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    Retronime: Ushio to Tora

    Vivemos numa época curiosa, em que séries que perderam o barco ou antigos sucessos são feitas adaptações sob forma de remakes. Não este seja um fator negativo, longe disso, permitiu as novas gerações descobrirem êxitos como Parasyte, Hunter X Hunter, e até a versão manga de Sailor Moon. Ushio to Tora também marcou esta tendência, conseguirá este Calvin & Hobbes nipónico alcançar o estatuto das lendárias séries acima? Para responder a esta questão só têm de continuar a ler.

    Em primeiro lugar é preciso referir que a obra serializada na Weekly Shounen Sunday de Fujita Kazuhiro teve uma adaptação animada no início dos anos 90, sob a forma de 10 OVAS. Porém, a sua filosofia foi completamente o oposto desta adaptação. Ao passo que a série que vamos falar é muito mais séria, profunda e cobre todos os 33 volumes da versão manga de mesmo nome. Nestas OVAS é tudo muito mais leve, cómico, sem grandes consequências, e só tivemos adaptado o primeiro arco da história. Como vêm não se trata unicamente de um fator nostálgico, pegar em séries muito antigas e readapta-las aos tempos modernos, também existe a possibilidade de revelar a versão original da obra, sem fillers e sem ideologias diferentes da história original.

    A história de Ushio to Tora começa quando, Ushio, um rapaz de 14 anos, ingénuo, e que ferve em pouca agua, não acredita numa lenda contada pelo seu pai acerca de uma lança que aprisionou um demónio num altar de pedra, para Ushio são tudo não passam de histórias inventadas pelo seu pai. No entanto, pela mão do destino o jovem encontra o próprio demónio na sua cave, com a lendária Beast Spear cravada no seu corpo. Este youkai com a forma de um felino, faz-lhe a proposta de retirar a lança, mas ao fazer isso, o jovem torna-se o seu jantar. Ushio como é lógico, não aceita esta proposta, prefere deixa-lo onde está, e decide esquecer este caricato episódio. Infelizmente a descoberta deste monstro, também foi alvo para atrair energias negativas, colocando os seus amigos e família em perigo! Para salvar quem mais ama, Ushio não tem outro remédio senão libertar o demónio do interior, o qual é imediatamente batizado de Tora (Tigre), e no calor destes eventos, Ushio tornar-se no sucessor da Beast Spear, não só para proteger a sua cidade, como para vigiar o tigre. Esta será a história de uma equipa do mais improvável, uma dupla que unirá mundos e crenças, esta é lenda de Ushio e Tora.

    Para quem viveu, e acima de tudo assistiu a séries dos 90, apercebe-se imediatamente que o espírito e vivacidade de grandes obras desse período encontra-se bem presente em Ushio to Tora. Numa época onde tínhamos shounens muito fora da linha atual, com ação explosiva, histórias ricas, e batalhas intensas! De início acredito que Ushio to Tora tenha afastado, os mais impacientes, porque sejamos sinceros os capítulos foram na sua maioria episódicos e um pouco cómicos, seguindo sempre a linha condutora do vilão da semana; derrotar um demónio, o rapaz a descobrir mais acerca de si, do seu destino, e com Tora a interagir com o mundo moderno enquanto ameaçava comer humanos. Devido a estes fatores a série consegue ser bem repetitiva, mas como sabemos este fator também esteve bem presente em muitas das obras deste período. O que à primeira vista torna-se numa relação turbulenta, com o passar desta história torna-se uma relação mútua de lealdade e até de respeito, principalmente quando certo dia, Ushio descobre que a sua mãe ainda está viva, e Tora, embora um pouco relutante decide acompanha-lo. Ao longo de toda a viagem, o humano e o tigre conhecem diversos humanos e youkais. Como Ushio é um rapaz de bom coração gradualmente vai aproximando as duas espécies, que foram separadas pelo tempo, e até o próprio Tora vai demostrando sinais mais humanos. Quando finalmente Ushio descobre a relação entre a Beast Spear, Tora e a sua família, também conhecemos o verdadeiro antagonista desta história, um espírito muito antigo e assustador chamado Hakumen no Mono.

    É a partir deste momento que a série “realmente começa”, mas não fiquem com a ilusão que os episódios que tiveram, as pessoas, e demónios que interagiram foram em vão, longe disso, sem estes, esta série nunca poderia atingir o patamar de qualidade que obteve. Isto porque no departamento de desenvolvimento de personagens, Ushio to Tora, é uma obra fora do comum. Além das amigas e colegas de escola de Ushio, Asako e Mayako -radicalmente diferentes – e que acabam envolvidas na história com enorme impacto, também tivemos dezenas de personagens, e foi satisfatório todas terem uma fatia no bolo da história e na resolução da mesma. Também tivemos um interessante choque entre a modernidade e tradicionalidade, inicialmente Tora será o portador desse elemento, mas com o passar da obra, até veremos cientistas envolvidos numa sociedade pseudo-mitológica. Para terminar foi uma satisfação tremenda assistir a uma série a unir todas as suas pontas de uma maneira tão coerente, tanto que não me recordo de outra assim até a presente data. Resumindo Ushio to Tora é uma obra muito simplista de início até mesmo para ‘standards’ shounen, mas que a meados, adquire uma premissa mais negra, complexa, polvilhada de mitologia asiática e dotada de um enorme desenvolvimento de personagens quer nas principais como nas secundárias.

    O estúdio que trouxe esta nova encarnação de Ushio to Tora as nossas vidas, foi o estúdio de animação, MAPPA criado e fundando por antigos membros da Madhouse original, um nome como sabem sinónimo de grandes produções. Ushio to Tora não é exceção, apresentando uma arte divinal, fiel a sua versão manga mesmo passado mais de duas décadas! Quanto à animação bem, essa é explosiva e fora de série, deixo o apelo de verem mesmo por vocês mesmos! É certo que o desenho de personagens para muitos possa parecer um pouco genérico, mas esse facto é devido ao apresentarem os mesmos traços do autor e da época, aliás o focinho do Tora é uma das marcas deste tempo. Ainda neste capítulo quero destacar dois pontos, a arte detalhada dos youkais, e as fantásticas expressões faciais, que embora um pouco exageradas transmitem com clareza os sentimentos das suas personagens. Em matéria de banda sonora, Ushio to Tora é novamente um reflexo dos saudosos anos 90, enquanto a Banda Sonora apresentou temas adequados para todas as suas situações, aqui vou destacar os temas de encerramento e fechamento, enquanto os primeiros são explosivos, selvagens e espetaculares (especialmente o primeiro) nos últimos também sentimos valores dos 90’s muito pela sua letra e estética de imagens enquadradas pela ação.

    Ushio to Tora é uma obra que entrou imediatamente no meu topo de recomendações para todos os fãs de ação e uma grande história. Um Batte Shounen incrivelmente bem escrito, com um enorme destaque ao ambiente, personagens, e que eleva a sua obra original para outros patamares. Não deixem que um início pacato e episódico encubra esta autentica joia de enormes valores e personagens, onde não vão faltar momentos intensos e memoráveis!

    Bruno Reis
    Bruno Reis
    Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.

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    Leandro T Silva
    Leandro T Silva
    17 , Agosto , 2020 2:59

    Esse anime é muito foda!Mais que recomendado…

    Samuel Silva
    Samuel Silva
    17 , Agosto , 2020 2:59

    Li “Calvin & Hobbes nipónico” e fiquei imediatamente interessado!

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