Pacific Drive é a obra de estreia desenvolvida pela Ironwood Studios de Seattle, publicada pela igualmente recente Kepler Studios (Sifu, Scorn, Tchia), e trata-se de um survival game que acontece na zona do Pacific Northwest e acontece inteiramente na perspectiva de primeira pessoa.

O jogo acontece em 1998, quando o jogador (the Driver), um rapaz de entregas, é largado de ferryboat na Olympic Peninsula na sua carrinha, com o objectivo de fazer uma entrega na Olympic Peninsula Exclusion Zone, uma zona de quarentena separada do resto do mundo por uma muralha de 300 metros onde ocorreram vários fenómenos estranhos e desaparecimentos humanos, levando ao isolamento da zona por parte da agência governamental ARDA.

Com a estrada para a muralha bloqueada, o jogador é forçado a tomar um desvio pela floresta, onde uma estranha luz na base da muralha acaba por puxar e engolir o jogador e a sua carrinha de entregas, com o mesmo a acordar transportado para o outro lado da muralha. Correndo pelo mato, o Driver encontra uma velha carrinha meia decrépita, mas a funcionar, e é imediatamente contactado via rádio por dois cientistas, Tobias e Francis, que o direcionam até à garagem da Dra.Ophelia (“Oppy”).

Com a permissão para usarmos a sua garagem, e com a assistência via rádio da equipa de cientistas, começamos a explorar a Zona, cheia de fenómenos paranormais chamados de “anomalias” (com alguns elementos que parecem tirados do universo Alan Wake/Control), de maneira a desvendar os seus mistérios, assim como tentar perceber o que aconteceu entre a ARDA e os cientistas, o porquê de eles ficarem para trás, e acima de tudo, tentar encontrar uma forma de sair.

A exploração das várias áreas da Zona acontece assim aos poucos, em pequenas excursões do jogador na sua carrinha, sempre com atenção aos níveis de gasolina e de bateria que limitam a sua progressão e uso de acessórios, bem como ao estado das várias partes da carrinha. A carrinha protege o jogador de vários tipos de anomalias e de sofrer vários tipos de dano, mas também cabe ao jogador manter a carrinha no melhor estado possível, até porque todas as peças úteis da carrinha se gastam ou vão-se danificando com diversos estados reparáveis ou não (os pneus podem furar mas ser reparados, a roda pode desalinhar mas ser realinhada, ou o pneu pode rebentar completamente, tendo de ser substituído, por exemplo). É através desta relação de cuidados constantes com a carrinha que um laço interessante se forma entre ela e nós. Sentimos na pele quando alguma anomalia a danifica.

Pacific Drive pv história screenshot

O jogador vai tendo vários objetivos principais que fazem a interessante e alucinada história do jogo desenrolar, mas para além da manutenção da carrinha, também acabamos por desbloquear vários upgrades que podemos ir fazendo à mesma através dos vários materiais que podemos aos poucos recolher na zona, com painéis e portas com mais armadura, motores melhores, pneus mais resistentes, mais armazenamento, etc. Desta forma, a exploração acontece não só com o objectivo de avançar a história, mas também de ir recolhendo materiais para tornar a nossa carrinha e restantes peças de equipamento mais eficientes.

Através das excursões, a Zona vai ficando mapeada e desbloqueamos mais áreas onde podemos fazer excursões, sendo que a cada excursão, aquilo que iremos conseguir encontrar a nível de recursos e anomalias é gerado aleatoriamente. Falando das anomalias, estas são bastante variadas, desde “manequins” que explodem quando lhes tocamos, a sombras na estrada com espinhos que facilmente nos furam os pneus, robôs-sentinela que nos agarram o carro e até nos podem arrancar peças da carrinha, zonas radioactivas, pequenas “criaturas” que se atiram contra o carro e o danificam, e muitas outras, variando também no seu perigo e agressividade.

Com os repetidos sucessos, as diferentes áreas correm o risco de serem afectadas por “tempestades de instabilidade” que aumentam exponencialmente o nível e quantidade de anomalias, obrigando o jogador a planear o caminho das suas excursões com cuidado. No entanto, se o pior acontecer e o jogador acabar por perder toda a sua saúde… Somos transportados de novo para a garagem, perdendo algumas das peças/items da carrinha (que podemos recuperar se voltarmos à mesma área onde caímos). Assim, Pacific Drive tem também um pouco de elementos “roguelite” a juntar às mecânicas de sobrevivência.

Pacific Drive gameplay pv screenshot

Apesar de tudo, e apesar dos “perigos” sempre à espreita, Pacific Drive consegue seguir o ritmo que o jogador pretende, e devido aos seus ambientes extremamente atmosféricos, ainda que com elementos surreais, pode ser uma experiência de exploração extremamente chillout onde podemos tirar o tempo que quisermos para explorar… Pelo menos até uma tempestade bater na zona, em cujo caso, o melhor é avançar caminho. Para regressarmos à garagem, teremos de caçar esferas de energia que podemos depositar no ARC Device no nosso lugar do pendura até termos energia suficiente para activar um gateway, momento a partir do qual a área destabiliza e temos de fugir o mais rápido possível. Chegando ao gateway, somos teleportados de volta para a garagem.

Apesar de ser classificado como um survival game, o facto de termos um veículo como “companhia” muda bastante a dinâmica comum ao género. Desta forma, Pacific Drive apresenta um loop de gameplay simples e que se torna rapidamente familiar e sem grandes surpresas, mas que só se torna repetitivo se formos ao extremo de tentar desbloquear absolutamente todos os upgrades disponíveis. A história não se prolonga demasiado, mas apresenta informação e twists suficientes para manter o interesse na progressão, sendo possível continuar o jogo com exploração livre após o final da história.

Talvez não seja um jogo para todos devido à maneira como as mecânicas por vezes possam ser mais trabalhosas, ou mesmo obtusas, mas é sem dúvida nenhuma um survival game completamente diferente dos restantes e que se permite ser explorado de uma forma controlada, apenas dando pequenos “empurrões” pontuais ao jogador, sem parecer que está a “despachar” a experiência.

Review por Tiago Vasconcelos.

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