Twin Mirror, é a mais recente aposta coproduzida pela Dontnod Entertainment e Shibuya Productions, editada pela Bandai Namco Entertainment. A Dontnod é um estúdio de desenvolvimento de videojogos, célebre por produzir obras narrativas muito humanas e de qualidade, à partida tudo aponta que Twin Mirror não fugiria a essa regra. Mas será que com alguns erros de percurso, este se equipara a outras grandes obras do estúdio francês? É o que veremos no decorrer desta análise.

A história de Twin Mirror, introduz-nos a Sam Higgs, um individuo que regressa à sua cidade natal para estar presente no velório do seu melhor amigo, Nick. No entanto, Sam não lamenta demasiado esta perda, o que lhe persegue é uma culpa interior quase inexplicável, e que vagueia pela sua mente. As cenas iniciais fluem na investigação e suspeitas da morte de Nick. Aparentemente este, foi vítima de um acidente de viação. No entanto, parece existir algo por explicar, e tudo rapidamente aponta para que este incidente seja um assassinato. Retirando uma página da célebre série Twin Peaks, o jogador irá encarnar Sam, e o seu espírito umas horas antes desta morte para descobrir o que realmente levou a tais desenvolvimentos. O início narrativamente é a parte mais interessante da história, pois somos apresentados a muitas personagens que partilham ou troçam das visões de Sam. No entanto, depois deste interessante início, o jogo narrativamente desce a pique, chegando a atingir pontos onde nos questionamos se este foi um jogo escrito e produzido pela própria Dontnod.

É notória a herança episódica da Dontnod, em Twin Mirror, neste caso a ausência desta. A história embora cative, é demasiado convulsa, talvez devido à natureza episódica ausente, e na qual este título estaria destinado. Também não é um jogo muito longo, foram precisas cerca de 8 horas para assistirmos à sua conclusão. Não nos interpretem mal, porque para muitos uma história breve, e agradável, é perfeita para intercalar no meio de jogos longos como Rpgs, ou de outro género. Twin Mirror, também apresentou um certo grau de familiaridade, embora não nos conseguimos enquadrar com nenhumas personagens, foi interessante caminhar pelas ruas da cidade de Basswood, enquanto explorávamos o seu quotidiano, as suas ambições, sonhos e desilusões, um valor que intrinsecamente atribuiu mais valor no aspeto humano e ao ecossistema do próprio jogo.

Twin Mirror, pode dar uma ideia de novidade para os jogadores mais veteranos, mas nada mais longe da realidade, pois não sai dos seus padrões e zonas de conforto. À semelhança de outros títulos narrativos do estúdio, também procuramos por pistas, enquanto assistimos a diversas cenas cinematográficas, interagimos com personagens e resolvemos quebra-cabeças bem simples, na verdade, muitos até são recorrentes de outras obras da série.

Contudo, com a adição do Mind Palace, o jogo introduz algumas mecânicas interessantes que separam a sua aventura das anteriores. Certos acontecimentos traduzem-se em cenas de investigação, nas quais, Sam deve reunir os seus pensamentos e investigar uma certa localização para exibir todas as variáveis ​​possíveis do mesmo. Desta forma, o jogador pode recriar a cena para assim descobrir a verdade que está lá escondida. Também em diversas ocasiões são apresentadas sequências metafóricas onde Sam deve escapar de um labirinto de espelhos, duplos de si próprio, e outros obstáculos no interior da sua convulsa mente. Além deste labirinto, desde muito cedo o seu espírito sussurra-lhe diversos acontecimentos, que podem ser conduzir a pistas, ou eventos. Cabe ao jogador encarar a sua veracidade, contudo nem tudo o que é dito se traduz em verdade. O que ouvimos, e certos eventos se forem conduzidos da maneira que o “fantasma” indica, podem levar a acontecimentos e consequentemente finais alternativos e perturbadores. A Dontnod neste capítulo parece ter retirado uma página do caderninho do célebre Hellblade, onde também nem tudo o que ouvimos pode ser verdade. Embora não seja tão neurótica e intensa, é igualmente perturbante, pela forma com que é introduzida no jogo e pela inquietação que transmite ao clima sobrenatural misterioso do jogo.

Infelizmente, não podemos enaltecer e sublinhar o destaque dos seus visuais. Mesmo sendo um jogo de PC, e consolas de próxima geração, o seu grafismo não inova. No nosso computador executamos o jogo no preset ULTRA, ou seja, sem quaisquer compromissos visuais. Aparte dos seus modelos de personagens e mundos espelhados muito interessantes, o resto não acompanha estes elementos e não atinge os ‘standards’ esperados na nova geração. As animações também poderiam ter sido melhor trabalhadas muitas delas são partilhadas entre npcs, e apresentam detalhes demasiado automáticos. Quanto ao som, podemos simplesmente dizer que cumpre os seus objetivos, como habitualmente a banda-sonora surge nos momentos com mais impacto, e os atores representam bem os papeis.

No final de contas, Twin Mirror, é uma aventura com demasiados altos e baixos, para se equiparar a outros sucessos do estúdio tais como Life is Strange, ou Tell me Why. A história embora cative, é previsível, e não inova em tandem com as suas personagens como o estúdio nos habituou. O que separa Twin Mirror, de outras experiências, é essencialmente o Mind Palace e o duplo de Sam. Porém, não nos parecem ser elementos o suficiente para recomendar a esta aventura a um preço tão elevado, pois infelizmente este foi um espelho que não refletiu o trabalho e empenho de um estúdio onde geralmente prima a qualidade narrativa.

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