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O mundo dos anime é algo que está a ganhar cada vez mais terreno em Portugal, entre as camadas de população mais jovens, existindo já eventos realizados em prol desta comunidade, como o IberAnime, realizado todos os anos, em Lisboa e no Porto.
Com esta abertura, seria interessante explorar, os Yōkais que influenciam obras de arte como Spirited Away. Este foi um filme lançado em 2001, é um dos vários filmes produzidos pelo Studio Ghibli criado por Hayao Miyazaki, é interessante referir que o autor, costuma sempre ligar pontos religiosos nos seus filmes, de modo, a difundir a cultura japonesa.
Antes de mais é necessário explicar o que são os Yōkais. Estes são seres sobrenaturais, como fantasmas, monstros, criaturas míticas, positivas e negativas associados a lendas e contos populares.
Spired Away foi e é um dos filmes mais fantásticos na divulgação do folclore e da mitologia japonesa. O filme começa quando Chihiro muda de cidade com os seus pais. No trajeto até à nova casa estes decidem ir por um atalho, que os leva ao que eles pensam ser um parque de diversões, mas na verdade é uma Casa de Banhos. Ao longo dessa jornada, estes são transformados em porcos, o que leva Chihiro, a desenvolver uma aventura pelo mundo mágico dos espíritos.
Chihiro, decide explorar este novo mundo com ajuda de Haku, Kamaji e outras personagens com quem se cruza ao longo do filme.
Durante esta, Chihiro acaba por ir pedir emprego a Yubaba, a dona daquele estabelecimento, que lhe explica que aquele local é uma Casa de Banhos para os espíritos, yōikais descansarem e se limparem das energias que os sobrecarregam. Ora, Yubaba é uma velha bruxa, que manda nos balneários, e que retira os nomes dos seus funcionários através de um contrato de trabalho, fazendo-os usar um novo escolhido por ela, no caso de Chihiro, esta passasse a chamar Sen.
No folclore japonês, existe uma bruxa chamada Yamamba, que é conhecida como a bruxa da montanha, esta é descrita por ser canibal, e ser violenta divulgando assim a imagem de um ser perigoso e tenebroso. Pode-se identificar facilmente as semelhanças que existem entre Yubaba e Yamamba, uma vez que, a dona dos Balneários é vista como assustadora para os funcionários do seu estabelecimento.
Chihiro antes de conhecer Yubaba conhece Kamaji, um homem com seis braços longos, que parece uma aranha que cuida da caleira do estabelecimento. Ele é mais um dos trabalhadores de Yubaba, este conta com ajuda de susuwatari, bolinhas de fuligem pretas. De acordo com Noriko T. Reider, história Kamaji pode ser comparado com a de tsuchigumo uma aranha, de origem indígena, que se transformou em um yōkai violento, envolvido em guerras. Este ser é representado numa pintura no final do período Edo, pelo artista, Utagawa Kuniyoshi como estando a dormir num buraco rodeado de outros yōkais, representando uma sátira contra o governo de Tokugawa durante 1841-43. Kamaji vive no porão, e Yubaba é a entidade central do espaço onde este trabalha estando sobre a alçada desta como o povo estava sobre o domínio do governo Tokyugawa. Ao contrário do yōkai que era um ser violento, Kamaji era amigável, como se pode ver quando este ajuda Chihiro a salvar Haku.
Haku é um dragão branco, que se transforma em um humano com a idade semelhante a Chihiro, este é também o aprendiz de Yubaba. E assim como os outros seres ele também perdeu o nome.
No Japão, haku significa a cor branca que por sua vez, é sinal de pureza, contudo, isso não se aplica a Haku, pois este no filme rouba a pedido de Yubaba, a sua irmã gémea Zeniba, sendo apelidado como ladrão. Reider, refere no seu texto, a ideia de Tachibana Takashi, que afirma que a narrativa de Haku, se encaixa com a questão de Nigihayahi, um Kami (um deuses), que durante as expedições do imperador Jinmu, casou com a irmã mais nova, de Nagasunehiko, chefe de um clã poderoso na Província de Yamato. Com essa teve um filho e deveria ficar do lado do clã, contudo, abandonou-o passando para o lado do imperador que conquistou o local. Esta traição é comparada há que Haku sofreu com Yubaba, que quando viu o dragão branco, ferido depois do regresso do roubo que esta pediu, descartou-o.
Por sua vez, Chihiro salva-o, e ajuda-o a recuperar, indo até à irmã gémea de Yubaba devolver o que este lhe roubou, Haku entretanto aparece no local e no momento de volta, Chihiro lembrasse que quando mais nova Haku a salvou de se afogar no rio, fazendo este lembrar-se do seu nome, Kohakunushi Nigihayami, um espírito do rio Kohaku.
Spired Away, apresenta um vasto leque de mitologia, como foi referido anteriormente, mas além destes ainda aparecem outros como por exemplo, os Onama-Sama, que aparecem no início do filme, são espíritos com capas de folhas, com chifres e dentes grandes, estes seres são normalmente vistos nos rituais de Ano Novo, , os Otori-sama, um grupo de patos, são kamis de animais , um espírito de rabanete de sumo, que protege Chihiro durante o trajeto que esta faz até chegar ao escritório de Yababa.
Não aparecem apenas espíritos positivos no filme, assim sendo é mostrado o Kao Nashi (No Face), é um ser misterioso e quieto que fala a menos que engula alguém, este apresenta ser melancólico e desenvolve uma obcecação por Chihiro ao longo do filme, o ser não faz referência a nenhum ser da mitologia japonesa, sendo um original de Miazaki.
Bibliografia:
- Foster, Dylan Michael The Book of Yōkai Mysterious Creatures of Japanese Folklore, 1-299. University of California Press, 2015.
- Reider, Noriko T. “Spirited Away: Film of the Fantastic and Evolving Japanese Folk Symbols”. Film Criticism 29. nº 3(2005),4-27.
- https://screenrant.com/spirited-away-how-each-character-compares-mythological-origin, acedido a 18 de junho de 2023.
