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    À Conversa com o Mestre Quim do Bushido Dojo

    Olá a todos! 

    Recentemente, estivemos no Iberanime, onde tive a oportunidade de entrevistar o Mestre do Karaté Bushido Dojo, Joaquim Quadrado, sobre o dojo no qual ele leciona, assim como o percurso que o levou a ter um dos maiores dojos de karaté da zona Norte do país! Deixo aqui a minha entrevista com ele: 

    Carolina: Hoje estou aqui para fazer algumas perguntas sobre a sua jornada no mundo do karaté e também para saber um bocadinho daquilo que faz com que o Bushido Dojo seja um dojo que se destaca dos restantes aqui na Área Metropolitana do Porto. Portanto, para começar, o que trouxe o Mestre até ao mundo do Karaté? 

    Mestre Quim: Eu quando era miúdo não havia grande coisa de artes marciais, eu já tenho 47 anos e sempre quis praticar artes marciais, então nessa altura não havia muita coisa aqui no Porto, fui pesquisando, porque sempre fui fascinado pela cultura tradicional japonesa, pelos samurais…

    E pronto, fui pesquisando a nível de dojo, de escolas, até que encontrei um dojo em Gaia que é a Associação Recreativa de Canelas. Nessa altura entrei, comecei a praticar karaté Shotokan, o meu estilo atual, e apaixonei-me desde logo por essa modalidade, pelos fundamentos do karaté e pela maneira como o karaté transforma as pessoas ao longo do percurso da sua vida. 

    Comecei a fazer alguns exames, as coisas começaram a ficar mais sérias… Um dia mais tarde, já era eu cinto castanho, já tinha casado e voltei a vir viver para o Porto. Eu sou oriundo de uma zona muito carenciada socialmente, perto do bairro do Lagarteiro, do Cerco do Porto e no meu tempo não havia nada ali à beira que se pudesse praticar não havia, às vezes, “futuro para os jovens de lá”. 

    Então eu decidi, impulsionado pelo meu mestre, o Sensei Andrade, começar a dar lá umas aulas, comecei inclusive a dar em cinto vermelho, a tentar dar lá umas aulas numa coletividade, aos Domingos, numa brincadeira que se tornou cada vez mais séria. Quando olhei para trás, nessa colectividade já tinha cerca de 30 alunos. Começou a ser apelativo, era uma novidade na zona… 

    Entretanto, o presidente da Junta, na altura o Sr. Ernesto Santos, chamou-me à Junta de Freguesia a questionar-me o que é que eu fazia nas colectividades e por aí fora. Eu expliquei qual era o meu objetivo, fazer um dojo de caráter social. Nós cobramos sempre muito pouco e é apanágio mesmo do nosso dojo ter um preço muito baixo para podermos incluir todos. E aí começou um desafio a sério que eles chegam à minha beira e disseram-me: não, então vais tu criar um clube de karaté de Campanhã e vamos andar com isto para frente, que nós vamos-te ajudar. 

    E com isto, abriu lá em Campanhã um pavilhão, que é o pavilhão do Lagarteiro e eu comecei desde o início a dar aulas lá, então dos 20 atletas começámos a ter 30, 40 e entretanto cheguei a cinto negro. Quando cheguei a cinto negro fiz o meu curso de treinadores, e agora pertenço, e sou instrutor do Centro de Português de Karaté, a maior associação de Karaté Nacional de Shotokan. E pronto, começámos a fazer aquilo muito mais a sério, e comecei a levar atletas a competições.

    O dojo começou a crescer de uma forma que eu não esperava, sinceramente. Tenho muito orgulho no Bushido Dojo porque foi um projeto que nasceu de um sonho que se foi transformando cada vez mais em realidade. 

    No meio disto, começou a chegar cada vez mais gente para se juntar a nós e eu reparei que embora sempre fosse o nosso objetivo fomentar o karaté para todos, que a inclusão no karaté era uma coisa ainda muito desconhecida aqui em Portugal. Havia pouca gente a trabalhar com pessoas com autismo, com pessoas com problemas de mobilidade, com pessoas com trissomia 21. Então comecei a tentar, um bocadinho às cegas, um bocadinho com as luzes que nos vão dando no discurso de treinador da Federação Nacional do Karaté, comecei a tentar trabalhar com pessoas com o espectro de autismo, e adorei, apaixonei-me completamente por isso. Neste momento, já passados muitos anos, já vão lá quase 20 anos que este sonho começou, temos atletas, temos um campeão nacional com autismo e esse campeão nacional, por acaso ainda ontem, ficou a nível mundial em terceiro lugar e com ele tenho mais cerca de 14 autistas de vários graus.

    Inclusive até temos um menino com autismo não verbal e tem sido um desafio enorme, mas muito gratificante trabalhar com essas pessoas e começarmos a fazer a diferença e defendermos a inclusão. Paralelamente a isto, criou-se uma segunda federação em Portugal que é a Federação ITKF. Neste momento eu sou um dos diretores da mesma federação, sou o selecionador do Budou inclusivo, e criamos a Federação Budou Tradicional Portugal e nessa federação estou mesmo à frente das pessoas com deficiência intelectual.

    E agora o projeto será projetar isto para o mundo. Foi a primeira vez este ano, que ocorreu o mundial aqui em Portugal, que se incluiu o para-karaté, o karaté adaptado e era uma coisa que no karaté tradicional não havia e eu sei que o ITKF mundial irá incluir a partir desta altura. Foi histórico ontem por isso, incluir o karaté adaptado para as várias deficiências que possam ocorrer nos atletas. 

    Paralelamente a isto, começamos a abrir mais centros de prática, temos os centros de prática onde eu comecei a praticar karaté em Gaia, neste momento a Associação Recreativa de Canelas, na qual eu tenho orgulho de ser o presidente. Desenvolvi lá a prática do karaté, contamos neste momento lá com 70 alunos, dos quais 7 têm necessidades especiais de autismo e estamos empenhados em manter a política do Bushido Dojo, com um preço sempre acessível a todos e promover o mais possível a prática entre a população local. Como é óbvio dependemos muito das ajudas, das Juntas de Freguesia tanto de Campanhã como de Canelas, as quais temos orgulho em representar e levar o nome de Campanhã e de Canelas aos torneios que participamos. Fomos fazendo campeões nacionais, na competição, desenvolvemos também um grupo de competição dentro do dojo… 

    Todo o equipamento necessário para um treino em grande!

    O Bushido Dojo neste momento conta com cerca de 130 praticantes e está a meu ver no seu melhor. Conseguimos ter umas condições incríveis para treinar e sinceramente tenho atletas incríveis que me orgulho muito de representar.

    Carolina: Uma pessoa que queira começar a praticar karaté e que seja aqui da zona do grande Porto, o que deve levar essa pessoa a escolher o Bushido Dojo? 

    Mestre Quim: Primeiro, o que eu aconselho a toda a gente é experimentar o karaté e estar decidido a dar um passo no caminho marcial. O karaté não é nada que se aprenda rápido, requer paciência, requer entusiasmo de principiante, sim, porque um cinto preto não é mais nada que um cinto branco que nunca desistiu. Eu costumo dizer aos meus atletas que os cintos servem para segurar as calças. A experiência e a evolução de cada um é que pode levar o entusiasmo longe. E cada um de nós tem que tirar para si, tem que perceber para si o que é o karaté. 

    Para aprender basta ter vontade, força de vontade para ir treinar quando chove, para ir treinar quando não apetece e basta perceber que só aprende karaté quem faz mal, ninguém aprende karaté fazendo bem, o erro faz parte da evolução do karaté. O karaté rege-se por cinco máximas que são a Sinceridade, o Caráter, a Etiqueta, o Esforço e o Autocontrolo; e é mesmo isso, é o esforço que faz com que nós tentemos sempre ser melhores todos os dias. 

    No karaté o nosso adversário somos nós mesmos, a nossa evolução é individual, não é um desporto coletivo. Treinamos todos juntos mas cada um evolui ao seu tempo e alguns evoluem mais depressa que outros porque cada um tem o seu tempo para desabrochar, para descobrir o karaté.

    Carolina: Alguém que queira começar a praticar algum tipo de exercício, que seja uma pessoa mais sedentária, por que é que essa pessoa deve escolher o karaté? 

    Mestre Quim: As artes marciais, em especial vou falar do meu campo que é o karaté, têm uma filosofia por trás: ensina as pessoas a saberem-se defender, como é óbvio, mas também dá saúde física e mental e ao mesmo tempo a responsabilidade das pessoas que sabem esta arte e sabem o que não podem fazer. 

    Por exemplo, no karaté, não existe ataque. Já dizia o Sensei Funakoshi, o fundador do karaté Shotokan: “karate ni sente nashi”, no karaté não existe ataque, só defesa e contra-ataque. Porém, se eu não tiver que me sujeitar a defender, também não preciso me sujeitar a atacar. Isso chama-se responsabilização do karateka. Quando nós lutamos já estamos em desonra, como se costuma dizer. 

    Carolina: Alguém que queira experimentar o karaté no seu dojo, onde e a que horas e em que dias da semana é que poderá aparecer? 

    Mestre Quim: No meu dojo em Gaia temos treinos às segundas, terças, quintas e sextas das 20h às 21h30. Em Campanhã temos treinos às quartas-feiras, das 20h às 22h e aos sábados das 10h00 às 12h.

    O dojo em Canelas espera-vos!

    E é isto, caros leitores! Se foram da zona do grande Porto, aproveitem e passem pelo dojo em Campanhã ou em Canelas num destes dias para experimentarem, e quem sabe, podem vir a descobrir uma paixão para o resto da vida! O Mestre Quim está sempre de braços abertos para receber novos karatecas, não importa a idade, o físico, ou o conhecimento da arte! 

     

    Carolina Moreira
    Carolina Moreira
    Com background de informática, e gosto em videojogos a combinar, mas aficionada de histórias em qualquer formato, juntou-se à equipa do OtakuPT em 2023 para dar uma opinião pessoal sobre o entretenimento que nos chega às mãos.

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