Depois de 14 anos de ausência e sem uma data de lançamento prevista para o remake de Sands of Time, Prince of Persia: The Lost Crown faz as honras da casa assinalando o regresso da série Prince of Persia, produzida pela Ubisoft, mais concretamente pela francesa Ubisoft Montpellier, a produtora responsável por títulos já conhecidos do público como Rayman e Beyond Good & Evil.

Prince of Persia: The Lost Crown é um regresso às origens da série, esquecendo a estrutura tridimensional apresentada no reboot de Prince of Persia de 2008, para dar novamente espaço a um design 2D moldado num mundo com elementos Metroidvania. O modelo apresentado não é novidade, mas para a nossa felicidade, o estúdio revela-se bastante competente no que construiu para este jogo. Logo nas primeiras horas, fiquei rendido às maravilhas da jogabilidade, sobretudo nas cenas de ação energéticas e a uma exploração exigente e recompensadora.

Ghassan, o príncipe da Pérsia antes de ser sequestrado.

Começando pela narrativa, nesta jornada deixamos de controlar o príncipe da Pérsia para assumir a pele de um guerreiro chamado Sargon, um dos membros do grupo Imortais, conhecidos pelas suas astutas habilidades que servem de escudo da Pérsia. Porém, durante a comemoração da vitória contra a invasão do império Kushan, o príncipe é sequestrado por um dos elementos dos Imortais e por essa razão o grupo parte para o amaldiçoado Monte Qaf encarregues de o resgatar.

Prince of Persia foi criado por Jordan Mechner em 1989.

Durante a viagem pelo Monte Qaf não esperava sentir-me tão envolvido com a história e o enredo, isto porque as cinemáticas que destacam os eventos cruciais da aventura surgem bem realizadas e enaltecidas pela arte e coreografias das cenas de ação, oferecendo uma experiência completa ao nível de muitos títulos recentes. Além disso, o enredo passa por reviravoltas radicais quando menos esperamos, o dito Plot Twist, que nos faz ficar curiosos com o seu desenvolvimento, contudo, ainda que os personagens tenham um carácter vincado, penso que teria sido vantajoso se estes tivessem uma participação mais ativa na narrativa.

E se estamos diante de um universo inspirado na cultura Persa, o que mais impressiona é a quantidade de documentos e colecionáveis escondidos com histórias, lendas e mitos que acabam por trazer conhecimento e valor à exploração deste mundo.

Como já apontei acima, Prince of Persia: The Lost Crown segue o tradicional subgénero metroidvania, o que quer dizer que o seu mundo é composto por um enorme mapa labiríntico onde teremos de passar por vários obstáculos, enfrentar criaturas incluindo bosses, descobrir tesouros e adquirir as habilidades necessárias para abrir novos caminhos que vão dar acesso a zonas secretas e a lugares anteriormente inacessíveis.

Felizmente, desde o princípio desta aventura que observamos que o nosso protagonista foi desenvolvido para superar os desafios propostos em jogo. Passando pelos controlos acessíveis e a sua espantosa mobilidade, temos ao nosso dispor uma diversa gama de movimentos que unidos à sua agilidade permitem uma deslocação rápida pelas estruturas dos cenários sem problemas. Apesar desta mais valia, somos repetidamente desafiados a usar com precisão os talentos acrobáticos de Sargon para superarmos as inúmeras armadilhas e criaturas que decoram os cenários.

Muitas destas seções de plataformas atuam como pequenos quebra-cabeças que surpreendem no grau de construção, atingindo novas proporções sempre que aprendemos uma nova habilidade importante para a navegação. Por isso, à medida que aprofundamos a exploração, o design de níveis vai continuamente pôr-nos à prova, projetando obstáculos ainda mais complexos de modo criativo e original.

Nas árvores mágicas Wak Wak conseguimos curar, configurar habilidades e equipar amuletos.

A Ubisoft Montpellier fez também um fantástico trabalho na criação do mundo de Prince of Persia: The Lost Crown. Há algum tempo que não navegava por um mapa tão vasto e recompensador, composto por numerosas regiões e biomas que valem a pena ser aprofundadas já que normalmente nos levam a descobrir novos locais, a abrir atalhos ou a achar novos itens que podem ser essenciais para a aventura.

Na maioria do tempo o jogador é incentivado a explorar, para assim ser surpreendido com o que as zonas têm para oferecer. Cada região do Monte Qaf possui a sua própria identidade, com inimigos e mecânicas distintas que mudam a forma de superarmos o ambiente hostil. Navegar por uma floresta onde as paredes estão cobertas de picos e inimigos maioritariamente voadores é diferente de uma zona escura preenchida de inimigos mais furtivos ou de uma biblioteca mágica onde existe uma criatura imortal e obstáculos que quando ativados podem esmagar-nos. Cada zona destaca-se pela autenticidade, fazendo com que a aventura seja diversificada o suficiente para que nunca chegue a cair na monotonia.

Sargon em combate.

O sistema de combate é um dos elementos que vai sendo aprofundado durante a aventura. Quando damos conta, temos ao nosso dispor muitas combinações que dinamizam o potencial do combate, como a possibilidade de combinar ataques terrestres e aéreos, desviar mais rápido, manipular o tempo ou mesmo invocar poderosas habilidades especiais. A juntar a isso, a defesa tem um papel importante para o combate se estivermos atentos às pistas visuais dos inimigos quando nos atacam, transformando os confrontos numa experiência empolgante e divertida.

Devo acrescentar que parte desta diversão se deve à variedade de criaturas presentes em jogo. Mesmo os mais comuns têm comportamentos diferentes, sobretudo os chefes, que nos proporcionam duelos fora de série que dificilmente vamos vencer à primeira tentativa.

Em jogo os amuletos trazem vantagens e efeitos únicos para o nosso protagonista. Vantagens essas que podem aumentar o número de ataques, a barra de vida ou diminuir a percentagem de dano recebido dos inimigos.

Outro aspecto apaixonante em Prince of Persia: The Lost Crown é a sua componente artística. Navegar pelas áreas de Qaf é extremamente apelativo, os belos e místicos cenários cheios de história fazem sentir a presença da cultura Persa em todos os cantos. Notamos também que a animação foi tratada com prudência, com os movimentos a destacarem-se pela fluidez. Tudo isto e muito mais, sobressai numa consola da atual geração, para que consigamos aproveitar as melhores qualidades gráficas que o jogo tem para oferecer.

Por fim, temos uma banda sonora inspirada nas sonoridades do Médio Oriente que consegue trazer um toque especial aos ambientes e lutas que experienciamos. Já o voice acting em inglês combina perfeitamente com a personalidade do elenco, especialmente a do jovem Sargon.

Um dos cenários fantasiosos.

A Ubisoft inicia o ano com o pé direito. Prince of Persia: The Lost Crown é um jogo que se destaca pela incrível sensação de aventura e engenhosas secções de plataformas, conjugadas com um sistema de combate energético e desafiante que ao longo do percurso vai evoluindo e ficando cada vez mais divertido. O mundo é deslumbrante e verdadeiramente recompensador, com um estilo artístico muito próprio. Prince of Persia: The Lost Crown faz renascer a chama de uma série há muito adormecida, é o regresso triunfante que esperemos que traga frutos.

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