Retronime – Samurai 7

Artigo da autoria de Bruno Reis.

O Retronime mostra-te um lado bem diferente e imaginativo dos 7 magníficos! Será que como a simbologia do seu número estamos diante de uma obra de perfeição ou de tragédia?

Num período histórico incerto, ocorreu uma grande guerra entre samurais que mecanizaram os seus corpos. Depois de anos tumultuosos este conflito chegou ao fim, e a população desfrutou de uma paz ligeira. Isto porque a mesma causou um impacto tremendo na humanidade e mesmo passados alguns anos alguns destes samurais mecânicos ainda caminham no planeta raptando, oprimindo e causando mais mortes. Face a estes acontecimentos Kirara, Komachi e Rikichi decidem procurar guerreiros para a proteção da vila de Kanna, pagando os seus serviços apenas com as colheitas precárias desta. Contra tudo e todos conseguem reunir um grupo de sete samurais muito carismáticos, experientes e mestres em diversas áreas.

Antes de mais convém referir que Samurai 7 é uma re-imaginação do clássico de Akira Kurosawa de mesmo nome, assim podem contar com algumas referências, factos e curiosidades ligando uma história a outra. A partida parece que estamos apenas diante uma versão animada, mas a mistura de elementos de ficção científica conseguem produzir e transmitir uma obra muito própria e incrivelmente multifacetada. O enredo embora pareça muito simples à primeira vista, rapidamente toma voos mais altos, sempre enriquecido com um elenco de personagens que produziram um efeito estranho no bom sentido, conseguiram ter tanto de familiar como de novidade. Todas as classes desde aldeões normais, a samurais excêntricos, cada uma destas personagens nestes grupos respira de independência quando comparado ao elevadíssimo elenco que não parou de aumentar de episódio a episódio. Cada tem um estilo de luta, roupas, filosofias e modos de agir bem diferentes uns dos outros conferindo uma identidade própria, um facto muito surpreendente ainda mais vindo de uma obra de moldes clássicos. Como se não fosse bastante as personagens sofrem um desenvolvimento acentuado, acrescentando profundidade não só na história como na sua psique, sempre mantendo um código de dever. Nem só de guerreiros vive Samurai 7, também somos brindados com o desenvolvimento de simples raparigas que não são sequer guerreiras, mas revelam muita bravura e coragem.

Muito escondidos também temos fatores sociais e históricos muito dignos da era retratada. Os Samurais lutam pela sua honra, os comerciantes procuram riqueza, e os bandidos que previamente foram guerreiros abandonaram a sua honra, tornando-se apenas meros servos dos comerciantes. Estes fatores sociais e históricos foram o pano de fundo de uma história rica em personagens, dramatismo, entrega e conteúdo. Uma das personagens que melhor exemplifica estes conceitos é Kyuzo. Mesmo a sua caracterização demonstra logo a partida de certa forma a “irreverencia” e abandono de moldes desta produção. Este é loiro, veste-se maioritariamente de vermelho e apenas aceita ajudar a defender a aldeia para lutar contra o calmo e estratega Kanbei num duelo mortal.

Outra personagem que também merece destaque é o divertido e poderoso Kikuchiyo que outrora foi um filho de camponeses, mas decidiu apagar o seu passado tornando-se num ser metálico e casando com Komachi quando esta crescer. Samurai 7 é uma obra muito coesa entre personagens e história sendo que a última se torna mais rica quando encaixamos o passado e motivações do elenco, contudo o seu desenvolvimento inicial é lento atingindo o seu climax um pouco tarde na minha opinião.

Samurai 7 foi uma obra produzida pelo estúdio Gonzo, realmente parece impossível algo tão trabalhado e meticulosamente orquestrado. Estamos diante de uma série acima da média para um estúdio mediano. Excelentes animações especialmente nos mechas e explosões, coreografias das lutas, cenários de encher o olho, e personagens que embora com uma arte agradável por vezes e muito inexplicavelmente atingem proporções um pouco estranhas. Também a mistura de 2D com 3D foi um pouco fora de contexto por vezes, talvez por ser uma obra experimental misturando CGI em ambientes 2D. No departamento sonoro as faixas foram muito bem empregues, como não podia deixar de ser, a semelhança de obras como Rurouni Kenshin transportam-nos imediatamente para o Japão feudal, sendo flautas, shamisens, e tambores os maiores integrantes. A Abertura é possivelmente o elemento menos clássico no departamento sonoro, o encerramento por si foi muito suave, melancólico e algo trágico.

Os 26 episódios de Samurai 7 estiveram exibição em 2006 na RTP 2 dobrados em Português. Não tenho um registo no singular, mas no geral o elenco foi bastante agradável e implementado. A obra também deixou um sentimento de saudade conquistando fãs dentro e fora do panorama anime.

Samurai 7 é um produto estranho no papel, a partida parece disfuncional e pouco digno do clássico de Kurosawa, no entanto quanto mais mergulhamos mais queremos descobri-lo. Uma série que mistura elementos clássicos, mecha, space opera, dramatismo e muita ação! Enquanto solidifica conceitos e personagens sem perder o seu rumo e identidade é digna de menção e respeito.

Artigo enviado pelo nosso leitor Bruno Reis. Podem enviar as vossas reviews para o email admin@otakupt.com.