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    Tunche – Análise

    O bom sabor da selva

    Os beat em’ ups são um género de jogos que dia-após-dia ganham cada vez mais tração no mercado. Como sabemos atravessaram momentos negros no início deste milénio, e atingiram o seu age no final dos anos 80 e inícios dos anos 90. Nesta era moderna assistimos a uma autêntica ressurreição deste género, e quer séries contemporâneas como novas apostas voltaram em força para inspirar e conquistar os jogadores. Tunche é a mais recente aposta da LEAP Game Studios e da HypeTrain Digital que ao contrário de muitos jogos deste género, trocou as ruas de uma cidade sob um domínio tirânico para se aventurar nas selvas da Amazónia e enfrentar uma entidade misteriosa.

    A narrativa de Tunche é simples e direta. O quinteto composto por Rumi, Qaro, Pancho, Nayra, e a Hat Kid -do célebre jogo A Hat in Time– são um grupo de aventureiros que procuram pelo Tunche. Cada uma destas personagens possui motivações próprias para enfrentar o mesmo, contudo nada nem ninguém sabe ao certo, o que é, a sua forma ou características apenas sabemos que é um ser muito perigoso.

    Esta é essencialmente a história de Tunche, inicialmente é muito vaga, apenas com o deambular nas selvas poderemos descobrir mais, não só acerca da mesma, como das motivações das personagens que levaram a percorrer e enfrentar esta entidade. Logo a começar a aventura escolhemos a nossa personagem que se encontra num acampamento. Cada uma possui atributos próprios que se adequam ao perfil e características de cada jogador. Rumi a feiticeira, é a personagens mais equilibrada, possui um alcance médio, velocidade moderada e ataques a longa distância eficazes. Qaro, o homem pássaro faz da velocidade a sua característica principal, pois esta é a personagem mais veloz do grupo. O mesmo não podemos dizer de Pancho o músico, que é a personagem mais lenta, mas é a que possui mais força e resistência. A amazona Nayra possui a maior cadência de combos, contudo, não é detentora de uma grande força. Finalmente o Hat Kid, é uma personagem focada para ataques mágicos a longo alcance já que possui o maior índice de pontos de magia, e as suas magias são as mais rápidas e percorrem as maiores distâncias.

    Hat Kid está de regresso e o seu “Sprint Hat” também

    Na nossa aventura decidimos escolher Nayra e a sua serpente para explorarmos os perigos da selva. Antes de iniciarmos viagem encontramos Kawri, uma xamã que nos alerta do perigo, e que nos oferece assistência quando formos derrotamos pela fauna e flora da selva. Tunche na sua essência é um beat em’ up que retira alguns elementos de jogos modernos. Numa fase inicial a nossa personagem possui uma cadência de combos que variam de personagem e consoante o premir de botão de ataque. Também dispõe de um botão para saltar, outro para esquivar, outro para disferir ataques mágicos e finalmente um para projetar o adversário pelo ar. Este último abre um sem fim de possibilidades nos confrontos com as criaturas, pois podemos projetar o adversário pelo ar, e imediatamente saltar e atacar.

    Neste parágrafo o jogo retira apontamentos de jogos Stylish Action como Devil May Cry (até existe uma proeza referente ao jogo) ou Bayonetta, inclusive no ecrã surge o mesmo contador que tanto celebrizou ambas as séries partindo de “D” a “SSS”, que aumenta conforme for a nossa verticalidade nos combates. Como não podia deixar de ser, quanto maior for o contador, melhores serão as recompensas no rescaldo do mesmo. De início é extremamente difícil manter e obter bons desempenhos, pois não só as nossas ferramentas são muito limitadas, como temos de apelar também à diversidade, estilo e acima de tudo evitar danos.

    Felizmente enquanto percorremos as magníficas paisagens de Tunche, encontrarmos diversas personagens que habitam na floresta amazónica. Um dos mais importantes é um guerreiro antipático que a troco da experiência (essência) que recolhemos dos inimigos, nos ensina novos movimentos na skill tree de cada personagem. Estes serão vitais para imprimir diversidade nas lutas para obter melhores pontuações, e prosseguir na selva, pois o jogo molda-se às façanhas dos jogadores, quanto mais progredirmos na selva maiores serão as ameaças em poder e em número.

    O sistema de pontuações introduzido nos jogos modernos permite uma maior verticalidade nos combates.

    Tunche envereda por uma mistura de elementos de beat em’ ups hack n’ slash e RPGs Dungeon Crawler Roguelike. Ao passo que os beat ‘em up comuns são servidos através da progressão lateral de um nível, em Tunche, a nossa progressão é bem limitada, e o desenvolvimento de personagens e um tanto aleatório. Em cada porção da selva existem portais, sendo atribuído a cada um, um fator temático específico ou uma recompensa.

    Os mesmos são aleatórios, e não sabemos ao certo o que encontrar ou contar. Podemos encontrar o misterioso Ogi que vende itens curativos, aumentar o poder dos inestimáveis núcleos espirituais a troco de estilhaços espirituais que adquirimos nos combates, obter as próprias esferas referenciadas acima que conferem poderes fantásticos à nossa personagem, tais como pontos de vida ao derrotarmos inimigos ou maior velocidade, participar nos desafios da lama falante Leo, ou até encontrar uma porção da história da nossa personagem.

    Sim, a história de Tunche, é muito nebulosa inicialmente, só ao visitarmos alguns quartos especiais espalhados com este tema é que podemos descobrir mais acerca da personagem que controlamos. Na nossa partida soubemos que a guerreira Nayra, adora o seu irmão Uru, e culpa o seu pai pelo que lhe sucedeu. À medida que mergulhamos mais a fundo na selva, conhecemos outras personagens que nos previnem; os misteriosos espíritos da água ou da terra (que nos deixam preocupantes mensagens ambientais); o travesso Mishki, ou a xamã Kawri que nos auxiliam. Só nestes desenvolvimentos é que desvendamos o que é o Tunche, e as nossas consequências.

    A história de Tunche apenas se abrirá com várias expedições na selva

    Contudo, para esse efeito temos de percorrer as florestas amazónicas de fio a pavio, se formos derrotados em combate somos novamente enviados para o acampamento. Embora possamos escolher uma personagem diferente (sem penalidades), temos de percorrer novamente todo o trajeto (4 regiões), incluindo os seus implacáveis bosses, sem os núcleos, essência e ouro recolhidos na nossa última expedição.

    Realmente, é uma pena que perante uma experiência contemporânea e imediata bem fora dos padrões modernos atuais, que apenas possa ser desfrutada entre amigos de carne e osso nas proximidades do nosso sofá. Isto porque, o jogo carece que um modo Co-Op Online, o que é uma enorme perda, pois aumentaria exponencialmente o seu divertimento e consequente tempo de vida. Compreendemos que jogo tente replicar os efeitos dos beat ‘em up contemporâneos, mas não devia omitir um elemento moderno tão importante, apelamos e recomendamos à produção incluir este modo numa futura atualização do jogo.

    Equipa os Núcleos Espirituais para receberes novos atributos e características nos combates

    Tecnicamente Tunche é um produto muito requintado, sendo que a arte selvagem das personagens e dos ambientes é o elemento que mais sobressai assim que iniciamos a nossa viagem pelas selvas da Amazónia. As personagens desenhadas à mão transbordam de carisma, apresentam excelentes animações em todos os seus movimentos, e por vezes tal como vimos em Cris Tales -inclusive o estilo cartoonesco é essencialmente o mesmo-parece que jogamos uma série animada. Contudo, alguns inimigos são repetições, os únicos elementos que assistimos de diferente são as suas cores e tamanhos. Felizmente o mesmo não podemos dizer dos desafiantes bosses que são do mais variado.

    Como não podia deixar de ser, a banda-sonora de Tunche é ambientada em melodias tribais que nos transportam imediatamente para selvas e pequenas aldeias escondidas nas suas proximidades. Esta genial aventura apresenta diversos idiomas, nomeadamente textos localizados em português do Brasil para os nossos leitores do outro lado do oceano.

    A versão analisada para PC (Steam) não teve nenhum problema técnico. O jogou fluiu em resoluções 4K a 120 fotogramas, com impressionantes elementos visuais -como o desfoque nas luzes-, que embora sejam minimalistas contribuíram para produzir alguns efeitos visuais interessantes. O único senão foram alguns bugs dos inimigos que desaparecem da arena e temos de reiniciar o jogo, felizmente ficamos no mesmo sitio.

    Embora sejam minimalistas, Tunche possui interessantes efeitos visuais

    Tunche é uma aventura que honra a era dourada dos beat em ‘ups onde era comum reunirmos os nossos amigos ou familiares e distribuíamos bofetadas em tudo o que era arruaceiro nos ecrãs de televisão. Contudo, por ser uma aventura que retira elementos de roguelike pode afastar como aproximar jogadores consoante as perspetivas e abertura de cada um. Por estarmos diante de um jogo moldável, imediato e de fácil de pegar e largar, faz deste um sério candidato a ser adquirido pelos utilizadores da futura consola portátil Steam Deck, e mais uma razão porque precisa de uma atualização para permitir que mais jogadores desfrutem deste bom sabor da selva, que também nas suas arestas pincela um futuro negro se o ser humano não parar de destruir a fauna e flora que coabita no planeta azul, em troca de um capitalismo desenfreado. 

    Prós e Contras de Tunche:

     

     

    + Leque de personagens variado que se adequa ao perfil do jogador
    + Ambiente diferente e original
    + Jogabilidade evolutiva e moldável
    + Estilo visual fluido e cartoonesco
    + Localização em vários idiomas
    + Fácil de pegar e largar
    + Perfeito para a Steam Deck
    –  Repetição de inimigos
    –  Retificação de pequenos bugs
    –  História fragmentada
    –  Precisa desesperadamente de um Modo Co-op online

    Bruno Reis
    Bruno Reis
    Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.

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