima chegou a afirmar que não conseguia mover sua mão esquerda dentro do traje.
Outro recurso utilizado na produção do longa foi a criação de maquetes detalhadas junto dos artifícios fotográficos que faziam parecer que o Nakajima dentro do traje parecesse um ser gigante andando e destruindo a cidade. Já para as cenas de close no rosto de Godzilla foram utilizados em algumas cenas um fantoche de mão e em outras o protótipo do traje, já para os closes nos pés do gigante Nakajima afirmou que se inspirou no andar de um elefante para fazer com que o Godzilla tivesse um andar solido e não parecesse vulnerável.
Este estilo de filmagem foi bastante utilizado nas primeiras séries Tokusatsu pós lançamento/sucesso de Godzilla. Com certeza um dos mais famosos é a franquia Ultraman (criado por Eiji Tsuburaya em 1966), aonde é possível ver a evolução destes recursos de efeitos especiais no decorrer dos anos. A séries Super Sentai também vieram a utiliza deste recurso através de suas batalhas com robôs gigantes.
O primeiro longa do Godzilla acabou se tornado um marco por ser um dos grandes percussores na criação dos filmes/séries Kaiju. Ao se enraizar na cultura pop através de suas muitas continuações o Rei dos Monstros já foi referenciado em muitas mídias e em produções dos mais diversos tipos, desde Pacific Rim até My Hero Academia: Two Heroes. A expectativa atualmente está em volta do futuro lançamento do longa americano Godzilla: King of Monsters, a sequela do filme de Godzilla de 2014, que estreia nos cinemas em 31 de maio. Neste longa veremos o Rei dos Monstros enfrentando seus maiores inimigos em uma super produção.
